domingo, 27 de dezembro de 2020

 

Um Natal um pouco diferente….

Como todos sabemos, a época natalícia é um momento para as famílias se juntarem e para desfrutarem a companhia uns dos outros. Contudo, devido à situação que estamos a viver, este ano, o Natal tem de ser realizado com algumas restrições.

Ao contrário dos outros anos, o nosso espírito natalício não está muito presente neste mês de dezembro. Devido à quarentena e a todas as limitações impostas, não tivemos a oportunidade de viver 2020 como os outros anos. A primavera foi passada em casa, assim como o verão, o outono e o inverno. As estações mudaram e nós nem nos apercebemos. Como muitos dizem, parece que o ano passou em 5 minutos. Desta forma, não ansiamos pelo Natal, tal como fazíamos nos anos anteriores em que contávamos os dias para que ele chegasse.

Contudo, não podíamos deixar que a pandemia arruinasse completamente esta época. Aos poucos e poucos fomo-nos habituando a esta nova realidade, procedendo a algumas alterações necessárias como cancelar os jantares de Natal das empresas e entre amigos, não passar tanto tempo nos centros comerciais, tentar fazer a ceia de natal com o menor número possível de pessoas e optar pelo método mais seguro, as videochamadas.

Neste último aspeto, a minha família não notou grande diferença. Já era costume passarmos o Natal apenas 5 pessoas e, no 25 de manhã, fazermos videochamada com os meus tios e primas para abrir os presentes e falar uns com os outros. Como ao longo do ano, a minha mãe, a minha irmã, os meus avós e eu pertencemos à mesma “bolha” e tomamos todas as precauções necessárias, celebramos o Natal todos juntos. Mantivemos o uso da máscara o maior tempo possível antes da ceia e colocamo-nos mais afastados à mesa.

Tal como faz parte da nossa tradição, o dia 24 não diferiu dos anos anteriores e continuou a ser um dia bastante atarefado, uma vez que toda a gente teve de ajudar na cozinha para fazer os doces e preparar tudo o que fosse necessário. Os doces de Natal não são tarefa fácil, levam bastante tempo na sua confeção mas é um tempo imprescindível e agradável passado em família.

No final do jantar de Natal, as nossas conversas à mesa deram lugar a gargalhadas recordando tempos passados e momentos vividos. Desfrutamos ainda de uns jogos de sociedade com muita diversão e risos que conseguiram alegrar a casa e manter as pessoas alerta.

Tal como se mantém na nossa tradição, nessa noite fomos dormir com a inquietação de, na manhã seguinte, abrir os presentes e realizar a tão esperada videochamada em família.

Como é habitual, o dia 26 foi dedicado à arrumação e às limpezas, tarefas necessárias após esta época festiva.

Mesmo dentro das circunstâncias que estamos a viver, o Natal foi uma forma de nos relembrarmos que ainda podemos desfrutar de bons momentos em família e que tempos melhores virão. A união é sempre uma forma de superar os obstáculos com os quais nos deparamos e com ela aprendemos novamente a sorrir para a vida.

E assim terminou, com a mesma rapidez com que começou, o Natal de 2020.

Matilde Carvalho (12ºC)


sábado, 26 de dezembro de 2020

 

Lar natalício

 A lareira crepita cintilante,

O ambiente é mágico e acolhedor.

Pela casa espalha-se um aroma

Doce, quente, macio, farto, místico.

No presépio, ao pé do pinheirinho,

O menino descansa nas palhinhas,

A estrela guia ilumina o senhor

E todos lhe damos graça e louvor.

A mesa tem doces tradicionais,

Jingle bells, jingle bells, jingle all the way...

Soa e embala as crianças alegres

E entusiasmadas com os presentes.

Família virtualmente reunida,

Corações que brotam imenso amor;

Mas, este ano, mais do que nunca, o Natal

É união, boa vontade e ajuda ao próximo.

 

                                               Marina Peixoto 12ºD

 

 

 

Dia de Natal

Não sei explicar porquê, mas sempre gostei deste poema de Pessoa. E penso.

Eu não estou só, mas sonho saudade. Eu tenho um lar, mas aqueles que o não têm?

                Natal... Na província neva.
                Nos lares aconchegados,
                Um sentimento conserva
                Os sentimentos passados.


                Coração oposto ao mundo,

                Como a família é verdade!
                Meu pensamento é profundo,
                Estou só e sonho saudade.

                E como é branca de graça
                A paisagem que não sei,
                Vista de trás da vidraça
                Do lar que nunca terei!

                Fernando Pessoa, in 'Poesias'

                                                               Rosa Sousa


 


Porque hoje é sábado, 26 de dezembro 

(e sábado passado também foi sábado - 19 de dezembro!)


Mais um dia de sábado doméstico: compras, a correr e até às 13 horas apenas. E nada de presentes!

À tarde, e como cá por casa os livros estão por todo o lado, comme par hasard, peguei no Diário XII de Miguel Torga e, curiosamente, a página em que abri tinha um poema em sintonia com o meu estado de espírito… muda.

Coimbra, 12 de Outubro de 1974

Se cantasse

Se cantasse, talvez o coração

Sossegasse no peito.

Mas vou perdendo o jeito

De cantar

A vida, devagar,

Leva-nos tudo,

E deixa-nos na boca o gosto de ser mudo

.

Miguel Torga, in Diário XII


Hoje, passado que está o Dia de Natal, o sábado de compras foi mais curto e tranquilo. Apenas pão fresco e os jornais do dia (que o computador e o tablet não substituem ainda!).

Na província não neva, mas está muito frio, o frio de dezembro, o frio da pandemia.

E a vacina? Uma nova esperança para dias mais calmos e calorosos? Para um abraço daqueles bem apertados? Um beijo repenicado? Um tête à tête?

Oxalá!

 Como sabem, esta interjeição, do árabe in xā llāẖ, "se Deus quiser" exprime o desejo muito forte de que certa coisa aconteça.

E eu quero, nós queremos que a vacina nos traga saúde, liberdade, normalidade; o fim da máscara, do confinamento, do sofrimento, em suma, desta maldita Covid - 19!

Rosa Sousa


quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

 

                                                                fotografia retirada de snpcultura



Era uma noite igual a todas as outras

                            até que deixou de o ser.

É Natal!



quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

(d)escrever o Natal 


Natal – um tempo de magia mas, acima de tudo, um tempo de escolhas: escolher os presentes, os doces para a ceia, a roupa que queremos usar, os jogos de família, as decorações da casa, e por aí fora. Neste ano atípico, cabe-nos a nós fazer uma outra escolha, bem mais séria: com quem / como vamos passar o Natal. Em anos anteriores, se nos dissessem que esta é uma escolha séria, a nossa resposta seria uma grande gargalhada; agora, é uma decisão que dá que pensar.

Penso que todos concordamos que o espírito natalício está, mais do que na ceia e na troca de presentes, na harmonia e na felicidade experienciadas entre aqueles que reunimos à mesa. E é esta reunião que, neste Natal, se pode traduzir nalgo bem mais trágico que as discussões de família ou as barrigadas de doces – doença e fatalidade. Embora este aparente ser um ponto de vista extremamente pessimista, há situações em que o pessimismo é necessário, como é o caso desta. É o pessimismo que nos faz repensar se devemos ou não colocar o espírito natalício à frente da saúde, e não só da nossa, mas de toda a Humanidade; é o pessimismo que nos faz prestar mais atenção às medidas de segurança que devemos levar a cabo nas festividades que se aproximam, ao invés de as ignorarmos “só por um dia ou dois”; é o pessimismo que nos faz pensar naqueles que combatem a pandemia na linha da frente, e que possivelmente terão de abdicar do seu Natal para salvar a vida de outros; é o pessimismo que nos faz refletir acerca das nossas decisões, e do modo como estas podem afetar irreversivelmente a nossa vida e a do próximo.

Nos Natais passados, diríamos que, acima de tudo o resto, o mais importante é passar o Natal com quem amamos; neste Natal, há que abrir uma exceção. Com toda a certeza que passar o Natal apenas com “os de casa” é profundamente desagradável mas, nesta época de compaixão, devemos pensar não só em nós e nos nossos, mas na sociedade enquanto um todo. De que nos vale reunirmo-nos com toda a nossa família se, uns dias depois, estivermos a sofrer ao pensar na saúde debilitada dos nossos parentes infetados? E os mais velhos? O que lhes acontecerá se contraírem o vírus? E se, após o Natal, tudo piorar e tivermos de voltar ao confinamento? O que acontece àqueles que não podem ficar em teletrabalho? E a economia, como vai ficar?

É certo que não podemos prever o que acontecerá no futuro, porém, podemos evitar uma tragédia maior do que a que vivemos. Para tal, é importante reduzirmos as presenças na nossa ceia natalícia apenas às daqueles com os quais convivemos diariamente. E não é por isso que o espírito natalício está arruinado: há que saber apreciar a presença dos que nos são próximos pois, por vezes, acabamos por nos esquecer do lugar importante que eles tomam nas nossas vidas.

Maria Fontão (12ºC)

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

 

Campanha Solidária de Natal

 

Diz-se, tradicionalmente, que o Natal é um tempo de partilha e de solidariedade.

A generosa resposta de todo o Agrupamento à Campanha Solidária de Natal é a prova de que as tradições continuam a ser, em todos os tempos e lugares, relevantes e significativas.

O resultado da campanha deste ano é a bonita expressão de uma comunidade educativa verdadeiramente atenta e solidária com aqueles que mais precisam, numa época que deve ser, para todos, independentemente das suas circunstâncias, marcada pela alegria, pelo amor e pela esperança.

Imbuídos deste espírito e com a colaboração de alunos, docentes e pessoal não docente do Agrupamento, acreditamos que os bens alimentares angariados levarão, seguramente, um pouco de conforto e alegria aos lares dos nossos alunos em situação mais precária. Foi possível, com o contributo e partilha generosa de muitos, constituir um número bastante significativo de cabazes, que começarão a ser distribuídos nos próximos dias.

Agradecemos a todos os que contribuíram para manter viva a tradição da partilha e da solidariedade, num Natal que, apesar de diferente, terá sempre o mesmo significado: a celebração da vida e dos laços de fraternidade que a todos nos unem.

 

                                                                            Fátima Casimiro

              Isabel Cunha

sábado, 19 de dezembro de 2020

 Eu e o Outro

O que dizem os nossos alunos sobre o relacionamento humano, interculturalidade, solidariedade, sobre a luta pelo bem comum? Foi o que quisemos saber quando, em resultado deste objetivo comum de Português e Cidadania, propusemos aos nossos alunos a produção de um texto individual em que dissertassem sobre estes tópicos.

Eis alguns bons fragmentos desses trabalhos.

Rosa Martins e Susana Lobo

 

 “Cada vez mais o mundo se mostra individualista. É cada um por si, como exemplificam os conflitos entre países, famílias, amigos…

Este mundo parece estar a tornar-se numa bomba-relógio, com tantos interesses individuais que geram conflitos.

(…) Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti! Poucas palavras da sabedoria popular, tão esquecidas mas tão importantes pela verdade que encerram! “

Catarina Soares, 11C

 

“Pelo que observo, o dinheiro move o mundo, torna as pessoas distantes, arrogantes e “torna falsos os amigos “, como lamentava Camões.

Um dos maiores equívocos que o Homem enfrenta é a noção errada de que somos protagonistas, quando temos de interiorizar que o mundo não é um filme com uma personagem principal, mas antes uma filmoteca com elencos variadíssimos, religiões, tons de pele, gastronomias, crenças, culturas distintas.

O Padre António Vieira deu-nos, no passado, o exemplo a seguir. Fez tudo para integrar o Outro, olhando-o como seu igual. Todavia, ainda hoje, infelizmente, os “peixes grandes” alimentam-se da fragilidade e ingenuidade dos “peixes pequenos”.

É importante equilibrar aquilo de que Eu e o Outro precisam. Esse equilíbrio nasce da reciprocidade e do respeito, da proximidade e intimidade, da partilha e do viver para o Outro, de um encontro entre aquilo que tenho e estou disposta a dar e do que quero e preciso receber, porque viver é ser Outro e para o Outro.

Alexandra Rebelo, 11C









Sentences about Human Rights Day

 

Last week we did some drawings about The Human Rights Day in the English classroom. It took three classes to finish the drawings, but they were amazing. It was very nice and we had a lot of fun doing them. Besides that, the importance of these work is enormous, because they are about  a very important topic: The Human Rights Day, and we think that it was a very good way to celebrate it.

 Miguel Correia 9ºD

 

Liberty is the best medicine.

Everyone has the right to vote

Always the truth

Think and believe 

                                            Eduardo Pinto 9ºD



The Human Rights Day was celebrated on 10th December, and the teacher suggested us this work.  We had to do some posters and drawings about this day and display them to all school, showing students how the Human Rights are so important.

At first the teacher showed us some videos and some drawings and sentences about the human rights for inspiration.

And then we were divided into some groups but obviously with all the care and distance among all of us. Some students made their work individually too.

Some of us made the title in cardboards with some drawings… other students made the drawings in smaller white papers and wrote an article … there were so many good ideas!!

The final product was amazing, everyone was creative and the works were all beautiful.

We enjoyed and learnt a lot in this work! The Human Rights are so important and we need to obey all of them to be good citizens and live in a healthy world!

 

Beatriz Sousa 9ºD

Constança Veloso 9ºD

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020


Desta vez, deixemo-nos visitar por Alberto Caeiro:

uma perspetiva do quotidiano sob o olhar de Caeiro.



Visão de Alberto Caeiro da atualidade

Meus caros amigos, vendo o Portugal que agora nos rodeia assim como o resto do mundo, fico com saudades do século passado.

Onde estão as florestas de árvores sem fim, os campos verdejantes, o gado e até os animais selvagens que encontrávamos no belo território português?

Que é feito da nossa natureza e da harmonia e calma que lhe estavam adjacentes?

Quando olho ao meu redor, apenas me deparo com esses pedaços de metal aos quais chamam telemóveis e que aparentemente são interessantes o suficiente para as pessoas perderem horas a interagir com esses pequenos ecrãs mágicos.

Na minha altura, as pessoas gastavam o seu tempo uns com os outros em contacto com a natureza. Desta forma, a gente era feliz e deixava que a serenidade que provinha de tudo que era natural nos invadisse e nos proporcionasse uma vida agradável.

Dizei-me vós agora como é que o mundo vive neste turbilhão?

Já ninguém passeia pelas ruas, tudo corre. Já ninguém conversa quando passa por alguém, não entendi muito bem, mas parece que agora se fala sozinho para um objeto misterioso que se coloca nas orelhas. Já ninguém apanha fruta fresca das árvores, preferem ir antes a grandes edifícios onde já está tudo embalado e sem qualquer sabor autêntico. Como é possível a população viver assim?

Pelo que constato, já ninguém sabe apreciar as simples coisas da vida.

Sem pequenos momentos como a degustação de uma maçã acabada de apanhar do pomar, uma caminhada pelo bosque, o sentir da chuva a cair levemente nas faces e o ouvir encantador dos pássaros a chilrear alegremente, como é que alguém consegue dizer o que é a realidade?

Só nestas ocasiões, quando nos deixamos invadir pelos sentidos, é que podemos compreender o que nos rodeia.

Infelizmente, penso que estas gerações de agora não dão a devida atenção à visão, ao paladar, à audição, ao tato e ao olfato. Elas preferem usar o pensamento e, para tal, são constantemente influenciadas pelo mar de informação que lhes é fornecida pelos novos dispositivos digitais. A meu ver, toda a gente está formatada para pensar da mesma maneira e para avaliar os acontecimentos através do pensamento e não da forma certa, que é ao utilizar as sensações.

O que mais me desconsola é ver a forma como tratam a natureza. Será que elas compreendem verdadeiramente a importância que esta tem nas nossas vidas? Vejamos o exemplo da poluição. Para qualquer lado que me vire, encontro este material tão nocivo para o meio ambiente. Aquele ao qual chamam “plástico” e utilizam para fabricar quase todos os objetos que existem, mas que, “ao fim e ao cabo”, não se sabem livrar dele, pois está todo no chão ou nos oceanos.

O meu desejo é que as pessoas encontrem o sentido para as suas vidas e que se apaixonem pela simplicidade dos momentos mais pequenos que, à primeira vista, podem parecer insignificantes, mas que fazem toda a diferença.

Temos de nos recordar que o facto de existirmos já é algo maravilhoso e tudo o que interessa é vivenciarmos o mundo através das sensações.

 Matilde Carvalho (12ºC)




Domingo, 15 de novembro de 2020

 

Em pleno século XXI, mais de cem anos depois da minha morte, cá estou eu, de volta a Lisboa. E não podia encontrar na Terra maior desgosto que este...

Achava eu que, com todas as geringonças deste Mundo moderno, me iria deparar com tanta coisa nova.... Imaginava os meus olhos sorrir, num momento de histeria e felicidade, numa explosão de sensações vívidas, enfim, que falta sentia eu da linda realidade! Mas qual não foi o meu espanto quando me deparei com uma cidade sem movimento, sem uma única alma deambulante. Tentei perceber o que se passava e encontrei meia dúzia de pessoas, todas com uns tapulhos estranhos na cara, o que me deixou ainda mais confuso – como haveria eu de apreender a realidade sem ver os rostos das pessoas, sem ver os seus sorrisos e sem sequer os conseguir ouvir, com aquelas coisas que lhes abafavam a voz? Andei mais algum tempo e vi, dentro de uma loja qualquer, um objeto retangular, onde passavam algumas imagens e se podia ler (passo a citar) “Notícias sobre o vírus”; logo percebi que há doença por aí à solta.

Bem, não podia ter escolhido pior altura para o meu regresso, mas, doenças à parte, já não reconheço a cidade onde vivi. Tudo parece cinzento, nada capta a minha atenção... No meu tempo, não havia melhor coisa do que deitar-me na relva, contemplar o Sol, as montanhas, as flores, enfim, sentir a realidade – nos dias de hoje, quase nem relva há! Só se vê carros, prédios, estradas, tudo a preto e branco (podiam, pelo menos, usar cores mais vivas, para enriquecer a paisagem), tudo igual, tudo sem vida. Como pode esta gente viver sem sentir a espontaneidade da Natureza?

Ah, estes dias de hoje... Mas pronto, lá me vou, que todo este pensamento me traz um maior desgosto ainda. Pode ser que, um dia destes, tudo mude e encontre a minha Lisboa mais parecida com aquela que deixei quando parti.

 

Caeiro

Maria Fontão (12ºC)



Cores

 

Este azul incolor

Que pinta um quadro no meu olhar

Acolhe a terra que eu sou,

Serpenteia o som das gotículas,

Fim do seu próprio fim.

 

Descanso inundado pelo verde,

O verde da paisagem,

Este verde que tinge uns cordões

Que atam um cérebro livre,

Vermelho do pensamento.

 

Mas dói a chama viva.

Ela surge, cresce, alastra, domina

A floresta dos que se deixam queimar

Por um mundo que não é o meu.

 

                                                      Fernão Veloso (12ºC)


terça-feira, 15 de dezembro de 2020

 

Os fins de semana continuam

a permitir ecos daquilo que vamos vivendo.



Porque hoje é sábado (12 de dezembro 2020)

Novamente a banalidade de um sábado de confinamento a partir das 13H.

Fazendo jus ao provérbio “depois da tempestade vem a bonança”, o dia amanheceu com luz, um sol fraquinho e pontuado de quando em quando com o chilreio de um passarinho.

Digno de reparo hoje, foi a forma lenta e compenetrada com que um senhor, sentado numa das mesas do café e aparentando mais de 70 anos, deslizava o dedo num telemóvel touch srceen. Questionei-me: seria Facebook? Jornal online? E porque estava ele com a máscara pendurada só numa orelha se o café já estava bebido?

Na padaria outro reparo a propósito do uso da máscara. Entra um senhor, sexagenário, sem ela colocada e o empregado, um rapaz novo, alerta-o. Resposta em tom agressivo, quase a rondar a ameaça “Já sei, já sei. Já vai!”. E foi com muita calma que retirou a máscara do bolso do casaco e a colocou.

Compreendendo o inusitado da medida e a dificuldade que é falar e respirar com tal adereço, custa-me a aceitar que estas pessoas se não dêem conta do risco que estão a criar para elas e para os outros…

Já em casa e à janela, observo o movimento de carros e de gente na entrada e saída do Braga Parque. Há compras para fazer, bem sei, mas a nossa saúde e bem-estar não serão prioritários?

Numa altura em que há máquinas para fazer tudo e que tudo (ou quase) se pode comprar feito, resolvo partir umas folhas de couve para o caldo verde. Aprendi que por estas bandas se diz segar as couves, mas eu continuo beirã dos quatro costados e minhota emprestada! E embora haja outro provérbio que diz “Em Roma sê romano”, no que toca à linguagem, certas palavras e expressões minhotas não conseguem entrar no meu vocabulário.

Voltando à verdura, foi com muito cuidado, com uma faca de cortar legumes não profissional e com a imagem da minha mãe e do meu pai a fazer esse trabalho, que parti, digo, seguei a couve galega.


Nota de 0 a 10?       

PS1: Já agora, na gíria gastronómica diz-se cortar a couve em juliana.

PS2- Embora eu goste mais de “meter a mão na massa” e só use as máquinas e embalados em situações especiais, não resisto a divulgar esta receita dos tempos modernos!

Bimby

Ingredientes

  • Azeite, a gosto
  • Alho em pó, a gosto
  • 250g de preparado para caldo verde (couve galega)
  • Manjericão, paprika  e pimenta preta a gosto

Preparação

  • Coloque o azeite no copo da Bimby e o alho em pó, programe 4 min | temp 100º C | vel 1
  • Junte o preparado para caldo verde (couve galega) e programe 5 min | temp 100º C | vel Colher Inversa
  • A meio tempo tempere com manjericão, paprika e pimenta.
  • Verifique se ficou cozida a couve e retire. Caso contrário programe mais alguns minutos à mesma temperatura.

Rosa Sousa




O inusitado quotidiano de demasiadas famílias.

 

Já nem sei bem quem sou… Contudo não duvido para onde vá!

Professora? Mãe? Mulher? Pasteleira? Amiga? Vizinha?

Anti – Covideira?

 

Pois bem, vejamos…

Alguém cá por casa queixa-se de dor de cabeça, apenas me ocorre o óbvio, aconselhar a medicação para a sinusite que está sempre presente quando isso acontece. Porém, uma hora depois já o Dito-Cujo sai de máscara aviada, direção Braga para realizar o teste à Covid-19, sendo que, no dia seguinte, a sentença cai: positivo!

Plim: mail da escola.

Nunca mais o vimos, só por videochamada, instalou-se no andar de cima, álcool gel numa mão, spray de lixívia na outra, já temo a overdose, até acho que entrou pela janela…

A partir desse momento, o primeiro andar virou central telefónica para todos os contactos recentes.

E nós cá em baixo?

Plim: mail classroom para o filho mais velho.

Começa a engrenagem SNS para a mãe, cartão de cidadão, número de segurança social, idade – já agora desde quando se pede a idade a uma Donzela como eu? – código daqui, senha dali, mais umas quantas questões. UFA! Já agora, tenho dois filhos comigo, que faço?

Bimba, novos telefonemas SNS, mais uma hora, novos códigos e senhas para cada um deles. Não me perguntem a quem pertencem todos esses benditos números que surgem no meu telemóvel, é que nem sou da área dos números!

Plim: - Professora, pode rever a passagem da segunda parte para a expressão oral?

Só me lembro daquelas pessoas sós, com alguma idade, que mal conseguem ver os números no telemóvel. Como conseguirão fazer estas chamadas? Ficamos em espera, marque 1, marque 2, vá tomar um café que volto já, marque 3, marque 4, que música horrorosa, um Vivaldi ou um Chopin, não?

Facto é que, dali a duas horas, sob chuva torrencial, estamos na Serra do Carvalho, os três de máscara, direção testes à COVID-19.

- Mãe, dói muito?

- Achas? Só sentes umas cócegas, nada demais.

- E a zaragatoa não chega ao cérebro?

- Era preciso que o tivesses Mano!

- Calem-se ou abandono-vos já aqui em pleno monte…

- Sim, sim, fugimos assim ao teste e apanhas-nos no teu regresso.

Plim: - Professora, pode voltar a explicar o que é livre arbítrio?

«Help! I need somebody!»

Passarei os pormenores dos testes, são apenas cócegas especiais…

No dia seguinte, após a delimitação de áreas estratégicas pela casa, régua, compasso e calculadora em punho, cai nova sentença, o petiz mais novo está, ele também infetado. Parece mentira, aquele que mais genica apresenta, sempre ligado à ficha.

E agora?

Agora, aproveita-se o Confinado de cima para proceder às dezenas de telefonemas/contactos pelo facto do pequenote ter testado positivo.

Trim-Trim: telefonema da Amiga A.

Quanto aos dois restantes, mãe e filho mais velho, apesar de ainda pequeno, começam a dividir as tarefas entre eles: cesto de roupas improvisadas para todos, casas de banho individuais, apenas partilhada para os negativos, louças para aqui, borrifadela álcool gel dacolá…

Problema Mãe: como jogamos à PS4 se não está na área do Mano?

Empurra sofá, desloca móvel, fita vermelha no chão…

Que susto, voa um avião de papel reciclado do andar de cima ensopado em desinfetante a pedir algo para comer dizendo que, se não padecer do vírus, morre à fome!

Trim-Trim: Telefonema da Amiga B.

Trim-Trim: Telefonema da Querida Colega da Escola que me ajuda tanto.

Calma, muita calma.

E a escola?

Trim-trim: Telefonema da Direção da minha escola.

- Vamos arranjar uma solução, não te preocupes!

Pois, no dia seguinte, os dois manos têm teste, os meus alunos têm aulas, supostamente comigo…

Telefonemas à direita, telefonemas à esquerda, copo de chá de limão com mel pelo meio.

Plim: questão dos alunos via classroom

Tudo se resolve. Aulas online, outra vez, não!

- Mãe, alguém tocou à campainha.

Dirijo-me ao portão: é a vizinha a trazer o papel da baixa. Trabalha no Centro de Saúde. Palavras de força, muito carinho e ânimo. Muito agradecida.

Dia de aulas:

Pequeno-almoço tomado. O Vizinho de cima já em limpezas matinais e desinfeções intensas, um maravilhoso cheiro a álcool gel paira no ar.

O filho positivo de tablet já a aguardar o teste de estudo do meio, muito nervoso porque não está ali a professora, na área vermelha, a cor foi mal escolhida, deveria ser verde; o filho negativo no seu recanto da copa, de classroom aberta e a maldizer das tarefas «para fazer» que os professores agendaram para aquela manhã, mesmo não tendo a disciplina naquele dia!?!

Os meus dois polos da pilha cá de casa, fantástico! E eu, com um simples:

- Meninos, portem-se bem, sejam responsáveis, felizes e cumpram com todas as vossas tarefas. Qualquer dúvida, façam videochamada com o pai que eu tenho aulas no escritório.

Plim: mail da Professora Titular, chegou o teste de Estudo do Meio.

Que susto, uma corda quão serpente curiosa, desliza pelas escadas abaixo com um cestinho feito de papel reciclado com um mini-cartaz a dizer: Não me toque, mas leia-me!

- Tenho fome!

Plim: horas da aula via meet/classroom.

Correria direção cozinha, preparação de um pequeno almoço frugal com entrega uber ao cimo das escadas e triplo salto para a cadeira do escritório. Grande sorriso, madeixas rebeldes viradas para trás, apesar de saber que continuarão sempre para a frente…

Plim: grupo do whatsapp – Professora, já podemos entrar?

Tenham a bondade, chove copiosamente lá fora, mas as janelas estão escancaradas, quem sabe se o vírus não estará farto de nós e decide ir dar um passeio.

- Bom dia turma! Como estão? É que deste lado só tenho acesso a uma parede branca.

- Vamos já professora, não se preocupe.

- Bom dia Colega, grata por estar daí desse lado a prestar-me apoio.

Câmara para a direita, olha vi o Paulo de telemóvel atrás da mochila, câmara para a esquerda, o José continua virado para trás à conversa… Não, que horror!

- Querida Raquel, mostra-me lá o quadro, por favor.

A minha cara em tamanho gigantesco na tela a dar a aula, até «Regresso ao futuro I, II e III» teriam maior sucesso, sem dúvida alguma.

Pondo de parte aquela visão aterradora, decidi ser eu, dar a aula, explicar o poema, refilar por causa das notas obtidas nos testes, ouvir as apresentações orais e tecer comentários o mais construtivos possíveis, pôr a Senhora Professora presente na sala ao barulho, solicitar-lhe opinião.

Não fossem alguns cortes e falhas da net, poderia até afirmar que foi uma aula normal.

Trim-Trim: Os Amigos C tocam à campainha para entregar umas natinhas e umas iguarias que jamais esperaríamos nesse momento. De coração cheio.

As aulas continuam. Outra turma, outra professora a apoiar-me, outros alunos a reagirem com a maior normalidade, como se já procedêssemos desta forma há décadas. Uma educação tremenda, um sentido de humor que permite quebrar o gelo do ecrã, a concentração no trabalho…

Não, não pensem que quero continuar confinada!

Quero poder retribuir a todos aqueles que me estão a dar: o respeito, a solidariedade, o carinho, a amizade, os sorrisos, os telefonemas, o empenho, a pseudo-normalidade, a sorte de continuar a trabalhar…

Quero poder ver a três dimensões sem óculos virtuais e, apesar de ainda não ter a possibilidade de distribuir aqueles abraços e aquele «toque» de que falava um aluno meu, quero voltar…

Plim: um vídeo no whatsapp no grupo família: o Dito-Cujo do andar de cima encenou uma atuação a cantar «Soltem o Prisioneiro, sou prisioneiro…»

                                                                                                                    Helena Bártolo


segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

 Amigo

Maior que o pensamento…

 

Afonso não respondeste à minha última mensagem, não era teu costume, e fiquei desapontado. Sempre foste rápido e habilidoso na resposta. Desta vez a resposta tardou...e eu temi. Fiquei agora a saber, pelo Zé, que não mais vais responder às minhas mensagens.  Deixas-me só neste exercício inútil de escrever mensagens sem resposta. Não perdi, apenas, uma mensagem perdi um amigo insubstituível como insubstituíveis são os grandes amigos. Não basta, para me confortar, o exercício de memória que faz com que os amigos se perpetuem maior ou menor seja o seu reinado. Há, na brasileira, uma mesa que não partilho mais e quando lá voltar vou pedir dois cafés um para mim outro para ti. Precisava de mais, de muito mais. Queria mais uma vez ver os teus projetos, esboços, que me confundiam, que me aturdiam, que tentavas em vão explicar-me, mas que invariavelmente davam certos. Nunca foste fácil se o teu caminho te mandatava “é por aqui”. Nunca cedeste à tentação do caminho fácil, ou do atalho próximo. Poder-te-ia dizer que a tua aposentação roubou à escola um grande pedaço de inspiração que nunca mais foi preenchido. Poder-te-ia dizer que lá deixaste um vazio e grande grupo de amigos que nunca te esquecerão. Mas tu, isso, já sabes.

 Fernando Castro



In memoriam Afonso



Rosa Sousa


sábado, 12 de dezembro de 2020


 Sobre a vida


Parece-me que continuamos equivocados, parece-me que pouco aprendemos.
Um vírus veio refrear a fúria dos dias e mostrar como somos suscetíveis a  ameaças repentinas e globais. Por um tempo pareceu parar-nos, levando-nos a refletir e a refrear as correrias diárias. Mas ficámos em casa e depressa quisemos sair. Lamentámos as vítimas e ainda mais depressa as esquecemos. Tememos o desconhecido para no segundo seguinte voltarmos ao egoísmo do "só acontece aos outros" (egoísta e enganoso pensamento)!
Afinal, mudámos o quê? Mudámos em quê? Pouco ou nada. Ainda não foi desta que nos recentramos. Ainda não foi suficientemente duro o embate...Ainda não assumimos a fragilidade da vida humana e a nossa insignificância face a um ténue fio que até um invisível vírus pode cortar. A vida é mesmo isto, uma caminhada incerta e suspensa. Mas ainda não o quisemos perceber, pois não? Parece-me que não. Parece que continuamos a querer viver o engano.

Rosa Maria Martins


sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

 











Primeiro foi a incredulidade. Muito doente, o Afonso?!!Depois veio a pior das notícias. A sua saída desta vida, deste palco…

Na tarde de ontem (5ªf, 10 de dezembro) chorei. Uma parte da noite passei-a a rever fotos, a reviver os tantos e tão maravilhosos dias, anos em que, sobretudo na escola secundária, conversámos, partilhámos leituras, turmas difíceis (ai aquele CEF!!), dificuldades com as Tic; assistimos ao desabrochar de talentos escondidos que só tu, sempre com grande perspicácia sabias descobrir  e com grande mestria e carinho, orientar e levar ao palco. Aos alunos ajudaste a ler, a dizer, a refletir, a memorizar, a corrigir, a insistir, a melhorar; a mim, a nós espetadores, a encher-nos o coração, a inquietar-nos também, a aplaudir de pé , a pedir  mais, mais.

Foi um gosto, um privilégio ter sido tua colega (sempre elétrica, dizias-me, com um sorriso irónico!), ter estado quase sempre nas estreias dos teus espetáculos e até em palco. “É o que eu lhe digo, o mar tem varandas…” Nunca mais esqueci este pequeno texto da Luísa Dacosta no ano de 1998, creio. Não esquecerei nunca a calma, a serenidade, a contenção, a gentileza e tantas outras qualidades demonstradas ao longo do nosso quotidiano na escola e na cidade de Braga.

Hoje fui despedir-me de ti. No caminho vieram-me à memória alguns versos de um poema de Paul Verlaine. Tomando-o por modelo, deixo-te o meu sentir, a minha tristeza.

“Il pleut dans la ville, comme il pleut dans mon coeur!

Até um dia num outro palco, Afonso.

Rosa Sousa



Aprender a ler, a saber estar, a interpretar, a saber ser são notas da pauta do teatro da Vida. E nas oficinas de teatro, o professor Afonso permitiu que tocássemos estas notas até compormos uma melodia e descobrir o belo, a Arte.

Foram muitas as aprendizagens e as alegrias experimentadas. Quase tantas como o nervosismo que antecedia o brilhantismo de cada apresentação com que nos brindava o “nosso maestro/encenador”. Sim. Teatro e música eram companheiros inseparáveis da poesia de cada texto. Defensor de que a beleza da vida reside em aprender a saborear cada momento sem desobedecer aos valores morais que nos são intrínsecos e de que há palavras que têm o canto inspirador da vida e que cabe a cada um de nós descobrir inspirou-nos muitas vezes.

Com talento transformou vivências, melhorou vidas, criou atores. Cada unidade de tempo vivida, particularmente nos ensaios, era uma coisa milagrosa que acontecia. E a aceitação do aprendido uma casta descoberta. Obrigada, Afonso.

Não tendo podido estar presente na tua despedida, estiveste presente nesta minha ausência…

Lurdes Silva



«O mar não é tão fundo que nos tire a vida...» Lembras-te, Afonso? Era assim, cantando, que eu começava a primeira apresentação que fizemos na nossa escola há 22 anos. E, ontem, pensei muito em ti. Nas nossas boas conversas, por vezes mais acesas, sobre as coisas importantes da vida. E pensava que, efectivamente, quando se entrega a vida como tu a entregaste nem o mar, nem o que quer que seja a tiram. Pois ela permanecerá em tantas vidas tocadas. Na memória de tantos momentos bons e belos. 

ps. Certamente, ao passar n'A Brasileira, olharei para a tua mesa e ver-te-ei, de lá, a olhar o mundo e a pensar como o (re)apresentar!

Margarida Corsino

 

Ao Afonso Fonseca

 

“Se é mesmo verdade o que os sábios nos dizem e se existe um lugar que nos acolhe (depois da morte), talvez o amigo que acreditamos extinto nos tenha apenas precedido.”

Séneca – “Cartas a Lucílio”

 

Nesta hora de perplexidades, de dor e consternação, onde as palavras acertadas para transmitir o que nos vai na alma parece que se escondem, acreditamos que o Afonso Fonseca está “em paz” e, naturalmente, confiamos que, onde quer que esteja, continuará rodeado de livros, de poesia, de arte, de teatro e sempre disponível para nos acompanhar nesta tarefa árdua de aturar o dia-a-dia, pois, tal como dizia Pessoa, "o valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis."

 Descansa em paz e até já!...

 José Ramos

 Porque hoje é sábado.

Sábado, 5 dezembro de 2020, sem covid e em Braga

Lembrei-me do comentário de um leitor no jornal Público que questionava a pertinência da coluna diária de Miguel Esteves Cardoso que assenta em deambulações mentais, devaneios, banalidades.

Pois bem, também eu hoje vou escrever sobre a minha vivência matinal neste 2º sábado de recolher obrigatório. Uma banalidade.

Despertada pelo telemóvel a horas decentes para as compras de fim de semana, resolvi virar-me para o outro lado da cama e preguiçar só mais cinco ou dez minutos.

A mente e o corpo traíram-me e despertei passava do meio-dia. Higiene à gato, roupa leve e quente, um pequeno almoço engolido à pressa, dois lanços de escadas descidas também à pressa e eis-me na rua.

Compro 1º os jornais na bomba de gasolina, depois peço pão e um café na padaria ao virar da esquina, um saco de água quente na loja dos trezentos depois de caminhar vinte ou trinta metros, carne e fruta no talho mesmo em frente e, por fim, peixe e legumes, três portas mais à frente.

Quem precisa de super ou hipermercados ?

Há muitos anos que tenho esta rotina. Em apenas duas ruas consigo ter à mão quase tudo o que preciso.  Antes da pandemia, com mais calma e sem máscara!

Volto para casa mesmo em cima das 13h. Olho para ambos os lados da rua e reparo que todas as lojas estão já fechadas. Na estrada passa um carro onde dantes os autocarros se fartavam de buzinar por causa do estacionamento em segunda fila. À minha frente, uma senhora caminha com compras e atrasada como eu. Começa a chuviscar. Apresso o passo e dou comigo a pensar como estamos a cumprir tão bem as restrições!

 Até quando?

Até quando a tolerância? Até quando o medo?

Com medo de causar um mal maior e depois de muito refletir, acabo de decidir não viajar no Natal. O calor da consoada vai ser pelo Skype.

Haverá um lugar à mesa para uma máquina. Abençoada seja, malgré tout!

Rosa Sousa