Decisão Histórica da ONU: 11 de junho passa a ser o dia Internacional do Brincar
Foi também
importante a participação das próprias crianças e jovens, através de inquéritos
e workshops, no apelo aos estados membros da ONU para apoiarem esta resolução.
Este ‘World Play Day’ é um evento celebrado em mais de
40 países do mundo, incluindo Portugal, que pretende lembrar que brincar é um
direito (artigo 31º da Convenção sobre os Direitos da Criança das Nações
Unidas) e uma alegria essencial para pessoas de todas as idades, não apenas
porque traz vantagens tanto pela diversão, como fomentando a educação, o
aumento da concentração, a criatividade e a convivência.
Apesar do ser uma das manifestações mais comuns da
infância, ela é muitas vezes negligenciada, com os pais a não terem tempo para
os filhos, com a crescente urbanização e perda de locais de brincadeiras, assim
como com a comercialização do brincar e o crescimento dos videojogos. Em certos
países, o brincar é até um acto interdito, sendo mesmo preterido pelo trabalho
infantil e pelo recrutamento de crianças para a guerra.
A UNICEF estima que 160 milhões de crianças em todo o
mundo estão a trabalhar em vez de brincar ou aprender.
É com enorme satisfação que, como o Professor
catedrático de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, Carlos Neto, me regozijo com esta
decisão da Assembleia Geral das
Nações Unidas.
Embora a figura do
professor e sobretudo as ideias que defende não tenham sido novidade, gostei de
o ouvir, no passado dia 22 de maio, no Theatro Club, como orador das Jornadas
da Educação e da Família: aprendendo, navegando e brincando juntos.
Para além do seu
entusiasmo e da sua natural forma de estar descontraída e jovial, o professor
foi lembrando o quanto é importante o ato de brincar e não apenas na infância.
Brincar é um
comportamento visível em todos os seres humanos, em todas as culturas e
latitudes. Brincar é ser ativo.
Com uma certa bonomia e
um toque de ironia frisou: brincar e ser ativo é o melhor antidepressivo que
existe, cura e é de borla!
Nos Estados Unidos o
remédio para a obesidade passa pela recomendação ”go out and play!”
Em quase 3 horas de
conversa em que ninguém deu pelo cansaço ou aborrecimento (ele é que precisou
de água e de pigarrear um pouco) elencou uma série de comportamentos negativos
e alertou para a necessidade de os corrigirmos, quer individualmente, quer colectivamente,
tanto na família, como na Escola e na sociedade.
Lembrou que os filhos
passam 50H na escola e que a maioria das crianças não tem 15 minutos de atenção
por parte dos pais ao fim do dia!
Não fazendo a apologia
da escola do Estado Novo, lembrou, no entanto, que a par havia a escola da rua,
hoje totalmente impraticável!
Na sua opinião, a
partir da década de 70, em Portugal, perdemos o brincar.
Hoje, 73% dos
portugueses com mais de 15 anos não se mexe!
A prática de Educação
Física na escola não é suficiente, pois a OMS recomenda 60 minutos de
actividade física por dia, 9 a 11h de sono (que poucos cumprem) e sobretudo
para as crianças, não estar mais de 2h por dia nos ecrãs ou mesmo tempo nenhum
até aos 2 anos de idade.
Entre muitos outros
dados, memórias, recomendações, exemplos de espaços públicos nas cidades pensados
para as crianças e para todos nós sermos mais felizes, enfatizou que brincar
não é um passatempo, brincar é fundamental para crescer e aprender, brincar é a
busca do prazer.
Ouçamo-lo e façamos, todos nós, mais exercício físico nos corredores ecológicos, nos jardins e brincadeiras, muitas brincadeiras!