quarta-feira, 25 de novembro de 2020

E fechamos a edição sobre o Modernimo...

Agradecemos todos os contributos e todas as leituras!

 

«NOTÍCIA DE ÚLTIMA HORA: 
Rendemo-nos, fechamos esta nossa última edição com uma certeza - o Modernismo vingará e será relembrado para todo o sempre, as tecnologias continuarão incessantemente a evoluir e o Futuro só a vós pertence!
Gratos por nos terem acompanhado nas nossas leituras nestes tempos conturbados, sentimo-nos obsoletos, também nós tentaremos renascer das nossas cinzas, com muito ainda para aprender com estes documentos que aqui partilhamos.»

Para ouvir o podcast aqui


segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Não restam dúvidas: 

o modernismo chegou mesmo!


Já não há retorno! Após o caos e as constantes reviravoltas que se têm vindo a viver pela capital e pelas grandes cidades do país, admitimo-lo! Decidimos ir ver uma vidente para que nos elucidasse acerca do futuro deste pseudo movimento modernista. Saímos de lá sem fôlego, a sua bola de cristal não só nos deu a conhecer uma carta secreta de Fernando Pessoa a uma namorada desconhecida chamada Íris, e não Íbis, como também nos facultou um quasi encontro de outra dimensão. Vislumbramos, na sua bola, um indivíduo vestido de forma muito estranha que parecia vir do futuro, um certo Rodrigo Gomes que tomava notas e conseguimos lê-las através da bola de cristal, preferimos nem dizer mais nada, demasiado assustador!
Teçam as vossas próprias opiniões.



Íris Castro (12ºB)





Modernismo: O futuro do passado

Modernismo… O que é isso? Um movimento cultural, pelo que entendi da aula. Se bem que a professora não nos deu muitos detalhes, realmente quis tornar isto um desafio para todos! “Escrevam sobre o Modernismo. Utilizem o formato textual que bem vos apetecer” disse… E agora, cada um que se desembarace como puder e souber. Sabendo eu que a maior parte dos trabalhos iriam ser uma imitação dos primeiros dez links que saltam à vista ao pesquisar o tema na internet, optei por fontes de informação mais seguras e originais. Resolvi ir à biblioteca da cidade. Há uma primeira vez para tudo, não é mesmo?!

Mal terminaram as aulas, dirigi-me ao tal local onde expõem os artefactos literários. Uma caminhada custosa, uns bons cinco quilómetros. Não havia ainda chegado a meio caminho, e o meu pensamento já remoía a ideia de ir para casa e retirar a informação da segunda página do Google, de forma a parecer menos óbvia a minha trapaça. Foi num destes momentos de introspeção e mesura de valores morais, que me distraí completamente do meu propósito com o que me parecia ser uma feira, mas bem longe do seu local habitual. Cresceu em mim uma inquietação incessante, aproximei-me. Quanto mais perto estava, mais me deslumbrava. Era tal e qual as feiras que se veem nos filmes americanos: inúmeras tendas com jogos, atrações e comida. Quase podia jurar que nada estava lá no dia anterior! Fui deambulando pelos corredores improvisados, comprei umas bolachas e bebi um sumo de laranja. Não tardou até estar perdido no meio de todo aquele alvoroço!

“Venha! Fuja daqui… vá para longe! “ouvi eu à distância. Parecia de propósito, não havia nada que eu mais quisesse naquele momento. Então, corri, seguindo a voz que eu supus ser a da “salvação”. Qual foi o meu espanto no momento em que percebi que não iria para longe no espaço, mas sim no tempo. Deparo-me com uma barraca com um cartaz que dizia: “Experiência de realidade virtual!!! 10€ apenas; levámo-lo ao passado ou ao futuro!”. Quase que me enganavam com a do futuro. Como seria possível ir ao futuro, se este ainda não aconteceu? Pois! Em contrapartida, intrigou-me a ideia de visitar o passado! Pensei logo se daria para “visitar” o tempo do Modernismo, porventura adiantar trabalho, já que estava a perder tempo na feira. Uma pequena procura no telemóvel e… zumba! Já está! O ano de 1922 vai servir, pertence à primeira metade do século XX. Entrei e pedi: “para 1922, Lisboa, por favor”. Estendi mão ao bolso e tirei uns muito poupados quinze euros, dos quais ainda sobraram sete, visto que consegui regatear um pouco com o indivíduo do balcão. Deram-me uns óculos especiais e uma espécie de luvas, penso. Não sabia para que serviriam, apenas que cheiravam um pouco mal, então mantive as mãos afastadas da cara. Enfiaram-me de seguida numa salinha, quase ao empurrão.

As luzes ligaram-se e lá estava eu, a grande Lisboa, a capital! Tive imediatamente a certeza de que “estava no passado”, a minha visão tinha mudado. Parecia um filtro vintage do Instagram, daqueles que os Influencers topo de gama usam sempre que vestem calças largas, ou seja, às segundas-feiras. À minha frente, empoleirava-se um quiosque, daqueles redondos, no meio da rua, com uns acabamentos dourados na cúpula. Bonito, de facto. Na parte do atendimento encastelavam-se cerca de uma dezena de revistas. Fui fazendo um novo monte com elas enquanto lia os headlines: “Modernismo: a nova cultura. A reexaminação do tudo e do todo!”; “O domínio moderno do real em relação ao subjetivo. A valorização da Razão!”; “A euforia do moderno: Modernização desmesurada causa ansiedade e conflitos na sociedade.”; “Autoconheça-se! Psicanálise freudiana: aceda aos confins da sua mente.”; “Pintura moderna: reveja a exposição “Humoristas e Modernistas” (Porto, 1915)”; “Francisco Franco de Sousa e Leopoldo de Almeida: escultores e arquitetos do nosso tempo; O Pavilhão Expositivo do Mundo Português e a Igreja de Nª Srª  de Fátima.” Dei por mim num mar de rosas. Estava ali tudo o que precisava para o trabalho, todas as vertentes do Modernismo, as suas caraterísticas e as pessoas que as representavam. Só não tinha o tempo necessário para ver todas as informações. Posto isto, tentei a minha sorte e peguei numa só revista para analisar com mais atenção. Era uma nova, de seu título: “Charles Baudelaire: o início da literatura moderna?”. Folheava e lia, até que um nome sobressaiu. O senhor Fernando Pessoa, o poeta que é fingidor, não mentiroso, que é um gato, uma criança, uma flor… ou que pelo menos o desejava. O artigo falava das primeiras publicações de Pessoa ortónimo na revista Orpheu, em 1915, e de como foram mal recebidas. Pobre homem moderno, foi dos primeiros! Esqueceu o passado, o ultrapassado, comprometeu-se com as experiências da vida moderna e publicou poemas complexos, difíceis demais para a sociedade retrógrada que o acompanhava.  Foi um inovador. E, de repente, tudo preto.

Durou tanto quanto oito euros puderam pagar. Retiraram-me da sala, devolvi o equipamento e saí da tenda. Durante algum tempo não consegui ver muito bem, devido à diferença das cores, mas rapidamente passou. Quem diria que um imprevisto viria a ser tão favorável, que me permitiria realizar um trabalho certamente moroso. Já sabia bastante sobre o Modernismo. Estava pronto a começar. Afinal de contas, a minha primeira visita à biblioteca não foi naquele dia. Rapidamente fui para casa e, enquanto tinha a memória fresca, escrevi…

 

Rodrigo Gomes (12ºB)

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

As informações continuam a chegar.

Hoje, publicamos uma carta e uma entrevista inéditas!  


Excelentíssimos leitores, já temos provas concretas do que temos vindo a afirmar, foi descoberta pelo nosso repórter Daniel Ramalho, uma carta escrita pelo próprio Fernando Pessoa ao seu fiel amigo Mário de Sá-carneiro. Tudo está a ser preparado, Além disso, após várias investidas ao lobo solitário que é Fernando Pessoa (Pedro Fernandes 12ºE), a nossa jornalista Fabiana Catarino (12ºE), em exclusividade para o nosso Jornal, conseguiu uma pequena entrevista. Já não há dúvidas possíveis: o Modernismo apodera-se da sociedade.



UMA CARTA INÉDITA A MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO

Lisboa, 2 de fevereiro de 1915

Meu querido Sá-Carneiro:

 

Há de ter estranhado o tempo que eu tenho levado para lhe escrever. É possível que se tenha, até, ofendido um pouco comigo. Peço-lhe, por amor de Deus, que o não faça. Eu vou explicar-lhe tudo, e a explicação é bem compreensível.

Eu tenho tido, com efeito, bastante que fazer. Tenho tido, é certo, várias pequenas causas a tomarem-me muitos pequenos bocados de tempo. O restante do meu tempo, tem sido empregue em um poema que tenho estado a escrever, para o qual gostaria de ter a sua imprescindível opinião, mas não só, há uma ideia, um visão, que não quer sair da minha mente, mas essa eu explico mais à frente.

 

Se estou só, quero não estar,

Se não estou, quero estar só,

Enfim, quero sempre estar

Da maneira que não estou.

 

Ser feliz é ser aquele.

E aquele não é feliz,

Porque pensa dentro dele

E não dentro do que eu quis.

 

A gente faz o que quer

Daquilo que não é nada,

Mas falha se o não fizer,

Fica perdido na estrada.

 

O que me diz o meu caro amigo?

A tormenta que tem lutado para não sair da minha mente é uma visão, uma vontade de rutura com os padrões e inovações. Por que razão não mudar tudo? Não podemos ficar presos ao passado. A sociedade precisa de uma nova cultura. Temos que a implantar e não vamos ser desconfiados, acredito que sejamos capazes de conseguir implementar esta nova ideia literária. Seremos precursores como Einstein e Freud e criaremos o nosso berço de nascimento para um Portugal moderno e voltado para um futuro audaz. No meio de tantas mudanças e inovações, não podemos ficar presos às glórias do passado, temos de tornar Portugal grande novamente.

O que me dizes, caro Sá-Carneiro, de instituirmos em conjunto uma revista literária como nunca antes vista em Portugal. Nem que tenhamos de ir e voltar ao mundo dos mortos, não cometendo, porém, o pecado fatal de Orfeu, de olhar para trás, temos de manter firme o nosso olhar para um futuro intrépido, contudo sempre glorioso.

 Orpheu, como denominação para a revista que espalhe esta nossa nova ideologia, parece-lhe bem? Não comente, marcaremos os espíritos…

Aguardando a sua resposta com a maior brevidade possível.

 

Fernando Pessoa 

 Daniel Ramalho (12ºB)



EM EXCLUSIVO

uma entrevista de Fabiana Catarino e Pedro Fernandes (12ºE)



Para ver e ouvir aqui.


segunda-feira, 16 de novembro de 2020

 

As informações continuam a chegar ao PB online.

Acompanhem-nas!


Cuidado, temos novas informações! Foram descobertos mais panfletos acerca desse movimento para o qual já vos alertamos. Protejam-se, evitem estas personagens, vamos-lhes desvendando os nomes e as caras. 
Estejam atentos, também se descobriram pelos recantos das cidades, de norte a sul de Portugal, umas pseudo bandas desenhadas que pensam poder suplantar a nossa informação. Não se deixem enganar, atirem logo com elas, não as leiam!


MODERNISMO
uma revista sob a direção de Margarida Mendes












Margarida Mendes (12ºB)







Luís Ferreira (12ºB)



domingo, 15 de novembro de 2020

 Durante estes próximos dias, acompanharemos um tempo novo!

O Modernismo invade Portugal.

As turmas 12ºB e 12ºE e a professora Helena Bártolo 

convidam-nos a acompanhar os testemunhos diretos de quem vive este momento.


Caros leitores, caros ouvintes, caros amigos. 
O caos parece ter-se instalado por terras lusitanas. Os folhetos da capital só já anunciam a chegada deste novo movimento, até recebemos queixas de empregadas de mesa.
Que se passará? 
Quem tiver mais informações poderá comunicar, o quanto antes, com a nossa agência. Não deixem que esta loucura ganhe força. Denunciem-na, o Modernismo não pode vingar!!!


Desabafos de uma empregada


                                                                                                                 Fernando Pessoa por Almada Negreiros
                                     

Faz precisamente hoje um ano que Fernando Pessoa aparenta ter-se mudado de malas e bagagens para aqui. Todos os dias, bem cedo, decide instalar-se na mesma mesa e pedir a previsível bica, que beberica enquanto me rabisca os guardanapos todos, não sei com que tinta, ... certamente que, de vez em quando, usa as borras do café. Já quase nem posso limpar as migalhas que faz, de tanto tempo que aqui passa.

Não consigo compreender, escreve, escreve, .... passa os dias a escrever, e o que publica, aqueles poemas, que raramente aparecem para apanhar a luz do dia, parece que nem sentido têm, são completamente indecifráveis. Que é feito dos escritores românticos que lia quando ainda era catraia? Que é feito dos livros onde o amor proibido estava constantemente presente? Onde estão os livros onde vários homens disputavam pela mesma mulher? Isso sim, eram coisas que valiam a pena ler, cativavam-me.

Pelo que dizem, este maluquinho guarda todos os pedacinhos de papel onde gatafunha aquela caligrafia horrorosa. Decerto que passando tanto tempo aqui, não deve haver espaço em sua casa para viver, no meio de tanta papelada.

Mas não é só ele, ele é um dos inconscientes que decidiram introduzir, no nosso país, esta nova corrente artística, a que chamam Modernismo.

Até os pintores, escultores e arquitetos aderiram, feitos macaquinhos de imitação, não bastavam os escritores, tiveram todos de ir atrás, em filinha indiana.

Os pintores, abandonaram o naturalismo e realismo, a que estava tão habituada. Trocaram as belas pinturas que retratavam a natureza (e que me transmitiam felicidade), os incríveis detalhes e a fidelidade ao real (tanto nos retratos, paisagens e cenas do quotidiano, ... tudo o que escolhiam transmitir nas suas telas) por críticas e denúncias sociais, políticas e do clero, que são representadas através de formas demasiado geométricas, não livres, que por vezes até me parecem forçadas, mas que aos entendidos transmitem movimento. No que toca ao seu preenchimento predominam as cores vibrantes, berrantes, ... cores que nem pensava que os pintores se atreveriam a utilizar. Mas, segundo eles, mudar é bom, e quando o decidem fazer viram tudo de patas para o ar e não querem saber do que as pessoas pensam.

Isto é vergonhoso, escandaloso até. Talvez começar este movimento tenha sido o maior erro que alguém já cometeu. Como é que há pessoas que apreciam este novo tipo de rabiscos retos, que se parecem com os gatafunhos de Pessoa? A continuar assim, nem quero imaginar como será a pintura, literatura e todas as formas de arte no tempo dos meus bisnetos, trinetos e por aí fora...

É um despautério, absurdo, saber que estes tipos de obras andam por aí a circular, mas ainda pior, é ter de vir trabalhar todos os dias ver estes quadros a preencher todos os recantos do café.

 Lisboa,

Rosângela Benevides

(e não sou nenhum heterónimo da Diana Amarante do 12ºB
mas sim uma simples empregada de mesa!)




A LUSITANIA , publicação de 12 de novembro de 1922
edição de Miguel Almeida 








Miguel Almeida (12ºB)





quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Fernando Pessoa tem estado presente nas aulas de Português do 12ºC. 

E tem sido bem recebido.

Aqui ficam algumas provas...



As pessoas de Fernando Pessoa

Neste cartoon estão apresentadas cinco figuras masculinas, de chapéu. No centro, está ilustrado um homem de fato, maior que os outros, a segurar uma mala por onde estão a sair as outras quatro figuras por fios. No lado esquerdo, está desenhado um homem de fato, sentado a escrever um livro de título “Livro do Desassossego” e um homem de jardineiras, com algo na boca e a segurar um báculo. No lado direito, observo o único homem sem bigode e outro sem óculos, mas com um monóculo e a escrever “Ode triunfal”.

Na minha opinião, este cartoon relaciona-se perfeitamente com Fernando Pessoa, na medida em que apresenta quatro dos seus heterónimos. A meu ver, o homem no centro deve representar o próprio Fernando Pessoa, uma vez que num documentário visto em aula aprendi que o autor ia para todos os lugares com uma arca cheia de folhas escritas por ele; logo, faz sentido que os seus heterónimos saiam de lá. O primeiro homem poderá simbolizar Bernardo Soares, um semi-heterónimo que escreveu o “Livro do Desassossego”. A segunda personagem poderá representar o poeta bucólico Alberto Caeiro, que terá nascido em 1889 e falecido em 1915, que viveu quase toda a sua vida no campo e redigiu os livros “O Guardador de Rebanhos”, “O Pastor Amoroso” e “Os Poemas Inconjuntos” e que foi considerado pelo próprio Pessoa como sendo o seu mestre. O primeiro homem do lado direito deverá retratar o poeta clássico Ricardo Reis, que nasceu em 1887, faleceu em 1936, foi discípulo de Alberto Caeiro, aparecia quando Fernando Pessoa estava cansado ou sonolento e que foi caracterizado por ele como “um pouco mais baixo, mais forte e seco que Caeiro e usando a cara rapada”. Por fim, a última figura poderá retratar Álvaro de Campos, que nasceu em 15 de outubro de 1890 às 13:30h, usava um monóculo, escreveu “Opiário” e “Ode triunfal” (como está representado no desenho) e foi o heterónimo que mostrou mais evolução nas correntes literárias, visto que passou por três fases: a decadência, a luz e a tristeza.

Portanto, todos eles podem ser identificados e reconhecidos no cartoon através de objetos e/ou elementos caracterizadores das suas personagens: Bernardo Soares pelo livro “Livro do desassossego”; Alberto Caeiro pela vestimenta de pastor e o báculo; Fernando Pessoa pela sua arca (ou mala); Ricardo Reis pela ausência de bigode e Álvaro de Campos pelo seu monóculo e o livro “Ode triunfal”.

Fernando Pessoa, nascido em 1888 e falecido em 1935, foi um poeta português de temperamento instável e depressivo, que não suportava ficar sozinho por imposição e que dedicou toda a sua vida a criar outras vidas.

cartoon e texto de Lara Araújo (12ºC)




Telma Oliveira (12ºC)




A Vida De Pessoa

Fernando Pessoa, poeta muito conhecido na literatura portuguesa, mas, tal como Cesário Verde, também não foi devidamente reconhecido no seu tempo.

No dia 13 de junho de 1888, dia de S. António, por volta das 15 horas, Fernando Pessoa nasce na cidade de Lisboa. Por ter nascido neste dia, teve como segundo nome António, sendo registado como, Fernando António de Nogueira Pessoa.

Durante anos, a vida do poeta foi uma constante mudança, mas o que não mudava era a sua obsessão pelas letras e a compulsividade de escrever. Podemos dizer que Fernando Pessoa tinha várias personalidades e para cada uma elas criava uma identidade dando-lhes vida. Porém, como a sua poesia não era admirada pelo público, Pessoa  teve vários empregos:  tradutor - a língua inglesa era praticamente a sua língua materna -, publicitário -criando, inclusive, o 1.º slogan publicitário para a venda da Coca-cola em Portugal: “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”.

Fernando Pessoa morre a 30 de novembro de 1935, no hospital de São Luís dos Franceses, em Lisboa, com o diagnóstico de Cirrose Hepática, mas, após a sua morte, o povo português apercebeu-se do tesouro que os seus poemas eram e, hoje, damos o devido valor e o devido respeito à sua obra literária.

 cartoon e texto de Mariana Gonçalves Oliveira (12ºC)



Fernando Pessoa – a minha autobiografia

Foi no dia 13 de junho de 1888 que eu, Fernando António Nogueira Pessoa, nasci. E não houve melhor dia do que esse, o de Santo António, padroeiro de Lisboa, o meu lar, a cidade que amei mais do que tudo. Modéstia à parte, acho que todos vós sabeis quem sou: Fernando Pessoa, sim, aquele escritor, aquele que inventou muitos escritores. Chega a ser irónico o meu apelido ser “Pessoa”: eu não sou só eu, eu sou muitos eus, muitas pessoas diferentes, bem diferentes, mas igualmente importantes. Afinal, quem seria eu sem os meus eus?

A “minha querida mamã”, Maria Madalena, nasceu nos Açores. Como foi ela quem me ensinou a escrever, nada mais justo do que lhe ter dedicado os meus primeiros versos, que redigi aos sete anos. O meu pai, Joaquim Pessoa, nasceu em Lisboa, mas não o conheci bem – a tuberculose levou-o quando eu tinha apenas cinco anos. Em 1896, a minha mãe e eu fomos para Durban, para o pé do meu padrasto, João Rosa, mas, nove anos depois, regressei a Lisboa, para não mais de lá sair. Era Lisboa que me inspirava, era Lisboa que me acolhia, no seu seio materno e caloroso. Aí, tentei abrir a empresa Íbis, que não durou mais de um ano, com a herança da minha falecida avó Dionísia (que sempre me assustou, com a sua mente conturbada).

O emprego com que fiquei foi o de correspondente estrangeiro em casas comerciais, vulgo, tradutor. E que rico emprego, que me dava tempo para escrever, escrever muito, escrever sobre a tragédia da existência, sobre a ilusão, sobre a vida, sobre a morte, enfim, escrever sobre o que me ia na alma. Escusado será dizer que escrever sempre foi a minha paixão. Por falar em paixões, namoradas só tive uma, Ofélia Queiroz. Era boa menina a Ofélinha, mas eu vim ao mundo para “ser sozinho”, como já dizia Álvaro de Campos num dos seus (ou dos meus) poemas.

Sozinho é como quem diz, só o era quando queria. Mudava muitas vezes de casa, sem esquecer a minha arca com os papéis onde escrevia, e tanto vivia sozinho como acompanhado. Amigos tinha muitos, gostava de trocar correspondência com eles, de ir aos cafés, ou, cá para nós, de lhes pedir algum dinheiro, quando o que tinha não chegava para as minhas coleções de roupa e de livros. Por muito que eu gostasse da minha própria companhia, custava-me vê-los partir, como foi o caso de Mário de Sá-Carneiro, que me deixou cedo demais.

Enfim, fui um homem pacato, modesto e sereno, mas bom humor não me faltava, nem mesmo durante as minhas crises depressivas. Morri em 1935, da forma como me sentia bem: sozinho, em Lisboa, vítima do álcool, que me acompanhou durante toda a minha vida. Deixei--vos muitas recordações, muitas folhas, muitas obras, muitas pessoas, que, em vida, não me deram o reconhecimento com o qual sempre sonhei. De mim, resta apenas a minha alma, que vos fala agora. A finitude humana não nos deixa ser nada se não isso mesmo: nada. O que importa é viver cada momento e não perder tempo com questões existenciais, que apenas nos trazem angústia, revolta e nada mais. Celebrai a vida: a felicidade está onde não a vemos.

Fontes: Casa Fernando Pessoa; reportagem Grandes Portugueses – Fernando Pessoa

Maria Fontão (12ºC)



Autobiografia de Fernando Pessoa

Nasci a 13 de junho de 1888, no dia de Santo António, padroeiro de Lisboa, do qual advém o meu nome, Fernando António Nogueira Pessoa.

Passei a minha infância com minha mãe, Maria Madalena Pinheiro Nogueira, que sabia falar francês, inglês e tocar vários instrumentos musicais. Meu pai, Joaquim de Seabra Pessoa, que escrevia críticas musicais, morreu numa madrugada de 1893, quando eu tinha apenas 5 anos, devido à fatal doença dos pulmões, também conhecida como tuberculose.

Pouco tempo depois, minha mãe volta a casar com o comandante João Miguel Rosa que posteriormente foi destacado na África do Sul como cônsul português em Durban. Foi por essa altura que nasceu o meu primeiro “eu”, Chevalier de Pas, que viria a fazer parte de “uma múltipla rede de muitos eus”.

Em 1896, a minha família e eu partimos para a nossa nova vida desconhecida em África.

Acredito que suplantei as expectativas que as pessoas tinham em relação à minha presença na escola, tendo atingido um alto nível de prestígio no meu percurso enquanto aluno. Sempre me inspirei nos mestres da literatura inglesa como Shakespeare, Edgar Allan Poe e John Milton. Durante a minha adolescência, estes grandes nomes proporcionaram-me um refúgio muito apreciado e estimado.

Quando chegou a altura de entrar para uma faculdade, decidi candidatar-me a Oxford ou Cambridge. Embora tivesse a nota de admissão mais alta, não obtive uma bolsa académica, porque não cumpria o mísero requisito de ter frequentado uma escola inglesa.

Depois deste acontecimento, decidi regressar definitivamente a Portugal com apenas 17 anos.

Ingressei no Curso Superior de Letras da Universidade de Lisboa, mas rapidamente desisti devido à falta de interesse que despertava em mim. Não era algo que me desafiava e, por essa mesma razão, não encontrei motivos para continuar.

Para mim, ser escritor não é uma profissão, é a minha forma de estar na vida. Enquanto dedicava parte do meu tempo a escrever poemas, decidi, também, começar a trabalhar como tradutor de correspondência comercial, ou como muitos chamam, "correspondente estrangeiro". Esta é uma ocupação magnífica uma vez que considero o inglês uma das minhas línguas principais.

Agora, que reflito sobre o meu passado, verifico que o meu lar é, na verdade, a cidade de Lisboa. Durante toda a minha vida, vivi em quartos e casas alugadas, sem assentar em lado algum. Para ser franco, apenas necessitava do meu baú e dos meus escritos.

O isolamento era imprescindível para a minha escrita, contudo não suportava quando este isolamento era imposto por outros - cabia à minha pessoa decidir quando seriam os meus momentos de solidão.

Enamorei-me por Ofélia Queiroz, mas, devido à minha personalidade tumultuosa e temperamental, não nos mantivemos juntos por muito tempo.

Ao longo dos anos, fui publicando alguns textos em revistas e jornais portugueses ou estrangeiros e comecei a idealizar os meus outros “eus”. Cuido que os mais emblemáticos tenham sido um trio: Alberto Caeiro, o poeta bucólico, Ricardo Reis, o poeta clássico, e Álvaro de Campos, o poeta da Modernidade.

Sempre que tinha oportunidade escrevia o que me vinha à cabeça, mas verifico que o momento predileto era a noite, enquanto redigia de pé.

Ao examinar a minha vida, constato que tive bons amigos que me acompanharam, tal como, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros, com os quais também, em tempos, trabalhei.

Muitos podem não saber, mas desenvolvi um grande interesse pela astrologia, sendo que dediquei algum do meu tempo à criação de horóscopos e cartas astrológicas.

Sei que é um mau hábito, porém desfruto regularmente de um bom tabaco e absinto para me ajudar a escrever e a ultrapassar os dias mais difíceis.

É com grande pesar que me despeço, nestes momentos finais da minha existência, da pátria que me amparou durante toda a minha vida. Hoje, dia 30 de novembro de 1935, parto com uma mensagem final: "I know not what tomorrow will bring".

Matilde Carvalho (12ºC)