quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

O “Livro do Desassossego” a sossegar os alunos do 12.ºA

Alunos à descoberta das principais marcas de “O Livro do Desassossego”, de Bernardo Soares, procuraram, numa ordem que não existe, ordenar o seu pensamento e caminharam do não-livro ao fragmento, do fragmento à frase:

Viver-se é viver, dizer-se é sobreviver.

Assim organizar a nossa vida que ela seja para os outros o mistério que quem melhor nos conheça apenas nos desconheça de mais perto que os outros.

Já não trabalhamos recriamo-nos com o assunto a que estamos condenados.

Vivo mais porque vivo maior.

Vivo sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já o não 
tenho.

A única atitude digna de um homem superior é o persistir tenaz de uma atividade que se reconhece inútil.

A verdade é, portanto, uma ideia com sensação nossa, sem significado, portanto sem valor, como qualquer outra sensação nossa.

E tudo o que alegra não sinto.

Ser puro, não para ser nobre, ou para ser forte, mas para ser si próprio. Quem dá amor perde amor.

Não sei o que quero ou que não quero. Deixei de saber querer, saber como se quer, de saber as emoções ou pensamentos com que ordinariamente se conhece que estamos querendo, ou querendo querer.

Ocorrem com um brilho de farol distante todas as soluções com a imaginação é melhor – o suicídio, a fuga, a renúncia, os grandes gestos da aristocracia da individualidade, o capa e espada das existências sem balcão.

Ópio tenho-o eu na alma.

Tudo me cansa, mesmo o que não me cansa. A minha alegria é tão dolorosa como a minha dor.

Ninguém me quis acreditar, nem por mentiroso, e não tinha lado com que provasse a minha verdade.

Sê a noite total, torna-te a noite única e que tudo eu me perca e me esqueça em ti e que os meus sonhos brilhem, estrelas, no teu corpo de distância e negação.

Mais terrível do que qualquer muro, pus grades altíssimas a demarcar o jardim do meu ser, de modo que, vendo perfeitamente os outros, perfeitissimamente eu os excluo e mantenho outros.

A vitalidade recupera e me anima. Os mortos ficam enterrados. As perdas ficam perdidas.

A ladeira leva ao moinho, mas o esforço não leva a nada.

O amor farta ou desilude.

Quem outro seria eu se me tivessem dado carinho do que vem desde o ventre até aos beijos na cara pequena?

Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre que senti.

As coisas sonhadas só têm o lado de cá... Não se lhes pode ver o outro lado... Não se pode andar à roda delas... O mal das coisas da vida é que as podemos ir olhando por todos os lados.

As coisas de sonho só têm o lado que vemos...

No fundo o que acontece é que faço dos outros o meu sonho.