sábado, 14 de junho de 2025

A evolução da Humanidade: 100 anos de história e as lições que nos deixou

 

Nem sempre nos parecem fáceis as ligações entre passado e presente, mas de facto, eles estão inevitavelmente interligados. Atualmente observamos bastante ceticismo em relação a muitos acontecimentos históricos, mas, uma coisa é o facto que aconteceu e outra, bem diferente, são as interpretações que dele são feitas, umas mais válidas que outras. Mas o mais preocupante é a perspetiva de que o progresso e a evolução da Humanidade são lineares. Esta afirmação é falsa e tentarei demonstrar isso através desta síntese. O que será que mudou e permaneceu nos últimos 100 anos e de que forma?

Neste enquadramento temporal, a primeira mudança que eu considero importante foi a refutação da teoria positivista. No século XIX, as significativas descobertas em termos do conhecimento científico e os avanços da medicina trouxeram um sentimento extremo de otimismo para o futuro. Esta ideia de que o futuro é previsível e o progresso é contínuo, entrou em colapso com o desencadear da Primeira Guerra Mundial (A Grande Guerra), iniciada em 1914. Tendo esta envolvido todos os continentes, foi uma guerra total, mas piores foram os seus efeitos. O grau de miséria, a fome intensa durante e após, os milhões de mortos, quer civis, quer militares, falam por si. Quando falo deste tema gosto de referir o Tratado de Versalhes que responsabilizou a Alemanha pela guerra e não só a obrigou a assinar o acordo como também a pagar reparações de guerra cujo valor era subjetivo e pouco claro. A falta de transparência que houve nestas cimeiras da paz em 1919, tendo em conta que este conflito terminou em 1918 com o Armistício de Compiègne, ainda permanece atualmente nas relações políticas entre países.  Vejamos o seguinte exemplo: Donald Trump e o líder Russo, encontram-se na Arábia Saudita para decidir o futuro da Ucrânia, sem uma das partes fundamentais: a Ucrânia.

Após a Grande Guerra, algumas mudanças foram feitas, desde o surgimento de vanguardas artísticas, a emancipação feminina, embora limitada, mudanças nos costumes e a proliferação de regimes democráticos.

Com o fracasso da Sociedade das Nações em manter a paz repete-se um novo conflito à escala mundial (1939-1945). Com a existência de confrontos ideológicos entre os totalitarismos e as democracias liberais, esta ultrapassa, em termos éticos e morais, a primeira. Quando Hitler em 1933 chegou ao poder e começou a intolerância, com as minorias, considerando apenas legitima a raça Ariana, lança as bases para o que veio a surgir - a Solução Final, levada a cabo no Holocausto. Esta intolerância ainda persiste na atualidade e é evidente nos partidos extremistas que são contra os ciganos, os árabes e, de forma generalizada, os imigrantes. Da mesma forma que Hitler foi eleito democraticamente, atualmente está a ocorrer o mesmo com partidos populistas que devido a astuciosas manobras e aproveitamento das redes sociais conseguem um grande número de votos.

Enquanto que após ambos os conflitos mundiais, os EUA apoiaram a Europa financeiramente (Ex.O Plano de Marshall, anunciado em 1947), o atual Presidente dos Estados Unidos da América acusa a União Europeia (UE) de ser um projeto com o propósito de destruir os EUA e de não garantir a paz nem a voz das pequenas nações em termos internacionais e com esse argumento, impõe tarifas comerciais aos Estados-membros da UE. No caso de Trump não há dúvidas: a América vem primeiro, mesmo que o país, apesar da grande margem de consumo interno, dependa fortemente das exportações para o PIB.

Da mesma forma que em 1929 com o Crash da Bolsa de Wall Street, ocorreu uma enorme crise económica, cujos efeitos foram esmagadores, atualmente devido à globalização e à interdependência dos mercados, qualquer pandemia e crise dissemina-se muito rapidamente e faz sentir-se de forma violenta nos quatro cantos do mundo, como foi o exemplo da Covid-19. Os ciclos de recessão e de prosperidade dos EUA repercutem-se rapidamente no mundo.

Nos nossos dias, a ONU, assim como a Sociedade das Nações no passado, enfrenta desafios, mas é uma organização essencial e temos visto resultados que o comprovam.  No entanto, a existência de alguns membros permanentes no Conselho de Segurança inviabiliza a aprovação de resoluções, pois estão mais preocupados com os seus próprios interesses do que com a paz e com o bem comum, sempre foi assim e será sempre uma continuidade.

Em 1945, Portugal manteve-se autoritário enquanto na Europa se assistia à queda dos fascismos. O mesmo aconteceu com as descolonizações que no caso Português, em particular, resultaram em guerras sem sentido que enfraqueceram economicamente o país e que podiam ter sido totalmente evitadas, bem como o número trágico de vítimas mortais e de incapacitados. Estas tendências imperialistas/colonialistas mantêm-se, vejamos os casos de invasão da Ucrânia pela Federação Russa ou as pretensões à Groenlândia, por parte da presidência norte-americana.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a Europa saiu destruída e perdeu definitivamente a sua supremacia no mundo que mantinha desde o século XIX. Dá-se assim início à Guerra Fria: dois blocos antagónicos, o bloco ocidental (liderado pelos EUA) que defendia as democracias liberais e o liberalismo económico e o bloco de Leste (liderado pela URSS) que defendia o comunismo e a planificação da economia. Com o fim do período da Guerra Fria e do Bipolarismo, reforçou-se a hegemonia dos EUA, a partir de 1991, mas logo surgem novos pólos económicos. Um desses pólos é a China que mantendo o comunismo a nível interno, criou um sistema alternativo - o socialismo de mercado, abrindo-se à economia de mercado a nível externo.

Em Portugal, a maior mudança foi a Revolução do 25 de Abril de 1974 e a democratização do país que levou à atual constituição, aprovada em 1976 e que apesar de várias revisões permanece a mesma e com ela aderimos à UE.

Hoje, a UE continua a garantir o respeito pelos Direitos Humanos cuja declaração surgiu em 1948, que apesar das atrocidades das guerras e das várias tensões religiosas, nacionalistas e pluriétnicas que ainda permanecem nos nossos dias, continuam a ser os ideais da UE. Outra permanência é que o continente Africano sofre ainda as consequências do colonialismo, evidentes no caminho do desenvolvimento de todos os seus países. 

 Foi também a partir do fim da Guerra Fria que proliferaram os grupos e países com posse de armamento nuclear, principalmente no Oriente e um aumento significativo dos grupos extremistas islâmicos e que hoje desafiam a segurança a nível mundial. 

A preocupação com o ambiente, uma enorme alteração dos dias de hoje, que tem sensibilizado vários ativistas como a Sueca Greta Thunberg, assume-se como uma das causas que mais nos mobiliza como jovens. No entanto, o ceticismo relativamente às alterações climáticas por parte de líderes políticos aumentou e tem-se tornado um enorme entrave à mudança. 

Foram, de facto, os avanços tecnológicos que permitiram a globalização, no entanto, permanecem desigualdades no acesso às TIC.

A UE continua a ser um projeto único e por isso, original e Portugal, ao integrá-lo em 1986, tirou proveito para o desenvolvimento económico do país, com os maciços investimentos nas infraestruturas, no setor da saúde e da educação entre muitos outros, contribuindo para a diminuição do analfabetismo. No entanto, atualmente outros obstáculos persistem: não existe no nosso país, na atualidade, falta de acesso à informação, pois rapidamente pesquisamos na internet e encontramos respostas e temos o ensino obrigatório até aos 18 anos. Esperava-se assim, dotar as futuras gerações com espírito crítico, aumentar a produtividade e, de certa forma, contribuir para a valorização da ética, para o cumprimento das leis, para o respeito pelos Direitos Humanos e pela diversidade que seriam características de uma população mais instruída. Mas tal não se está a verificar e isso prova que a evolução da Humanidade não é linear, mas muito complexa. 

Apesar das crises e conflitos do passado, a Humanidade tem mostrado capacidade de superação (por exemplo a atual relação entre a França e a Alemanha desde a criação da CECA em 1951). Com diálogo, cooperação e respeito entre os povos, é possível construir um futuro melhor. Aprender com a história e valorizar a sua aprendizagem nas escolas e outras instituições de formação, é a meu ver, o primeiro passo para garantir a paz e a justiça no mundo.

Simone Marques, 12.º D