Nem sempre
nos parecem fáceis as ligações entre passado e presente, mas de facto, eles
estão inevitavelmente interligados. Atualmente observamos bastante ceticismo em
relação a muitos acontecimentos históricos, mas, uma coisa é o facto que
aconteceu e outra, bem diferente, são as interpretações que dele são feitas,
umas mais válidas que outras. Mas o mais preocupante é a perspetiva de que o
progresso e a evolução da Humanidade são lineares. Esta afirmação é falsa e
tentarei demonstrar isso através desta síntese. O que será que mudou e
permaneceu nos últimos 100 anos e de que forma?
Neste
enquadramento temporal, a primeira mudança que eu considero importante foi a
refutação da teoria positivista. No século XIX, as significativas descobertas
em termos do conhecimento científico e os avanços da medicina trouxeram um
sentimento extremo de otimismo para o futuro. Esta ideia de que o futuro é
previsível e o progresso é contínuo, entrou em colapso com o desencadear da
Primeira Guerra Mundial (A Grande Guerra), iniciada em 1914. Tendo esta
envolvido todos os continentes, foi uma guerra total, mas piores foram os seus
efeitos. O grau de miséria, a fome intensa durante e após, os milhões de
mortos, quer civis, quer militares, falam por si. Quando falo deste tema gosto
de referir o Tratado de Versalhes que responsabilizou a Alemanha pela guerra e
não só a obrigou a assinar o acordo como também a pagar reparações de guerra
cujo valor era subjetivo e pouco claro. A falta de transparência que houve
nestas cimeiras da paz em 1919, tendo em conta que este conflito terminou em
1918 com o Armistício de
Compiègne, ainda permanece atualmente nas relações políticas entre países. Vejamos o seguinte exemplo: Donald Trump e o
líder Russo, encontram-se na Arábia Saudita para decidir o futuro da Ucrânia,
sem uma das partes fundamentais: a Ucrânia.
Após a Grande Guerra, algumas mudanças foram feitas,
desde o surgimento de vanguardas artísticas, a emancipação feminina, embora
limitada, mudanças nos costumes e a proliferação de regimes democráticos.
Com o fracasso da Sociedade das Nações em manter a
paz repete-se um novo conflito à escala mundial (1939-1945). Com a existência
de confrontos ideológicos entre os totalitarismos e as democracias liberais,
esta ultrapassa, em termos éticos e morais, a primeira. Quando Hitler em 1933
chegou ao poder e começou a intolerância, com as minorias, considerando apenas legitima
a raça Ariana, lança as bases para o que veio a surgir - a Solução Final,
levada a cabo no Holocausto. Esta intolerância ainda persiste na atualidade e é
evidente nos partidos extremistas que são contra os ciganos, os árabes e, de
forma generalizada, os imigrantes. Da mesma forma que Hitler foi eleito
democraticamente, atualmente está a ocorrer o mesmo com partidos populistas que
devido a astuciosas manobras e aproveitamento das redes sociais conseguem um
grande número de votos.
Enquanto que após ambos os conflitos mundiais, os
EUA apoiaram a Europa financeiramente (Ex.O Plano de Marshall, anunciado em
1947), o atual Presidente dos Estados Unidos da América acusa a União Europeia
(UE) de ser um projeto com o propósito de destruir os EUA e de não garantir a
paz nem a voz das pequenas nações em termos internacionais e com esse
argumento, impõe tarifas comerciais aos Estados-membros da UE. No caso de Trump
não há dúvidas: a América vem primeiro, mesmo que o país, apesar da grande
margem de consumo interno, dependa fortemente das exportações para o PIB.
Da mesma forma que em 1929 com o Crash da Bolsa de
Wall Street, ocorreu uma enorme crise económica, cujos efeitos foram
esmagadores, atualmente devido à globalização e à interdependência dos
mercados, qualquer pandemia e crise dissemina-se muito rapidamente e faz sentir-se
de forma violenta nos quatro cantos do mundo, como foi o exemplo da Covid-19.
Os ciclos de recessão e de prosperidade dos EUA repercutem-se rapidamente no
mundo.
Nos nossos dias, a ONU, assim como a Sociedade das
Nações no passado, enfrenta desafios, mas é uma organização essencial e temos
visto resultados que o comprovam. No
entanto, a existência de alguns membros permanentes no Conselho de Segurança
inviabiliza a aprovação de resoluções, pois estão mais preocupados com os seus
próprios interesses do que com a paz e com o bem comum, sempre foi assim e será
sempre uma continuidade.
Em 1945, Portugal manteve-se autoritário enquanto na
Europa se assistia à queda dos fascismos. O mesmo aconteceu com as
descolonizações que no caso Português, em particular, resultaram em guerras sem
sentido que enfraqueceram economicamente o país e que podiam ter sido
totalmente evitadas, bem como o número trágico de vítimas mortais e de
incapacitados. Estas tendências imperialistas/colonialistas mantêm-se, vejamos
os casos de invasão da Ucrânia pela Federação Russa ou as pretensões à
Groenlândia, por parte da presidência norte-americana.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a Europa saiu
destruída e perdeu definitivamente a sua supremacia no mundo que mantinha desde
o século XIX. Dá-se assim início à Guerra Fria: dois blocos antagónicos, o
bloco ocidental (liderado pelos EUA) que defendia as democracias liberais e o
liberalismo económico e o bloco de Leste (liderado pela URSS) que defendia o
comunismo e a planificação da economia. Com o fim do período da Guerra Fria e
do Bipolarismo, reforçou-se a hegemonia dos EUA, a partir de 1991, mas logo
surgem novos pólos económicos. Um desses pólos é a China que mantendo o
comunismo a nível interno, criou um sistema alternativo - o socialismo de
mercado, abrindo-se à economia de mercado a nível externo.
Em Portugal, a maior mudança foi a Revolução do 25
de Abril de 1974 e a democratização do país que levou à atual constituição,
aprovada em 1976 e que apesar de várias revisões permanece a mesma e com ela
aderimos à UE.
Hoje, a UE
continua a garantir o
respeito pelos Direitos Humanos cuja declaração surgiu em 1948, que apesar das
atrocidades das guerras e das várias tensões religiosas, nacionalistas e
pluriétnicas que ainda permanecem nos nossos dias, continuam a ser os ideais da
UE. Outra permanência é que o continente Africano sofre ainda as consequências
do colonialismo, evidentes no caminho do desenvolvimento de todos os seus
países.
Foi também a
partir do fim da Guerra Fria que proliferaram os grupos e países com posse de
armamento nuclear, principalmente no Oriente e um aumento significativo dos grupos
extremistas islâmicos e que hoje desafiam a segurança a nível mundial.
A preocupação com o ambiente, uma enorme alteração
dos dias de hoje, que tem sensibilizado vários ativistas como a Sueca Greta
Thunberg, assume-se como uma das causas que mais nos mobiliza como jovens. No
entanto, o ceticismo relativamente às alterações climáticas por parte de
líderes políticos aumentou e tem-se tornado um enorme entrave à mudança.
Foram, de facto, os avanços tecnológicos que
permitiram a globalização, no entanto, permanecem desigualdades no acesso às
TIC.
A UE continua
a ser um projeto único e por isso, original e Portugal, ao integrá-lo em 1986, tirou
proveito para o desenvolvimento económico do país, com os maciços investimentos
nas infraestruturas, no setor da saúde e da educação entre muitos outros,
contribuindo para a diminuição do analfabetismo. No entanto, atualmente outros
obstáculos persistem: não existe no nosso país, na atualidade, falta de acesso
à informação, pois rapidamente pesquisamos na internet e encontramos respostas
e temos o ensino obrigatório até aos 18 anos. Esperava-se assim, dotar as
futuras gerações com espírito crítico, aumentar a produtividade e, de
certa forma, contribuir para a valorização da ética, para o cumprimento das
leis, para o respeito pelos Direitos Humanos e pela diversidade que seriam
características de uma população mais instruída. Mas tal não se está a verificar e isso prova que a
evolução da Humanidade não é linear, mas muito complexa.
Apesar das crises e conflitos do passado, a
Humanidade tem mostrado capacidade de superação (por exemplo a atual relação
entre a França e a Alemanha desde a criação da CECA em 1951). Com diálogo,
cooperação e respeito entre os povos, é possível construir um futuro melhor.
Aprender com a história e valorizar a sua aprendizagem nas escolas e outras
instituições de formação, é a meu ver, o primeiro passo para garantir a paz e a
justiça no mundo.
Simone Marques, 12.º D