terça-feira, 3 de junho de 2025

A evolução da Humanidade nos últimos cem anos - Entre as mudanças e as continuidades.

 A história contemporânea é marcada por uma forte tensão entre rutura e continuidade. Ao longo dos últimos cem anos, o mundo assistiu a crises globais, confrontos ideológicos, à formação e queda de impérios, a experiências autoritárias e à construção de novos modelos de cooperação e cidadania.

Comparar os diferentes contextos históricos, da primeira metade do século XX ao mundo atual, permite perceber que as mudanças não ocorreram todas ao mesmo tempo nem foram, necessariamente, para melhor. Ao mesmo tempo, muitas estruturas e problemas permaneceram mesmo em épocas de progresso.

Esta reflexão analisa essas mudanças e permanências desde a primeira metade do século XX, o período da Segunda Guerra Mundial ao início da década de 1980 e o mundo contemporâneo, desde 1990 até à atualidade.

No início do século XX, os impérios europeus dominavam grande parte do planeta. A Primeira Guerra Mundial destruiu esse equilíbrio, gerando novos Estados e promovendo a criação da Sociedade das Nações (SDN) que pretendia garantir a paz.

 Nos anos de 1920, os EUA emergiram como potência económica e tecnológica e vivenciou-se a apreciação da vida através dos “Roaring Twenties” que moldaram novas conceções e aproximaram a emancipação feminina. No entanto, a crise de 1929 (“O crash de Wall Street”) abalou a economia mundial e, apesar da resistência da democracia, abriu caminho a regimes autoritários como o Fascismo, o Nazismo e o Estado Novo, em Portugal.

Em 1917, as Revoluções Russas criaram a primeira alternativa ao capitalismo liberal com a implementação de um regime comunista de economia planificada. Nos anos seguintes, a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) expandiu a sua influência, tornando-se uma superpotência no decorrer da Segunda Guerra Mundial. A guerra, devastadora e “abre-olhos” para a capacidade dos seres humanos em fazer os outros sofrer, terminou com a criação da ONU, uma estrutura mais eficaz e ambiciosa do que a SDN, fundada para garantir a paz, a cooperação e os Direitos Humanos.

 Após o conflito, o mundo dividiu-se em dois blocos antagónicos, dando origem à Guerra Fria. Os EUA lideraram o bloco capitalista, apoiados por alianças como a OTAN e pelo seu poder económico, científico e militar.

A sua hegemonia baseou-se na força do dólar, utilizado como referência para ajudar os países afetados pelas guerras mundiais e pelas crises económicas, desde o Plano Marshall e a OECE, passando pela influência cultural até ao papel de “polícias do mundo” em conflitos como a Guerra do Vietname e do Golfo. A URSS liderava o bloco socialista comunista, com regimes alinhados no Leste da Europa, organizados e aprisionados em torno do Pacto de Varsóvia e do COMECON. Durante esse período, o mundo ocidental viveu os “Trinta Gloriosos” (1945-1973), um tempo de crescimento económico, melhoria do bem-estar e construção do Estado Providência (“Welfare State”). Portugal, contudo, permaneceu sob a ditadura e mergulhado na Guerra Colonial. Só com o 25 de Abril de 1974 é que o país iniciou o processo de democratização e descolonização e uma reaproximação ao mundo, depois de tanto tempo isolado, encetando também o caminho do desenvolvimento.

Entre os anos 1950 e 1970, verificou-se a descolonização não só de África como, também e anteriormente, da Ásia, impulsionando a emergência do Terceiro Mundo. Muitos dos novos Estados, apesar da independência, mantiveram-se dependentes das grandes potências, o que deu origem ao Neocolonialismo. A instabilidade política, a pobreza e a fraca industrialização permaneceram em vários destes países, refletindo uma mudança incompleta para a democracia plena.

 Nos anos 1980, a URSS entrou em crise. A partir de 1985, Mikhail Gorbatchev implementou reformas como a Perestroika (reestruturação económica) e a Glasnost (abertura/ transparência política), na tentativa de salvar o regime. No entanto, as reformas levaram ao colapso da URSS, à queda do Muro de Berlim e, para alguns, ao fim da Guerra Fria. A desagregação do bloco soviético revelou desigualdades profundas, tensões étnicas e falhas no processo de transição para o capitalismo, sobretudo nos países do leste europeu. Com o fim do bipolarismo, os EUA afirmaram-se como a única superpotência, surgindo um novo quadro geopolítico unipolar. No entanto, esta hegemonia começou a ser desafiada por outros países e outros polos então emergentes.

A partir da década de 1990, presenciou-se o crescimento da União Europeia, que passou de uma comunidade económica (CEE, Comunidade Económica Europeia) para um projeto político ambicioso. A cidadania europeia, a livre circulação e o euro tornaram-se símbolos de unidade na diversidade, embora tenham surgido dificuldades como: o euroceticismo, desigualdades internas e tensões entre países membros. Portugal integrou-se neste projeto em 1986, beneficiando de fundos, modernizações e de uma maior projeção internacional, consolidando assim o caminho do desenvolvimento.

Ao mesmo tempo, a região da Ásia destacou-se como novo centro de poder económico. O crescimento dos “Quatro Dragões Asiáticos”, inspirados pelo “Milagre japonês” desde 1945, e o surgimento da China como potência global, mudaram o equilíbrio mundial. A abertura económica da China, a integração de Hong Kong e Macau e a aposta em tecnologia e exportações consolidaram a sua posição como rival dos EUA. O modelo de “um país, dois sistemas” permitiu combinar o controlo político do Partido Comunista Chinês a nível interno,  com uma economia de mercado, o “socialismo de mercado”, a nível externo,  que impulsionou o seu desenvolvimento e a sua afirmação.

 Após a Guerra Fria, eclodiram conflitos nos Balcãs, no Médio Oriente e em várias regiões de África. Muitos destes conflitos tinham raízes históricas, divisões étnicas e interesses económicos por detrás, revelando que a paz não foi garantida com o fim do conflito Leste-Oeste.

 O início do século XXI trouxe uma nova fase de globalização, dominada por lógicas neoliberais. As trocas comerciais aumentaram, as tecnologias de comunicação aproximaram as sociedades e as economias tornaram-se interdependentes. Porém, este processo gerou novas desigualdades, precariedade laboral, desafios ambientais, migrações em massa e fragilidades nas democracias. Portugal, integrado neste sistema global, beneficiou de investimentos mas também sentiu os efeitos das crises económicas e da austeridade.

 Em suma, as mudanças não aconteceram todas ao mesmo tempo, nem tiveram os mesmos efeitos em todos os contextos. A história recente mostra avanços significativos na ciência, nos direitos, na cooperação internacional, mas também resistências, exclusões e desequilíbrios que se mantém. Portugal é exemplo disso: passou de império autoritário a democracia europeia mas enfrenta convulsões, crises e desigualdades que não desapareceram com a mudança política.

A perspetiva crítica sobre os últimos cem anos obriga-nos a reconhecer que o progresso não é automático nem linear. Compreender o que mudou e o que permaneceu ajuda a olhar para o presente com maior responsabilidade e consciência histórica. A história é feita de escolhas e cabe-nos a nós, conscientes dos efeitos das mesmas, fazer opções mais justas do que as que, por vezes, marcaram o passado ou aproveitando os exemplos positivos, para continuar em frente com maior segurança.

Filipa Silva (12.ºD, CCHLH).