Para recordar e repetir mais vezes
Este ano letivo, na EB do Ave,
decidimos dar continuidade ao projeto que iniciámos durante a pandemia
“companhia das cartas” e que entretanto mudámos para “Memórias”, pois é nossa
intenção interagir mais no sentido de reavivar e aprender com as memórias e
partilha das vivências dos senhores e senhoras que se encontram no Centro
Paroquial e Social de Taíde.
No dia 3 de dezembro, a turma do 9º
A, as professoras Natália Almeida, Rosa Sousa e Carla Azevedo voltaram a descer
a ladeira para levar aos mais velhos um bocadinho de alegria, alterar a rotina
das tardes mais frias, ouvir e aprender com as suas histórias de vida.
Num primeiro momento, em pares ou
grupo de três, os alunos ofereceram um postal (da coleção dos artistas que
pintam com a boca e com os pés) a todos os presentes e propuseram-se escrever
aos familiares uma mensagem de Natal. Depois seguiu-se o momento em que mostraram
os seus dotes vocais com canções natalícias em português, francês e inglês, às
quais responderam duas senhoras com as cantigas do tempo em que cantavam nos
ranchos e na lavoura e em que as suas vozes eram mais cristalinas. “Sabe
menina, eu adoro cantar, acho que fui feita a cantar!”
Muito comunicativos e recetivos
às nossas perguntas e interação, foi com alguma tristeza que terminámos a
visita, mas com a promessa de voltarmos mais vezes e também de os recebermos na
nossa escola para novas experiências e sensações.
Impressões dos alunos:
“Que experiência bonita”, Cecília
“Nunca pensei viver um momento
tão agradável com os idosos”, Eduardo
“Os idosos são uma fonte
inesgotável de sabedoria”, Inês
“Temos de vir cá mais vezes, é
tão bom sair da escola”, Gabriel
Em fevereiro, na semana dedicada
aos fetos, recebemos na nossa escola um grupo de senhores e senhoras mais
ativos para uma tarde de convívio. Falou-se da forma como ocupavam os seus
poucos tempos livres, dos jogos e brincadeiras com que se entretinham quando
eram crianças: o jogo do botão, do pião, do espeto, da macaca, do lencinho; da
construção dos seus próprios brinquedos com materiais simples, da natureza ou
de desperdícios, como as bolas e as bonecas de trapos, carrinhos de madeira e
rolamentos, fisgas; instrumentos musicais que criavam com pedaços de cana ou de
caule do centeio.
Tivemos a oportunidade de ver
como se deitava o pião, se jogava ao ióó, pois o Sr. António ainda tem mãos
para estas e outras habilidades. E entre os jovens, houve quem não desistisse
de treinar até conseguir por o pião a rodar no chão e depois apanhá-lo com a
mão. E não faltou a alegria contagiante da professora Rosa que cantarolou:
“Gira que gira o meu pião, mas não to dou nem por um tostão! Eu tenho um pião,
um pião que dança, eu tenho um pião, mas não to dou não”.
Houve também da parte dos jovens
a tentativa de ensinar como se brinca hoje com o telemóvel e o tablet, mas os
olhos e o movimento dos dedos já não ajudam…
E seguiu-se um pequenino lanche,
um bolo feito na sala pelos alunos e servido pela Mafalda, que se encontra a
estagiar nesse Centro Paroquial.
Com os exames à porta e algumas
matérias para rever, os alunos do 9º ano não puderam terminar o encontro final
deste projeto e foi ao 7º B que coube, no dia 11 de junho, fazer a despedida.
Pelas 10.30 h descemos a calçada
que nos separa do Centro e, com uma manhã de temperatura amena e alguma
excitação, fomos recebidos pela Dra. Cátia que, depois dos cumprimentos a todos
os presentes da parte das professoras Natália e Rosa, distribuiu os alunos
pelas mesas onde se encontravam os senhores e senhoras mais autónomos para
jogarmos.
A comunicação nem sempre foi
fácil, dada a surdez, falta de visão e alguma desistência perante a dificuldade
da motricidade fina… , mas acabam por abrir o seu coração, contam-nos um pouco
das suas vidas, dos seus desejos, das suas dores…
Ligeiramente desorientados e sem saber
o que fazer num primeiro momento, os alunos foram-se integrando, percebendo
como agir e mostraram-se muito cuidadosos e carinhosos com as palavras e os
gestos. Ficaram tão sensibilizados e apegados aos seus pares, que num tom um
pouco desalentado os ouvimos dizer: “OH! Não! Temos mesmo de ir embora…”
Sentimos que da parte deles
também a nossa presença é bem-vinda e gostam da nossa companhia.
Ficou a promessa de um novo
reencontro em setembro. Ou quem sabe, num próximo dia de férias?
As professoras: Rosa Sousa e
Natália Almeida