terça-feira, 1 de julho de 2025

Projeto “Memórias”

 Para recordar e repetir mais vezes

Este ano letivo, na EB do Ave, decidimos dar continuidade ao projeto que iniciámos durante a pandemia “companhia das cartas” e que entretanto mudámos para “Memórias”, pois é nossa intenção interagir mais no sentido de reavivar e aprender com as memórias e partilha das vivências dos senhores e senhoras que se encontram no Centro Paroquial e Social de Taíde.

No dia 3 de dezembro, a turma do 9º A, as professoras Natália Almeida, Rosa Sousa e Carla Azevedo voltaram a descer a ladeira para levar aos mais velhos um bocadinho de alegria, alterar a rotina das tardes mais frias, ouvir e aprender com as suas histórias de vida.

Num primeiro momento, em pares ou grupo de três, os alunos ofereceram um postal (da coleção dos artistas que pintam com a boca e com os pés) a todos os presentes e propuseram-se escrever aos familiares uma mensagem de Natal. Depois seguiu-se o momento em que mostraram os seus dotes vocais com canções natalícias em português, francês e inglês, às quais responderam duas senhoras com as cantigas do tempo em que cantavam nos ranchos e na lavoura e em que as suas vozes eram mais cristalinas. “Sabe menina, eu adoro cantar, acho que fui feita a cantar!”

Muito comunicativos e recetivos às nossas perguntas e interação, foi com alguma tristeza que terminámos a visita, mas com a promessa de voltarmos mais vezes e também de os recebermos na nossa escola para novas experiências e sensações.

Impressões dos alunos:

“Que experiência bonita”, Cecília

“Nunca pensei viver um momento tão agradável com os idosos”, Eduardo

“Os idosos são uma fonte inesgotável de sabedoria”, Inês

“Temos de vir cá mais vezes, é tão bom sair da escola”, Gabriel

 

Em fevereiro, na semana dedicada aos fetos, recebemos na nossa escola um grupo de senhores e senhoras mais ativos para uma tarde de convívio. Falou-se da forma como ocupavam os seus poucos tempos livres, dos jogos e brincadeiras com que se entretinham quando eram crianças: o jogo do botão, do pião, do espeto, da macaca, do lencinho; da construção dos seus próprios brinquedos com materiais simples, da natureza ou de desperdícios, como as bolas e as bonecas de trapos, carrinhos de madeira e rolamentos, fisgas; instrumentos musicais que criavam com pedaços de cana ou de caule do centeio.

Tivemos a oportunidade de ver como se deitava o pião, se jogava ao ióó, pois o Sr. António ainda tem mãos para estas e outras habilidades. E entre os jovens, houve quem não desistisse de treinar até conseguir por o pião a rodar no chão e depois apanhá-lo com a mão. E não faltou a alegria contagiante da professora Rosa que cantarolou: “Gira que gira o meu pião, mas não to dou nem por um tostão! Eu tenho um pião, um pião que dança, eu tenho um pião, mas não to dou não”.  

Houve também da parte dos jovens a tentativa de ensinar como se brinca hoje com o telemóvel e o tablet, mas os olhos e o movimento dos dedos já não ajudam…

E seguiu-se um pequenino lanche, um bolo feito na sala pelos alunos e servido pela Mafalda, que se encontra a estagiar nesse Centro Paroquial.

 

Com os exames à porta e algumas matérias para rever, os alunos do 9º ano não puderam terminar o encontro final deste projeto e foi ao 7º B que coube, no dia 11 de junho, fazer a despedida.

Pelas 10.30 h descemos a calçada que nos separa do Centro e, com uma manhã de temperatura amena e alguma excitação, fomos recebidos pela Dra. Cátia que, depois dos cumprimentos a todos os presentes da parte das professoras Natália e Rosa, distribuiu os alunos pelas mesas onde se encontravam os senhores e senhoras mais autónomos para jogarmos.

A comunicação nem sempre foi fácil, dada a surdez, falta de visão e alguma desistência perante a dificuldade da motricidade fina… , mas acabam por abrir o seu coração, contam-nos um pouco das suas vidas, dos seus desejos, das suas dores…

Ligeiramente desorientados e sem saber o que fazer num primeiro momento, os alunos foram-se integrando, percebendo como agir e mostraram-se muito cuidadosos e carinhosos com as palavras e os gestos. Ficaram tão sensibilizados e apegados aos seus pares, que num tom um pouco desalentado os ouvimos dizer: “OH! Não! Temos mesmo de ir embora…”

Sentimos que da parte deles também a nossa presença é bem-vinda e gostam da nossa companhia.

Ficou a promessa de um novo reencontro em setembro. Ou quem sabe, num próximo dia de férias?

 

As professoras: Rosa Sousa e Natália Almeida