terça-feira, 28 de abril de 2020

aepl.estetempo 28.abril.2020


27/04/2020
Olá querido diário,

Já passaram alguns, ou talvez muitos anos desde a última vez que te contei algo. Durante todos estes anos cresci, mudei, progredi, mas também regredi… Porém, o mais importante é que durante todos estes anos tentei ao máximo ser a melhor versão de mim e de me tornar cada dia melhor pessoa.
Tu sabes o quanto exigente era comigo mesma e o quanto isso me levava muitas vezes a chegar ao fim do precipício apesar de nunca lá ter caído, pelo menos enquanto estavas presente.
Pois houve uma época que eu, acidental e lentamente me deixei escorregar e mergulhei de cabeça. Perdi tudo o que eu era, tinha-me desencontrado. Via o tempo a correr à velocidade da luz, os meus amigos a evoluir, algumas vidas que me rodeavam a desaparecer e outras a aparecer como dádivas e eu? Eu parecia parada no tempo, na vida, como uma mera telespectadora perante um cenário que me parecia em ruínas.
Sentia que quando o despertador, inoportuno, soava, o novo dia não era mais uma oportunidade de viver, mas mais uma tentativa de não morrer (metaforicamente). A ideia de envelhecer assustava-me, parecia sinónimo de solidão, de perda, de angústia. Não conseguia ver o ter mais idade como um ter mais experiência, mas como uma diminuição, uma falta e uma contínua das desculpas para errar.
Até que graças aos meus amigos, aqueles que realmente terão sempre uma morada no nosso coração e a minha família incrível, encontrei uma corda de escalada no final do precipício. Sim, uma corda, pois tive de trabalhar muito e de superar tudo aquilo de que me escondia para voltar a ser finalmente eu. Não tive direito a um trampolim que me levasse diretamente para o topo mas, ainda bem pois sei que graças a essa corda e todas as cordas que hoje me aparecem pelo caminho, aprendi que tudo na vida acontece por um motivo e se algo sai da nossa vida é porque algo melhor está por vir. E a todos que durante a minha caminhada se foram tornando estrelinhas, as estrelinhas mais bonitas e radiantes que alguma vez vi, irei levá-las para sempre comigo e estarão sempre a olhar por mim e eu por eles.
Desejo-te a ti e a todos que por curiosidade lerem esta página de diário, que sem precisarem de passar pelo que eu passei, consigam conhecer o sabor da vitória e o verdadeiro valor da vida e dos verdadeiros amigos.
Com saudades me despeço,
Um beijinho grande da restante metade da [tua/minha] vida que ficou por escrever.

Catarina Vieira, 12.ºA



Terça-feira, 28 de abril de 2020
Querido diário,
Estamos, hoje, no quadragésimo quarto dia de quarentena. Ontem, contei-te que o estado de emergência seria levantado e que temia que a população portuguesa estragasse o ótimo trabalho feito até ao momento. Agora, é oficial: o estado de emergência será levantado à meia-noite do dia 2 de maio.
Era suposto estar feliz com esta notícia, mas a verdade é que não estou. Não porque queira ficar mais tempo em casa, mas porque o que já se esperava aconteceu: hoje, em cidades como Porto ou Lisboa, o trânsito voltou quase ao normal. Entendo que todos nós queiramos a normalidade das nossas vidas de volta mas, mesmo após o levantamento do estado de emergência, várias medidas serão tomadas, e o governo fez questão de enfatizar isso, para que não ocorram excessos. E, ainda em estado de emergência, várias pessoas mostraram-se despreocupadas.
Esta atitude claramente transparece egoísmo e irresponsabilidade o que, mais tarde, poderá trazer consequências graves, levando, novamente, à implementação do estado de emergência.

Maria João Fontão (11ºC)


Querido diário,

A minha mãe tem estado a fazer um pano em croché, inspirando-se numa imagem que viu, há alguns dias, no facebook. Era muito giro e formava duas espirais que partiam do mesmo centro e divergiam para lados opostos. Ela já tinha feito uma roda com cerca de catorze voltas com muitas “casinhas abertas” e ia começar a formar definitivamente as espirais, mas algo estava errado. Eu fui pesquisar e essas voltas iniciais deveriam de ter sido totalmente preenchidas para que o pano ficasse mais espesso, grosso e seguro. Então ela desfez todo o trabalho de horas e recomeçou minuciosamente.
Com isto deu para perceber que quando queremos algo perfeito, bonito, seguro e cativante demora tempo. Temos que nos dedicar inteiramente e estar sempre informados e inteirados sobre a matéria abordada. Como se diz, “devagar se vai ao longe”. É necessário persistência e atenção. Devemos “construir” uns bons alicerces para que todo o projeto fique bem e não caia ou venha a dar problemas mais tarde. Por vezes, até nos podemos deparar com um muro que não nos deixa avançar, mas aí, não desistimos. Derrubamos o muro e usamos essas pedras para calcetar o caminho e tudo ser mais fácil ou encontramos outro caminho com o mesmo destino. São os pequenos pormenores que, muitas vezes, fazem a diferença, que nos tornam autênticos e, áquilo que fazemos, distinto e inovador.
Este tempo de quarentena é uma boa altura para nos descobrirmos e para tomarmos consciência disto e, assim, melhorarmos a forma como agimos ou pensamos.

Marina Peixoto (11ºD)



Este tempo… dia 46
28.Abril.2020

Hoje, por momentos muito breves, o sol esteve aí. Deixei-me ficar a saboreá-lo na minha cara. Quando abri os olhos, reparei que a Primavera chegou já. Com toda a sua força a fazer a vida (re)nascer. E recordei-me de um projecto no Paraguai do qual ouvi falar há uns anos – fazer instrumentos musicais a partir do lixo. Latas de óleo, colheres de metal, martelos, pedaços de madeira atirados para o lixo ganham nova vida em violinos, violoncelos, caixas, sopros. Como que numa Primavera que permite que a semente lançada à terra apodreça para nascer na beleza das flores.

Que bom seria que as nossas vidas conseguissem transformar o lixo que, por vezes, fazemos (o lixo dos nossos gestos, das nossas palavras, dos nossos egoísmos, de…) em lugares de beleza.

O nome do projecto? LandfillHarmonic. E como continuo a achar que, um dia, será possível ouvir música a partir do papel fica aqui.


 Margarida Corsino