Hoje, terminamos a publicação das
páginas dos nossos diários. Foi uma boa maneira de colocarmos em comum aquilo
que íamos vivendo. Afinal, nenhum homem é
uma ilha e todos contamos uns para os outros e uns com os outros para
viver.
Agradecemos a todos os que
connosco partilharam as suas páginas. Não podemos deixar de o fazer, de modo
especial, à Maria João Fontão e à Marina Peixoto pela fidelidade a este projeto
e pela forma como nos foram contando os seus dias.
Assim, aqui ficam as últimas
páginas dos diários d’este tempo.
Segunda-feira,
1 de junho de 2020
Querido
diário,
Estamos,
hoje, no septuagésimo oitavo dia de quarentena.
Mal
me foi proposto criar um diário de quarentena, achei a ideia complicada –
primeiro, porque os meus dias eram muito repetitivos no período de isolamento;
depois, quando resolvi abordar diferentes temas, em vez da minha rotina, achei
que não conseguiria encontrar um tema diferente para cada dia. A verdade é que
esta experiência me surpreendeu bastante, pela positiva. Sempre gostei muito de
escrever, mas nunca encontrava um motivo para o fazer, nem ideias para tal – e
este desafio foi a minha motivação para isso.
Escrever
este diário desenvolveu a minha capacidade de transmitir as minhas ideias
(principalmente críticas), que antes ficavam apenas soltas na minha imaginação.
Consegui encontrar, finalmente, um motivo para escrever e, agora, sinto que
realmente gosto de o fazer. Em todas as suas formas, a escrita pode aliviar
emoções e retirar alguma da pressão que constantemente sentimos em nós – ao
longo destes meses, cada página que te escrevi foi uma espécie de pausa da
rotina cansativa da quarentena, onde podia refletir comigo mesmo sobre vários
temas atuais.
Hoje,
acaba esta jornada, mas aprendi muito com ela. Talvez, daqui a uns tempos,
volte a escrever-te. Até um dia…
Maria João Fontão (11ºC)
Querido diário,
Hoje comemora-se o
Dia da Criança. É um dia especial no qual se homenageiam todas as crianças, mas
em específico, o facto de elas, independentemente da cor, raça, religião,
origem social, terem direito a receber afeto, amor, carinho, proteção, abrigo,
alimentação, cuidados de saúde, educação e crescer num ambiente de paz e
fraternidade.
É bem evidente o
facto de muitas crianças ao redor do mundo não usufruírem destes e muitos
outros direitos que eu referi. Algo muito injusto, cruel e desumano.
Contudo, apesar deste
simbolismo muito importante, a comemoração deste dia também nos faz lembrar da
criança que há em nós, na nossa alma e no nosso coração. Lá no fundo nunca
deixamos de ser aquela criança divertida, cheia de energia, feliz e inocente.
Quero apesar disto,
dar-te uma notícia menos boa. Hoje termina esta jornada longa. Esta experiência
maravilhosa de escrever sobre algo do meu dia ou sobre um tema que me marcou
vai findar hoje. Vai ser o último dia das publicações dos diários no jornal da
escola “Preto no Branco”. Foi ótimo ler todas as noites as rotinas de outros
alunos e as suas reflexões. Apesar disto, tentarei escrever-te sempre porque és
um bom amigo, um ótimo ouvinte e um excelente libertador.
“Toda a criança é um
tipo de flor e juntas fazem este mundo um belo jardim!”
“Segure a mão da criança que há dentro de si. Para ela nada
é impossível!”
Marina Peixoto (11ºD)
Dia
27 (1 de junho de 2020)
Querido
diário,
Passados
dois meses e meio desde que te comecei a escrever, chegou o último dia. E que
dia especial é este - o dia mundial da criança. Hoje celebra-se a felicidade no
seu estado mais puro.
Ainda há
uma criança dentro de mim que me faz querer questionar tudo e todos e só espero
que continue viva por muitos mais anos. E porque as crianças são o futuro, hoje
celebra-se isso mesmo, também. Que o futuro seja repleto de sonhos
concretizados!
Obrigado,
querido diário, por me acompanhares nesta longa caminhada! Termino, neste dia
especial, com um excerto de um poema que tanto aprecio de António Gedeão.
“Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as
mãos de uma criança.”
Miguel Almeida. (11ºC)
Um permanente convite à viagem
para dentro e fora de nós foi o espaço estetempo, todas as noites
publicado pela equipa do Preto no Branco online. estetempo foi o
percorrer o espaço da aprendizagem fora e, ultimamente para alguns, dentro do
portão da escola. Foi o caminho com a família. Foi o trilho da amizade.
Mas também foi o mergulharmos no
que há de mais íntimo em cada um de nós.
Foi deixar passar a caneta da expressão ou o teclar da emoção. Foi
vestirmo-nos com estetempo despindo-nos das fragilidades e das contingências.
Foi aprender a presentear-nos com ganhar tempo gastando tempo. Foi o caminhar no
viver de um tempo que não queríamos como se, como comumente estamos habituados
a fazer, o pudéssemos excluir ou melhor o pudéssemos não viver. Mas desta vez não
foi assim. Este tempo lembrou-nos que não somos donos do tempo nem das
coisas nem de quase nada.
Nós queremos sempre TER e, se
possível, muito. Estamos “bem” quando temos
tudo à nossa maneira , ao nosso gosto e principalmente quando tudo está de acordo com a nossa vontade… mas este
tempo veio lembrar-nos que temos de aceitar,
que temos de saber acolher, que temos
de aprender a viver no tempo que nos é
dado com o que nos é dado.
Maria de Lurdes Silva
Este tempo… dia 80
1.Junho.2020
No final destas linhas, este
caderno fechar-se-á. Um dia, voltarei a ele e (re)lerei este tempo. Se calhar com um outro olhar – aquele que ganhamos
quando nos afastamos das coisas. Espero não esquecer o que ganhei n’este tempo – a certeza do que é
essencial. A certeza do que é que basta. A certeza de quanto fazem falta os
pequenos gestos, aqueles que, de tão (aparentemente) banais, pareço não
valorizar.
N’este tempo foram tão claros estes movimentos de entrar em nós para
podermos sair. E, engraçado, sair com tanto cuidado e tantos cuidados ao
encontro dos outros. Assim, agora, estaremos prontos. Depois de termos estado
connosco mesmos (ainda que por obrigação), estamos disponíveis para sair ao
encontro de todos os lugares humanos.
Fecho o caderno e…
Margarida Corsino