segunda-feira, 1 de junho de 2020

aepl.estetempo 1.junho.2020

Hoje, terminamos a publicação das páginas dos nossos diários. Foi uma boa maneira de colocarmos em comum aquilo que íamos vivendo. Afinal, nenhum homem é uma ilha e todos contamos uns para os outros e uns com os outros para viver.
Agradecemos a todos os que connosco partilharam as suas páginas. Não podemos deixar de o fazer, de modo especial, à Maria João Fontão e à Marina Peixoto pela fidelidade a este projeto e pela forma como nos foram contando os seus dias.
Assim, aqui ficam as últimas páginas dos diários d’este tempo.




Segunda-feira, 1 de junho de 2020
Querido diário,

Estamos, hoje, no septuagésimo oitavo dia de quarentena.
Mal me foi proposto criar um diário de quarentena, achei a ideia complicada – primeiro, porque os meus dias eram muito repetitivos no período de isolamento; depois, quando resolvi abordar diferentes temas, em vez da minha rotina, achei que não conseguiria encontrar um tema diferente para cada dia. A verdade é que esta experiência me surpreendeu bastante, pela positiva. Sempre gostei muito de escrever, mas nunca encontrava um motivo para o fazer, nem ideias para tal – e este desafio foi a minha motivação para isso.
Escrever este diário desenvolveu a minha capacidade de transmitir as minhas ideias (principalmente críticas), que antes ficavam apenas soltas na minha imaginação. Consegui encontrar, finalmente, um motivo para escrever e, agora, sinto que realmente gosto de o fazer. Em todas as suas formas, a escrita pode aliviar emoções e retirar alguma da pressão que constantemente sentimos em nós – ao longo destes meses, cada página que te escrevi foi uma espécie de pausa da rotina cansativa da quarentena, onde podia refletir comigo mesmo sobre vários temas atuais.
Hoje, acaba esta jornada, mas aprendi muito com ela. Talvez, daqui a uns tempos, volte a escrever-te. Até um dia…
Maria João Fontão (11ºC)



Querido diário,

Hoje comemora-se o Dia da Criança. É um dia especial no qual se homenageiam todas as crianças, mas em específico, o facto de elas, independentemente da cor, raça, religião, origem social, terem direito a receber afeto, amor, carinho, proteção, abrigo, alimentação, cuidados de saúde, educação e crescer num ambiente de paz e fraternidade.
É bem evidente o facto de muitas crianças ao redor do mundo não usufruírem destes e muitos outros direitos que eu referi. Algo muito injusto, cruel e desumano.
Contudo, apesar deste simbolismo muito importante, a comemoração deste dia também nos faz lembrar da criança que há em nós, na nossa alma e no nosso coração. Lá no fundo nunca deixamos de ser aquela criança divertida, cheia de energia, feliz e inocente.
Quero apesar disto, dar-te uma notícia menos boa. Hoje termina esta jornada longa. Esta experiência maravilhosa de escrever sobre algo do meu dia ou sobre um tema que me marcou vai findar hoje. Vai ser o último dia das publicações dos diários no jornal da escola “Preto no Branco”. Foi ótimo ler todas as noites as rotinas de outros alunos e as suas reflexões. Apesar disto, tentarei escrever-te sempre porque és um bom amigo, um ótimo ouvinte e um excelente libertador.
“Toda a criança é um tipo de flor e juntas fazem este mundo um belo jardim!”
“Segure a mão da criança que há dentro de si. Para ela nada é impossível!”

Marina Peixoto (11ºD)




Dia 27 (1 de junho de 2020)
Querido diário,

Passados dois meses e meio desde que te comecei a escrever, chegou o último dia. E que dia especial é este - o dia mundial da criança. Hoje celebra-se a felicidade no seu estado mais puro.
Ainda há uma criança dentro de mim que me faz querer questionar tudo e todos e só espero que continue viva por muitos mais anos. E porque as crianças são o futuro, hoje celebra-se isso mesmo, também. Que o futuro seja repleto de sonhos concretizados!
Obrigado, querido diário, por me acompanhares nesta longa caminhada! Termino, neste dia especial, com um excerto de um poema que tanto aprecio de António Gedeão.
“Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.”               

Miguel Almeida. (11ºC)




Um permanente convite à viagem para dentro e fora de nós foi o espaço estetempo, todas as noites publicado pela equipa do Preto no Branco online. estetempo foi o percorrer o espaço da aprendizagem fora e, ultimamente para alguns, dentro do portão da escola. Foi o caminho com a família. Foi o trilho da amizade.
Mas também foi o mergulharmos no que há de mais íntimo em cada um de nós.  Foi deixar passar a caneta da expressão ou o teclar da emoção. Foi vestirmo-nos com estetempo despindo-nos das fragilidades e das contingências. Foi aprender a presentear-nos com ganhar tempo gastando tempo. Foi o caminhar no viver de um tempo que não queríamos como se, como comumente estamos habituados a fazer, o pudéssemos excluir ou melhor o pudéssemos não viver. Mas desta vez não foi assim. Este tempo lembrou-nos que não somos donos do tempo nem das coisas nem de quase nada.
Nós queremos sempre TER e, se possível, muito. Estamos “bem” quando temos  tudo à nossa maneira , ao nosso gosto e principalmente quando  tudo está de acordo com a nossa vontade… mas este tempo veio lembrar-nos que  temos de  aceitar,  que temos de  saber acolher, que temos de aprender a  viver no tempo que nos é dado com o que nos é dado.

Maria de Lurdes Silva



Este tempo… dia 80
1.Junho.2020

No final destas linhas, este caderno fechar-se-á. Um dia, voltarei a ele e (re)lerei este tempo. Se calhar com um outro olhar – aquele que ganhamos quando nos afastamos das coisas. Espero não esquecer o que ganhei n’este tempo – a certeza do que é essencial. A certeza do que é que basta. A certeza de quanto fazem falta os pequenos gestos, aqueles que, de tão (aparentemente) banais, pareço não valorizar.
N’este tempo foram tão claros estes movimentos de entrar em nós para podermos sair. E, engraçado, sair com tanto cuidado e tantos cuidados ao encontro dos outros. Assim, agora, estaremos prontos. Depois de termos estado connosco mesmos (ainda que por obrigação), estamos disponíveis para sair ao encontro de todos os lugares humanos.
Fecho o caderno e…
Margarida Corsino