Primeiro foi a incredulidade.
Muito doente, o Afonso?!!Depois veio a pior das notícias. A sua saída desta
vida, deste palco…
Na tarde de ontem (5ªf, 10 de
dezembro) chorei. Uma parte da noite passei-a a rever fotos, a reviver os
tantos e tão maravilhosos dias, anos em que, sobretudo na escola secundária,
conversámos, partilhámos leituras, turmas difíceis (ai aquele CEF!!), dificuldades
com as Tic; assistimos ao desabrochar de talentos escondidos que só tu, sempre com
grande perspicácia sabias descobrir e
com grande mestria e carinho, orientar e levar ao palco. Aos alunos ajudaste a
ler, a dizer, a refletir, a memorizar, a corrigir, a insistir, a melhorar; a
mim, a nós espetadores, a encher-nos o coração, a inquietar-nos também, a
aplaudir de pé , a pedir mais, mais.
Foi um gosto, um privilégio ter
sido tua colega (sempre elétrica, dizias-me, com um sorriso irónico!), ter
estado quase sempre nas estreias dos teus espetáculos e até em palco. “É o que
eu lhe digo, o mar tem varandas…” Nunca mais esqueci este pequeno texto da
Luísa Dacosta no ano de 1998, creio. Não esquecerei nunca a calma, a
serenidade, a contenção, a gentileza e tantas outras qualidades demonstradas ao
longo do nosso quotidiano na escola e na cidade de Braga.
Hoje fui despedir-me de ti. No
caminho vieram-me à memória alguns versos de um poema de Paul Verlaine.
Tomando-o por modelo, deixo-te o meu sentir, a minha tristeza.
“Il pleut dans la ville, comme il pleut dans
mon coeur!
Até um dia num outro palco,
Afonso.
Rosa Sousa
Aprender a ler, a saber estar, a
interpretar, a saber ser são notas da pauta do teatro da Vida. E nas oficinas
de teatro, o professor Afonso permitiu que tocássemos estas notas até compormos
uma melodia e descobrir o belo, a Arte.
Foram muitas as aprendizagens e
as alegrias experimentadas. Quase tantas como o nervosismo que antecedia o
brilhantismo de cada apresentação com que nos brindava o “nosso maestro/encenador”.
Sim. Teatro e música eram companheiros inseparáveis da poesia de cada
texto. Defensor de que a beleza da vida reside em aprender a saborear cada
momento sem desobedecer aos valores morais que nos são intrínsecos e de que há palavras
que têm o canto inspirador da vida e que cabe a cada um de nós descobrir
inspirou-nos muitas vezes.
Com talento transformou vivências,
melhorou vidas, criou atores. Cada unidade de tempo vivida,
particularmente nos ensaios, era uma coisa milagrosa que acontecia. E a
aceitação do aprendido uma casta descoberta. Obrigada, Afonso.
Não tendo podido estar presente
na tua despedida, estiveste presente nesta minha ausência…
Lurdes Silva
«O mar não é tão fundo que nos tire a vida...» Lembras-te, Afonso? Era assim, cantando, que eu começava a primeira apresentação que fizemos na nossa escola há 22 anos. E, ontem, pensei muito em ti. Nas nossas boas conversas, por vezes mais acesas, sobre as coisas importantes da vida. E pensava que, efectivamente, quando se entrega a vida como tu a entregaste nem o mar, nem o que quer que seja a tiram. Pois ela permanecerá em tantas vidas tocadas. Na memória de tantos momentos bons e belos.
ps. Certamente, ao passar n'A Brasileira, olharei para a tua mesa e ver-te-ei, de lá, a olhar o mundo e a pensar como o (re)apresentar!
Margarida Corsino