sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

 











Primeiro foi a incredulidade. Muito doente, o Afonso?!!Depois veio a pior das notícias. A sua saída desta vida, deste palco…

Na tarde de ontem (5ªf, 10 de dezembro) chorei. Uma parte da noite passei-a a rever fotos, a reviver os tantos e tão maravilhosos dias, anos em que, sobretudo na escola secundária, conversámos, partilhámos leituras, turmas difíceis (ai aquele CEF!!), dificuldades com as Tic; assistimos ao desabrochar de talentos escondidos que só tu, sempre com grande perspicácia sabias descobrir  e com grande mestria e carinho, orientar e levar ao palco. Aos alunos ajudaste a ler, a dizer, a refletir, a memorizar, a corrigir, a insistir, a melhorar; a mim, a nós espetadores, a encher-nos o coração, a inquietar-nos também, a aplaudir de pé , a pedir  mais, mais.

Foi um gosto, um privilégio ter sido tua colega (sempre elétrica, dizias-me, com um sorriso irónico!), ter estado quase sempre nas estreias dos teus espetáculos e até em palco. “É o que eu lhe digo, o mar tem varandas…” Nunca mais esqueci este pequeno texto da Luísa Dacosta no ano de 1998, creio. Não esquecerei nunca a calma, a serenidade, a contenção, a gentileza e tantas outras qualidades demonstradas ao longo do nosso quotidiano na escola e na cidade de Braga.

Hoje fui despedir-me de ti. No caminho vieram-me à memória alguns versos de um poema de Paul Verlaine. Tomando-o por modelo, deixo-te o meu sentir, a minha tristeza.

“Il pleut dans la ville, comme il pleut dans mon coeur!

Até um dia num outro palco, Afonso.

Rosa Sousa



Aprender a ler, a saber estar, a interpretar, a saber ser são notas da pauta do teatro da Vida. E nas oficinas de teatro, o professor Afonso permitiu que tocássemos estas notas até compormos uma melodia e descobrir o belo, a Arte.

Foram muitas as aprendizagens e as alegrias experimentadas. Quase tantas como o nervosismo que antecedia o brilhantismo de cada apresentação com que nos brindava o “nosso maestro/encenador”. Sim. Teatro e música eram companheiros inseparáveis da poesia de cada texto. Defensor de que a beleza da vida reside em aprender a saborear cada momento sem desobedecer aos valores morais que nos são intrínsecos e de que há palavras que têm o canto inspirador da vida e que cabe a cada um de nós descobrir inspirou-nos muitas vezes.

Com talento transformou vivências, melhorou vidas, criou atores. Cada unidade de tempo vivida, particularmente nos ensaios, era uma coisa milagrosa que acontecia. E a aceitação do aprendido uma casta descoberta. Obrigada, Afonso.

Não tendo podido estar presente na tua despedida, estiveste presente nesta minha ausência…

Lurdes Silva



«O mar não é tão fundo que nos tire a vida...» Lembras-te, Afonso? Era assim, cantando, que eu começava a primeira apresentação que fizemos na nossa escola há 22 anos. E, ontem, pensei muito em ti. Nas nossas boas conversas, por vezes mais acesas, sobre as coisas importantes da vida. E pensava que, efectivamente, quando se entrega a vida como tu a entregaste nem o mar, nem o que quer que seja a tiram. Pois ela permanecerá em tantas vidas tocadas. Na memória de tantos momentos bons e belos. 

ps. Certamente, ao passar n'A Brasileira, olharei para a tua mesa e ver-te-ei, de lá, a olhar o mundo e a pensar como o (re)apresentar!

Margarida Corsino