domingo, 4 de abril de 2021

 Porque hoje é sábado (3 de abril)

 

 À Páscoa que se avizinha associamos coelhos, ovos, chocolates, amêndoas, folares, pão de ló.

Como sempre me intrigou a imagem dos coelhos de chocolate associados à Páscoa, tencionava escrever sobre o assunto, mas pensando melhor, achei irrelevante e uma pesquisa na net dará rapidamente várias teorias. Sobre a Páscoa na minha terra e na minha infância, só eu poderei escrever. Poderá ser tão irrelevante quanto a origem dos coelhos de chocolate, mas são as minhas memórias, e esta é a minha crónica.

Fosse alta ou baixa, havia sempre um ditado popular ligado às culturas, além dos mais conhecidos como: No Natal à janela, na Páscoa à panela; Páscoa alta, chumbo na malta; Páscoa em março, ou fome ou mortaço.

Recordo que havia uma atmosfera geral de alegria que vinha com as sementeiras, o chilrear das andorinhas, as árvores a florir, a azáfama na limpeza geral das casas, a desobriga, ou seja, a confissão anual para quem andava mais arredado da comunhão, com padres vindos do seminário, os mesmos que, depois no domingo de Páscoa ajudavam na visita, pois o padre da freguesia só podia fazer o périplo por uma das povoações.

Já antes, para o domingo de Ramos, era ver quem arranjava o ramo mais bonito!

Era da tradição pais e filhos levarem um grande ramo de loureiro enfeitado com ramos de oliveira, alecrim florido, camélias e bolachas e rebuçados pendurados. Frequentemente tinham a forma de uma cruz, uma coroa, mas havia sempre autênticas obras de arte!

Outra tradição desse domingo era cozerem-se ovos com casaca de cebola para ficarem escurinhos e, depois de benzidos os ramos, a saída para o adro da igreja para se comerem os ovos cuidadosamente colocados em saquinhos de algodão que levávamos na mão, aos quais a pequenada acrescentava as guloseimas. Nunca consegui saber quando e como surgiu esta tradição, mas os mais velhos diziam que sempre fora assim…

Uma outra lembrança engraçada era a preparação da sala onde se recebia a visita da cruz pela mão do sr. padre ou dos seminaristas e os seus acólitos, a pessoa que carregava uma pasta e o rapaz da sineta.

Colocava-se a melhor toalha de linho ou renda de algodão, uma laranja grande ao centro com uma moeda de 5 escudos espetada, e uma taça ou pires com amêndoas (lisa-cores do retalhista Ramiro Augusto do Vale, o único da região). Em muitas das casas, na mesa não faltava o pão de ló, o queijo da serra, um bolo enrolado de chocolate, uns bolinhos de coco e, claro, uma garrafa de vinho fino.

Sexta-feira santa tocava o sino por volta das 3 horas da tarde e as pessoas deixavam o trabalho e recolhiam a casa. No sábado, as mulheres faziam os bolos e assavam o cabrito ou o borrego no forno comunitário. Era um delírio para a pequenada poder rapar o resto da massa dos bolos e mal podiam conter a alegria do dia seguinte com roupa nova oferecida pelas madrinhas e padrinhos, pelo saquinho de amêndoas, e pela correria até ao final da tarde pela visita do sr. padre ao som das campainhas e do repenicar dos sinos! Aleluia! Aleluia!

Rosa Sousa