Porque hoje é sábado (3 de abril)
À Páscoa que se avizinha associamos coelhos,
ovos, chocolates, amêndoas, folares, pão de ló.
Como sempre me intrigou a imagem
dos coelhos de chocolate associados à Páscoa, tencionava escrever sobre o
assunto, mas pensando melhor, achei irrelevante e uma pesquisa na net dará
rapidamente várias teorias. Sobre a Páscoa na minha terra e na minha infância,
só eu poderei escrever. Poderá ser tão irrelevante quanto a origem dos coelhos
de chocolate, mas são as minhas memórias, e esta é a minha crónica.
Fosse alta ou baixa, havia sempre
um ditado popular ligado às culturas, além dos mais conhecidos como: No Natal à
janela, na Páscoa à panela; Páscoa alta, chumbo na malta; Páscoa em março, ou
fome ou mortaço.
Recordo que havia uma atmosfera
geral de alegria que vinha com as sementeiras, o chilrear das andorinhas, as
árvores a florir, a azáfama na limpeza geral das casas, a desobriga, ou seja, a
confissão anual para quem andava mais arredado da comunhão, com padres vindos
do seminário, os mesmos que, depois no domingo de Páscoa ajudavam na visita,
pois o padre da freguesia só podia fazer o périplo por uma das povoações.
Já antes, para o domingo de
Ramos, era ver quem arranjava o ramo mais bonito!
Era da tradição pais e filhos
levarem um grande ramo de loureiro enfeitado com ramos de oliveira, alecrim
florido, camélias e bolachas e rebuçados pendurados. Frequentemente tinham a
forma de uma cruz, uma coroa, mas havia sempre autênticas obras de arte!
Outra tradição desse domingo era
cozerem-se ovos com casaca de cebola para ficarem escurinhos e, depois de
benzidos os ramos, a saída para o adro da igreja para se comerem os ovos
cuidadosamente colocados em saquinhos de algodão que levávamos na mão, aos
quais a pequenada acrescentava as guloseimas. Nunca consegui saber quando e
como surgiu esta tradição, mas os mais velhos diziam que sempre fora assim…
Uma outra lembrança engraçada era
a preparação da sala onde se recebia a visita da cruz pela mão do sr. padre ou
dos seminaristas e os seus acólitos, a pessoa que carregava uma pasta e o rapaz
da sineta.
Colocava-se a melhor toalha de
linho ou renda de algodão, uma laranja grande ao centro com uma moeda de 5
escudos espetada, e uma taça ou pires com amêndoas (lisa-cores do retalhista
Ramiro Augusto do Vale, o único da região). Em muitas das casas, na mesa não
faltava o pão de ló, o queijo da serra, um bolo enrolado de chocolate, uns
bolinhos de coco e, claro, uma garrafa de vinho fino.