Assinalam-se hoje os 77 anos da
libertação do campo de extermínio de Auschwitz.
Este campo de concentração é o sétimo e o maior de todos os campos de
concentração e também o que está mais associado ao extermínio dos judeus pelo
regime nazi.
Os horrores de um extermínio não podem NUNCA ser ESQUECIDOS, por mais que o
tempo passe.
A
ausência de humanidade dos atos cometidos deverão envergonhar-nos para sempre e
essa vergonha deverá impedir o ser humano de voltar a deixar de ter alma, em
nome de ideais de supremacia que apenas revelaram a pequenez que o Homem pode
revelar.
77 anos depois, recordemos que quando os
soldados soviéticos entraram em Auschwitz, a 27 de janeiro , encontraram um
local onde foram mortas 1,5 MILHÕES DE
PESSOAS.
77 anos depois, recordemos o dia que deu
início ao fim do pesadelo da humanidade e lutemos para que a libertação nos
ilumine a caminhada, SEMPRE.
77 anos depois, o nosso colega, Manuel Sousa, recorda
sentida e poeticamente os horrores da opressão, do sofrimento, da humilhação,
do desespero, do massacre até à morte.
Rosa Martins
Lurdes Silva
Pavilhão X
Mãe
tenho frio
as janelas
do pavilhão
estão
baças
o gelo
cobre a terra
as pegadas
sobre o gelo duro
têm
salpicos de sangue
Mãe
a roupa
cola-me ao corpo
os cheiros
imundos
o pano que
foi branco e azul
é uma
mancha suja e desbotada
Mãe
os dentes
dos cães e dos soldados são tão brancos
os meus
estão podres
já não
doem
tenho
tanto medo dos cães
Mãe
vi a minha
cara refletida na charca
já não é o
meu rosto
roubaram-mo
ficou esta
sombra de mim
um despojo gasto.
Mãe
que fiz eu
não me
lembro de nada
e
puseram-me esta estrela
marcaram-me
agora os
soldados de botas pretas
empurram-me
com as baionetas
Mãe
Joshua
entrou no pavilhão ao fundo
gemiam os
violinos nos altifalantes
reconheci
alguns sons
o meu
amigo não saiu do pavilhão
ninguém
saiu
O fumo
subiu no ar e um cheiro intenso
veio pelas
grades das janelas.
Mãe
diz-me
que isto
foi só um pesadelo
e que os
prados do mundo estão floridos
e que as
crianças brincam animadas no parque
Mãe
há um
silêncio tão fundo
as imagens
reais agridem-me
dói-me
tudo isto
mãe.
Manuel
Sousa (2022)