quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Auschwitz O passado inumano que o presente tem obrigação de não esquecer

 


 

Assinalam-se hoje os 77 anos da libertação do campo de extermínio de Auschwitz.
Este campo de concentração é o sétimo e o maior de todos os campos de concentração e também o que está mais associado ao extermínio dos judeus pelo regime nazi.

Os horrores de um extermínio não podem NUNCA ser ESQUECIDOS, por mais que o tempo passe.

 A ausência de humanidade dos atos cometidos deverão envergonhar-nos para sempre e essa vergonha deverá impedir o ser humano de voltar a deixar de ter alma, em nome de ideais de supremacia que apenas revelaram a pequenez que o Homem pode revelar.

77 anos depois, recordemos que quando os soldados soviéticos entraram em Auschwitz, a 27 de janeiro , encontraram um local onde foram mortas 1,5 MILHÕES DE PESSOAS.

77 anos depois, recordemos o dia que deu início ao fim do pesadelo da humanidade e lutemos para que a libertação nos ilumine a caminhada, SEMPRE.

77 anos depois, o nosso colega, Manuel Sousa, recorda sentida e poeticamente os horrores da opressão, do sofrimento, da humilhação, do desespero, do massacre até à morte.

 



Rosa Martins

Lurdes Silva

 

 

Pavilhão X

 

Mãe

tenho frio

as janelas do pavilhão

estão baças

o gelo cobre a terra

as pegadas sobre o gelo duro

têm salpicos de sangue

 

Mãe

a roupa cola-me ao corpo

os cheiros imundos

o pano que foi branco e azul

é uma mancha suja e desbotada

 

Mãe

os dentes dos cães e dos soldados são tão brancos

os meus estão podres

já não doem

tenho tanto medo dos cães

 

Mãe

vi a minha cara refletida na charca

já não é o meu rosto

roubaram-mo

ficou esta sombra de mim

um despojo gasto.


 Mãe

que fiz eu

não me lembro de nada

e puseram-me esta estrela

marcaram-me

agora os soldados de botas pretas

empurram-me com as baionetas

 

Mãe

Joshua entrou no pavilhão ao fundo

gemiam os violinos nos altifalantes

reconheci alguns sons

o meu amigo não saiu do pavilhão

ninguém saiu

O fumo subiu no ar e um cheiro intenso

veio pelas grades das janelas.

 

Mãe

diz-me

que isto foi só um pesadelo

e que os prados do mundo estão floridos

e que as crianças brincam animadas no parque

 

Mãe

há um silêncio tão fundo

as imagens reais agridem-me

dói-me tudo isto

mãe.

 

 

Manuel Sousa (2022)