Sou criança,
Mulher, ou homem,
De qualquer cor ou nenhuma.
Do deserto, da planície,
Da floresta, do turbilhão de casas
Amadas ou magoadas,
E quero ser livre,
Que me curem a dor,
Que me deem amor,
Que me digam que o horizonte é ali
E posso navegar nas histórias
E enfeitiçar memórias
E rir e cantar e voar.
Quero olhar para mim,
Ser de ferro ou de marfim
Ser de tela ou promessa.
(Quem disse que a dama vendada
fugiu?)
Firme na dignidade e respeito,
No desejo de construir,
Quero acreditar,
Confiar,
Tolerar.
Que a regra seja mesmo essa.
E que em viver ninguém duvide.
Sou um malmequer
Uma papoila e um amor-perfeito.
Sou uma andorinha,
Um piano e um mapa
E uma estrada e um mar revolto.
Sou a lua toda.
Desenha-me assim,
Tu que passas,
Sem mordaças,
Num carrossel onde todos rodopiam.
Glória Pires de Lucena