segunda-feira, 6 de abril de 2020


Depois de uns dias de resistência à escrita de um diário, eis que surgiu a vontade de falar com alguém imaginário que me saiba ouvir e compreender neste tempo estranho que estamos a aprender a viver. Por isso, cá vai a minha primeira página que será certamente um registo para memória futura.

Querido diário,
Hoje é dia seis de abril. Estou em quarentena, juntamente com a minha família, exceto o meu pai que continua a trabalhar, há vinte e quatro dias. Esta semana é de férias da Páscoa. Os dias têm corrido de forma rápida, pois tenho estado sempre ocupado. Primeiramente, com as atividades escolares via online, depois no auxílio às atividades domésticas. Cá em casa há sempre muito que fazer. Somos cinco e, por isso, o trabalho nunca termina.
Estes dias têm sido vividos com saudade. Saudade da presença dos meus avós, saudade de estar com os meus primos, dos piqueniques que realizamos em tempo de férias, das risadas conjuntas e da alegria de estarmos em família, das caminhadas noturnas, dos jogos de futebol, das bancadas aos gritos e aos aplausos, do ar sereno de um passeio de bicicleta, das aulas e da rotina diária… enfim, saudade do passado!

Nuno Cunha (10º A)




Dia 22 da quarentena, 06/04/2020

Faz cerca de 48 horas desde a última vez que escrevi algo. 
Hoje é o primeiro dia de mais uma semana de isolamento. Ultimamente, tenho-me deitado tarde e acordado também tarde, isto deve-se provavelmente à preguiça que me tem dominado nos últimos dias.  
Estou de férias, e muitas vezes penso “preciso de estudar”, penso mais um bocado …. “nahhh, as férias são longas, noutro dia…”. Vejo-me neste tipo de conflito há mais de 5 dias e acho que o vencedor vai ser decidido quando algo tiver mesmo que ser feito. 
Somando isto às atividades do quotidiano, têm sido assim os meus dias, nada de extraordinário que valha a pena escrever nas tuas páginas e é por isso que tenho aparecido aqui menos vezes. 
Até à próxima. 

Pedro Carvalho (11ºC)



06.04.2020
Tudo não passa de uma nuvem negra universal que está a custar a passar… uma tempestade que todos de forma direta ou indireta podemos combater: uns com um papel mais submisso, outros que dão a cara para que diariamente os resultados sejam os melhores possíveis.
Submetem-se às condições de trabalho que lhes são proporcionadas, correm riscos, põem a sua vida pessoal e familiar em segundo plano, rejeitam abraços dos filhos… É uma mistura de sensações que tem de parecer insignificante quando têm pela frente centenas de doentes, quando tudo parece piorar, sem retorno, quando o medo, a angústia e o desespero tomam conta de nós. Todos os médicos, enfermeiros, auxiliares de saúde têm de ter o poder emocional de desvanecer também esta nuvem negra para que aqueles doentes vejam o céu o mais claro possível, transmitindo-lhes esperança, fé, confiança no seu trabalho para que possam acreditar que vai ficar tudo bem.
Louvo o trabalho e sacrifícios que estes heróis fazem por todos nós dia após dia, é extraordinário ver o empenho, dedicação e coragem com que enfrentam toda esta situação e como conseguem sorrir para os doentes… talvez um sorriso apavorado ou então orgulhoso por mais um dia terem ajudado quem mais precisava e dão a sua missão como cumprida.
Tenho também um respeito enorme pelos voluntários que nesta situação complicada ajudam quem mais precisa, e portanto, o máximo que podemos fazer por eles e por todos os que nos ajudam é ficar em casa. Estes são os nossos heróis!
Não tinha noção do que era saudade de um abraço, beijo, ou carícia, algo que para nós é um hábito e que de repente somos obrigados a abdicar. Talvez quando virmos o fim desta pandemia possamos retirar as devidas conclusões e aprendizagens que nos trouxe. Aprendi a valorizar muito mais gestos tão pequenos e simbólicos que d’antes não fazia ideia que podiam ter tanto impacto em mim enquanto pessoa.
Também esta, por ser uma situação limite, permitiu-nos explorar muito mais os recursos que temos de uma forma nunca antes feita. Se a tecnologia até aqui era importante, então agora… tem assumido um papel crucial nas comunicações à distância, no atendimento de alguns serviços até mesmo de consultas médicas, teletrabalho, e na escola. É uma novidade para nós alunos, mas também para os professores e se este for um trabalho de equipa onde todos cooperem chegaremos a bom porto.
Várias são as plataformas criadas nesta altura com variadíssimos fins, muitas são as novidades que diariamente recebemos e como o futuro que nos espera é cada vez mais incerto temos de olhar para o “ copo meio cheio” e viver um dia de cada vez, em casa! Vai ficar tudo bem!
*No meu texto fiz referência aos profissionais de saúde, sejam eles médicos, enfermeiros, auxiliares; no entanto há todo um conjunto de profissionais que saem à rua todos os dias, para que todos os dias não nos falte nada e possamos ter uma vida o mais próximo do “normal”; também eles são heróis!

Marlene Carvalho (12ºB)



Segunda-feira, 6 de abril de 2020
Querido diário,

Estamos, hoje, no vigésimo terceiro dia de quarentena e, nestes dias, temos sentido bastante a falta da nossa liberdade.
Cada um de nós tem os seus ideais de liberdade mas, a meu ver, ser livre não é ter a opção de fazer tudo o que queremos, mas antes concretizar as nossas vontades tendo sempre noção do impacto que isso pode causar na nossa vida, bem como na do próximo. Portanto, a liberdade tem limites, que devem ser estabelecidos corretamente por nós próprios.
Acho que a maioria das pessoas já se queixou de não ter a liberdade desejada (seja qual for o motivo para tal), porém, durante o período de isolamento, concluí que era bem mais livre do que achava. O surto de coronavírus retirou-nos a liberdade de realizar coisas tão normais, que nem nos dávamos conta da sua importância na nossa vida: ir a um restaurante, à escola, encontrar um amigo, passear em família, etc.
A liberdade que tanto desejamos, para que possamos voltar à nossa vida “normal” só nos será dada se, por uns tempos, nos privarmos dela e ficarmos em casa. E, depois deste pesadelo, penso que todos nós passaremos a valorizar pormenores da nossa rotina, que em conjunto, fazem de nós pessoas livres.

Maria João Fontão (11ºC)



Querido diário,

Há esperança. Os números de novos casos de coronavírus em Portugal têm vindo a ser menos, o que é bom sinal, pois estamos a adiar o pico da pandemia e assim permite uma maior eficácia na ajuda à população, uma ampliação do tempo para se discutirem e prepararem medidas numa possível saturação das unidades de saúde e para que o país adquira material hospitalar, como ventiladores, caso haja uma grande quantidade de pessoas com sintomas graves, por exemplo. Por outro lado, o número de pessoas curadas tem aumentado significativamente.
Contudo, não podemos baixar a guarda, temos que continuar a cumprir as medidas de isolamento e distanciamento social.
Nesta época, com a Páscoa à porta, era comum as pessoas deslocarem-se para a terra natal, irem ver os familiares ou marcarem uma viagem de férias para o exterior. Iam-se comprar as amêndoas, os ovos e os coelhinhos de chocolate para depois oferecer aos netos, aos filhos, aos pais, aos avós, aos primos, aos tios. Porém não pode ser. Temos que ficar em casa e celebrar num circuito mais fechado, mas mais acolhedor.

Assim, as notícias um pouco tranquilizadoras não abalam as nossas responsabilidades e deveres num momento em que as viagens e os ajuntamentos eram normais.

#FiquemEmCasa

Marina Peixoto (11ºD)



Este tempo… dia 24
6.Abril.2020

À hora que escrevo (9.00h) deveria estar a começar a cozinhar na Caritas para preparar almoços para servir a partir das 11.00h, mas… uma tosse seca que por aqui anda desde 6ªf impediu-me de o fazer.  Uma vida só serve se servir – esta frase do Papa Francisco acompanha-me muitas vezes. E, hoje, o meu serviço já não pôde acontecer da forma prevista. Acontecerá de outras maneiras: uma chamada mais demorada às tias, preparar a proposta de hoje para os grupos que acompanho e rezar por tantos. Desta forma, confrontei-me com a minha fragilidade. Foi mais clara a noção de que não controlo tudo. E isso é bom.
Apercebi-me, entretanto, tentando marcar um teste, que, afinal, nem tudo corre às mil maravilhas. Num dos laboratórios, nem estão a aceitar marcações. Noutro, marcaram para 6 de Maio!!! Ri-me quando me disseram a data: até lá, ou morro ou fico curada!

Margarida Corsino da Silva