O distanciamento dos acontecimentos leva-nos, por vezes, a esquecer aquilo que, nalgum momento, parecia tão importante. Olhando à volta, nesta fase de desconfinamento gradual, o ritmo tão acelerado da nossa vida parece retomar-se e corremos o risco de deixar para trás os bons propósitos feitos numa altura em que, efetivamente tínhamos percebido o que é essencial nas nossas vidas.
Neste próximos dias, a equipa do Preto no Branco online publicará algumas reflexões críticas escritas durante o período de confinamento na disciplina de Filosofia.
Prioridades…
supérfluas ou necessárias?
Nos dias
de hoje, as verdadeiras necessidades têm sido substituídas por outras de
caráter falso. Estas últimas surgem em resposta ao elevado consumo que a
sociedade atual enfrenta.
Numa época
em que cada vez mais se tenta reduzir o uso de plástico, o consumismo supérfluo
nada contribui para esta causa, dado que os produtos necessitam de plástico
para serem embalados. Isto em relação ao ambiente, que tanto devemos estimar de
forma a assegurar às gerações vindouras as necessidades básicas, como o simples
facto de possuírem água potável.
Bem, relativamente
a um outro ponto, um assunto que agora tem preenchido em demasia os telejornais
é a pandemia do novo coronavírus. De facto, agora que o país se encontra em
estado de emergência com o intuito de minimizar o risco de contágio entre a
população, apenas temos permissão para sair de casa para nos dirigirmos ao banco, aos correios ou
ao centro de saúde, realizar pequenos passeios, executar a atividade
profissional, fazer assistência a familiares e, ainda, a aquisição de bens de
primeira necessidade. É, aqui, que a dúvida surge. O que são bens de primeira
necessidade?- perguntam aqueles que semanalmente adquirem produtos que em nada
são essenciais, mas que lhes parece conferir uma espécie de conforto.
E se a febre
do consumismo supérfluo desaparecesse de vez, o que aconteceria?
A meu ver,
se isso acontecesse, os ditos consumistas teriam tempo para reconsiderarem os
seus interesses, até aí fúteis, e repensarem naquilo que é realmente importante
nas suas vidas, como por exemplo:
Viajar, (…agora
tenhamos calma!...) ou simplesmente passear com a família e amigos é algo
que pode ser dispendioso, mas que traz inúmeros benefícios. Viajar permite-nos
expandir horizontes, conhecer novas pessoas, e acima de tudo, colecionar
memórias. Ao estarmos longe da nossa casa e do nosso trabalho, a dita zona de
conforto, desafiamo-nos a nós próprios e é assim que somos capazes de crescer e
de desenvolver as nossas habilidades.
Também, a
cultura, por meio da arte, de tradições e costumes de um determinado povo, revela,
de igual forma, extrema importância para a sociedade.
A arte,
por exemplo, como o teatro, a música, a dança..., permite que as pessoas
aperfeiçoem a sua noção de estética e sensibilidade e que desenvolvam a sua
criatividade. A arte tem uma influência construtiva da sociedade, estando
presente em todo o mundo.
Arte significa
disciplina, implica dedicação e sacrifício, daí que nem todos se entreguem a ela.
Por isso,
sim, investir em cultura é investir em nós próprios, é um investimento que
potencia um crescimento do nosso conhecimento e nos permite “realizar tudo o
que na realidade a vida recusa ao homem”, como diria o exímio Goethe.
Por outro
lado, é expectável que a economia seja afetada. Assim, caso as pessoas ponham
de lado o consumismo supérfluo, as lojas, os seus fornecedores e fabricantes
dos bens que seriam comprados sofreriam com a falta de compradores.
Desta
forma, as empresas que inicialmente estariam a produzir os produtos que
normalmente seriam escoados começariam a acarretar despesas que não veriam
reembolsadas. Esse prejuízo poderia levar eventualmente ao desemprego de alguns
trabalhadores ou até à falência de empresas, pondo em causa o bem-estar de
várias famílias que, em muitas das vezes, dedicaram a sua vida àquele trabalho
e que com o salário mensal viam asseguradas as suas necessidades básicas.
Em suma,
penso que se deixasse realmente de acontecer um consumismo exacerbado, o mundo
ficaria um lugar melhor, em que as pessoas tinham plena consciência de quais
deveriam ser as suas prioridades, embora isto acarretasse desvantagens para a
economia global. Sinto, igualmente, uma necessidade de refletirmos e
compreendermos que não é preciso a febre do consumismo supérfluo desaparecer
para tomarmos atitudes preponderantes na nossa sociedade. É preciso compreender
verdadeiramente que aquilo que levamos da vida são os momentos que passamos com
aqueles que mais amamos e todas
as experiências culturais que temos a oportunidade de vivenciar.
Miguel Almeida 11º C