quinta-feira, 19 de novembro de 2020

As informações continuam a chegar.

Hoje, publicamos uma carta e uma entrevista inéditas!  


Excelentíssimos leitores, já temos provas concretas do que temos vindo a afirmar, foi descoberta pelo nosso repórter Daniel Ramalho, uma carta escrita pelo próprio Fernando Pessoa ao seu fiel amigo Mário de Sá-carneiro. Tudo está a ser preparado, Além disso, após várias investidas ao lobo solitário que é Fernando Pessoa (Pedro Fernandes 12ºE), a nossa jornalista Fabiana Catarino (12ºE), em exclusividade para o nosso Jornal, conseguiu uma pequena entrevista. Já não há dúvidas possíveis: o Modernismo apodera-se da sociedade.



UMA CARTA INÉDITA A MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO

Lisboa, 2 de fevereiro de 1915

Meu querido Sá-Carneiro:

 

Há de ter estranhado o tempo que eu tenho levado para lhe escrever. É possível que se tenha, até, ofendido um pouco comigo. Peço-lhe, por amor de Deus, que o não faça. Eu vou explicar-lhe tudo, e a explicação é bem compreensível.

Eu tenho tido, com efeito, bastante que fazer. Tenho tido, é certo, várias pequenas causas a tomarem-me muitos pequenos bocados de tempo. O restante do meu tempo, tem sido empregue em um poema que tenho estado a escrever, para o qual gostaria de ter a sua imprescindível opinião, mas não só, há uma ideia, um visão, que não quer sair da minha mente, mas essa eu explico mais à frente.

 

Se estou só, quero não estar,

Se não estou, quero estar só,

Enfim, quero sempre estar

Da maneira que não estou.

 

Ser feliz é ser aquele.

E aquele não é feliz,

Porque pensa dentro dele

E não dentro do que eu quis.

 

A gente faz o que quer

Daquilo que não é nada,

Mas falha se o não fizer,

Fica perdido na estrada.

 

O que me diz o meu caro amigo?

A tormenta que tem lutado para não sair da minha mente é uma visão, uma vontade de rutura com os padrões e inovações. Por que razão não mudar tudo? Não podemos ficar presos ao passado. A sociedade precisa de uma nova cultura. Temos que a implantar e não vamos ser desconfiados, acredito que sejamos capazes de conseguir implementar esta nova ideia literária. Seremos precursores como Einstein e Freud e criaremos o nosso berço de nascimento para um Portugal moderno e voltado para um futuro audaz. No meio de tantas mudanças e inovações, não podemos ficar presos às glórias do passado, temos de tornar Portugal grande novamente.

O que me dizes, caro Sá-Carneiro, de instituirmos em conjunto uma revista literária como nunca antes vista em Portugal. Nem que tenhamos de ir e voltar ao mundo dos mortos, não cometendo, porém, o pecado fatal de Orfeu, de olhar para trás, temos de manter firme o nosso olhar para um futuro intrépido, contudo sempre glorioso.

 Orpheu, como denominação para a revista que espalhe esta nossa nova ideologia, parece-lhe bem? Não comente, marcaremos os espíritos…

Aguardando a sua resposta com a maior brevidade possível.

 

Fernando Pessoa 

 Daniel Ramalho (12ºB)



EM EXCLUSIVO

uma entrevista de Fabiana Catarino e Pedro Fernandes (12ºE)



Para ver e ouvir aqui.