As informações continuam a chegar.
Hoje, publicamos uma carta e uma entrevista inéditas!
Excelentíssimos leitores, já temos provas concretas do que temos vindo a afirmar, foi descoberta pelo nosso repórter Daniel Ramalho, uma carta escrita pelo próprio Fernando Pessoa ao seu fiel amigo Mário de Sá-carneiro. Tudo está a ser preparado, Além disso, após várias investidas ao lobo solitário que é Fernando Pessoa (Pedro Fernandes 12ºE), a nossa jornalista Fabiana Catarino (12ºE), em exclusividade para o nosso Jornal, conseguiu uma pequena entrevista. Já não há dúvidas possíveis: o Modernismo apodera-se da sociedade.
UMA CARTA INÉDITA A MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO
Lisboa, 2 de fevereiro de 1915
Meu querido Sá-Carneiro:
Há de ter estranhado o tempo que eu
tenho levado para lhe escrever. É possível que se tenha, até, ofendido um pouco
comigo. Peço-lhe, por amor de Deus, que o não faça. Eu vou explicar-lhe tudo, e
a explicação é bem compreensível.
Eu tenho tido, com efeito, bastante que
fazer. Tenho tido, é certo, várias pequenas causas a tomarem-me muitos pequenos
bocados de tempo. O restante do meu tempo, tem sido empregue em um poema que
tenho estado a escrever, para o qual gostaria de ter a sua imprescindível
opinião, mas não só, há uma ideia, um visão, que não quer sair da minha mente,
mas essa eu explico mais à frente.
Se estou só, quero não
estar,
Se não estou, quero
estar só,
Enfim, quero sempre
estar
Da maneira que não
estou.
Ser feliz é ser aquele.
E aquele não é feliz,
Porque pensa dentro
dele
E não dentro do que eu
quis.
A gente faz o que quer
Daquilo que não é nada,
Mas falha se o não
fizer,
Fica perdido na
estrada.
O que me diz o meu caro
amigo?
A tormenta que tem
lutado para não sair da minha mente é uma visão, uma vontade de rutura com os
padrões e inovações. Por que razão não mudar tudo? Não podemos ficar presos ao
passado. A sociedade precisa de uma nova cultura. Temos que a implantar e não
vamos ser desconfiados, acredito que sejamos capazes de conseguir implementar
esta nova ideia literária. Seremos precursores como Einstein e Freud e
criaremos o nosso berço de nascimento para um Portugal moderno e voltado para
um futuro audaz. No meio de tantas mudanças e inovações, não podemos ficar
presos às glórias do passado, temos de tornar Portugal grande novamente.
O que me dizes, caro Sá-Carneiro,
de instituirmos em conjunto uma revista literária como nunca antes vista em
Portugal. Nem que tenhamos de ir e voltar ao mundo dos mortos, não cometendo,
porém, o pecado fatal de Orfeu, de olhar para trás, temos de manter firme o
nosso olhar para um futuro intrépido, contudo sempre glorioso.
Orpheu, como
denominação para a revista que espalhe esta nossa nova ideologia, parece-lhe
bem? Não comente, marcaremos os espíritos…
Aguardando a sua
resposta com a maior brevidade possível.
Fernando Pessoa
EM EXCLUSIVO
uma entrevista de Fabiana Catarino e Pedro Fernandes (12ºE)