segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Não restam dúvidas: 

o modernismo chegou mesmo!


Já não há retorno! Após o caos e as constantes reviravoltas que se têm vindo a viver pela capital e pelas grandes cidades do país, admitimo-lo! Decidimos ir ver uma vidente para que nos elucidasse acerca do futuro deste pseudo movimento modernista. Saímos de lá sem fôlego, a sua bola de cristal não só nos deu a conhecer uma carta secreta de Fernando Pessoa a uma namorada desconhecida chamada Íris, e não Íbis, como também nos facultou um quasi encontro de outra dimensão. Vislumbramos, na sua bola, um indivíduo vestido de forma muito estranha que parecia vir do futuro, um certo Rodrigo Gomes que tomava notas e conseguimos lê-las através da bola de cristal, preferimos nem dizer mais nada, demasiado assustador!
Teçam as vossas próprias opiniões.



Íris Castro (12ºB)





Modernismo: O futuro do passado

Modernismo… O que é isso? Um movimento cultural, pelo que entendi da aula. Se bem que a professora não nos deu muitos detalhes, realmente quis tornar isto um desafio para todos! “Escrevam sobre o Modernismo. Utilizem o formato textual que bem vos apetecer” disse… E agora, cada um que se desembarace como puder e souber. Sabendo eu que a maior parte dos trabalhos iriam ser uma imitação dos primeiros dez links que saltam à vista ao pesquisar o tema na internet, optei por fontes de informação mais seguras e originais. Resolvi ir à biblioteca da cidade. Há uma primeira vez para tudo, não é mesmo?!

Mal terminaram as aulas, dirigi-me ao tal local onde expõem os artefactos literários. Uma caminhada custosa, uns bons cinco quilómetros. Não havia ainda chegado a meio caminho, e o meu pensamento já remoía a ideia de ir para casa e retirar a informação da segunda página do Google, de forma a parecer menos óbvia a minha trapaça. Foi num destes momentos de introspeção e mesura de valores morais, que me distraí completamente do meu propósito com o que me parecia ser uma feira, mas bem longe do seu local habitual. Cresceu em mim uma inquietação incessante, aproximei-me. Quanto mais perto estava, mais me deslumbrava. Era tal e qual as feiras que se veem nos filmes americanos: inúmeras tendas com jogos, atrações e comida. Quase podia jurar que nada estava lá no dia anterior! Fui deambulando pelos corredores improvisados, comprei umas bolachas e bebi um sumo de laranja. Não tardou até estar perdido no meio de todo aquele alvoroço!

“Venha! Fuja daqui… vá para longe! “ouvi eu à distância. Parecia de propósito, não havia nada que eu mais quisesse naquele momento. Então, corri, seguindo a voz que eu supus ser a da “salvação”. Qual foi o meu espanto no momento em que percebi que não iria para longe no espaço, mas sim no tempo. Deparo-me com uma barraca com um cartaz que dizia: “Experiência de realidade virtual!!! 10€ apenas; levámo-lo ao passado ou ao futuro!”. Quase que me enganavam com a do futuro. Como seria possível ir ao futuro, se este ainda não aconteceu? Pois! Em contrapartida, intrigou-me a ideia de visitar o passado! Pensei logo se daria para “visitar” o tempo do Modernismo, porventura adiantar trabalho, já que estava a perder tempo na feira. Uma pequena procura no telemóvel e… zumba! Já está! O ano de 1922 vai servir, pertence à primeira metade do século XX. Entrei e pedi: “para 1922, Lisboa, por favor”. Estendi mão ao bolso e tirei uns muito poupados quinze euros, dos quais ainda sobraram sete, visto que consegui regatear um pouco com o indivíduo do balcão. Deram-me uns óculos especiais e uma espécie de luvas, penso. Não sabia para que serviriam, apenas que cheiravam um pouco mal, então mantive as mãos afastadas da cara. Enfiaram-me de seguida numa salinha, quase ao empurrão.

As luzes ligaram-se e lá estava eu, a grande Lisboa, a capital! Tive imediatamente a certeza de que “estava no passado”, a minha visão tinha mudado. Parecia um filtro vintage do Instagram, daqueles que os Influencers topo de gama usam sempre que vestem calças largas, ou seja, às segundas-feiras. À minha frente, empoleirava-se um quiosque, daqueles redondos, no meio da rua, com uns acabamentos dourados na cúpula. Bonito, de facto. Na parte do atendimento encastelavam-se cerca de uma dezena de revistas. Fui fazendo um novo monte com elas enquanto lia os headlines: “Modernismo: a nova cultura. A reexaminação do tudo e do todo!”; “O domínio moderno do real em relação ao subjetivo. A valorização da Razão!”; “A euforia do moderno: Modernização desmesurada causa ansiedade e conflitos na sociedade.”; “Autoconheça-se! Psicanálise freudiana: aceda aos confins da sua mente.”; “Pintura moderna: reveja a exposição “Humoristas e Modernistas” (Porto, 1915)”; “Francisco Franco de Sousa e Leopoldo de Almeida: escultores e arquitetos do nosso tempo; O Pavilhão Expositivo do Mundo Português e a Igreja de Nª Srª  de Fátima.” Dei por mim num mar de rosas. Estava ali tudo o que precisava para o trabalho, todas as vertentes do Modernismo, as suas caraterísticas e as pessoas que as representavam. Só não tinha o tempo necessário para ver todas as informações. Posto isto, tentei a minha sorte e peguei numa só revista para analisar com mais atenção. Era uma nova, de seu título: “Charles Baudelaire: o início da literatura moderna?”. Folheava e lia, até que um nome sobressaiu. O senhor Fernando Pessoa, o poeta que é fingidor, não mentiroso, que é um gato, uma criança, uma flor… ou que pelo menos o desejava. O artigo falava das primeiras publicações de Pessoa ortónimo na revista Orpheu, em 1915, e de como foram mal recebidas. Pobre homem moderno, foi dos primeiros! Esqueceu o passado, o ultrapassado, comprometeu-se com as experiências da vida moderna e publicou poemas complexos, difíceis demais para a sociedade retrógrada que o acompanhava.  Foi um inovador. E, de repente, tudo preto.

Durou tanto quanto oito euros puderam pagar. Retiraram-me da sala, devolvi o equipamento e saí da tenda. Durante algum tempo não consegui ver muito bem, devido à diferença das cores, mas rapidamente passou. Quem diria que um imprevisto viria a ser tão favorável, que me permitiria realizar um trabalho certamente moroso. Já sabia bastante sobre o Modernismo. Estava pronto a começar. Afinal de contas, a minha primeira visita à biblioteca não foi naquele dia. Rapidamente fui para casa e, enquanto tinha a memória fresca, escrevi…

 

Rodrigo Gomes (12ºB)