domingo, 15 de novembro de 2020

 Durante estes próximos dias, acompanharemos um tempo novo!

O Modernismo invade Portugal.

As turmas 12ºB e 12ºE e a professora Helena Bártolo 

convidam-nos a acompanhar os testemunhos diretos de quem vive este momento.


Caros leitores, caros ouvintes, caros amigos. 
O caos parece ter-se instalado por terras lusitanas. Os folhetos da capital só já anunciam a chegada deste novo movimento, até recebemos queixas de empregadas de mesa.
Que se passará? 
Quem tiver mais informações poderá comunicar, o quanto antes, com a nossa agência. Não deixem que esta loucura ganhe força. Denunciem-na, o Modernismo não pode vingar!!!


Desabafos de uma empregada


                                                                                                                 Fernando Pessoa por Almada Negreiros
                                     

Faz precisamente hoje um ano que Fernando Pessoa aparenta ter-se mudado de malas e bagagens para aqui. Todos os dias, bem cedo, decide instalar-se na mesma mesa e pedir a previsível bica, que beberica enquanto me rabisca os guardanapos todos, não sei com que tinta, ... certamente que, de vez em quando, usa as borras do café. Já quase nem posso limpar as migalhas que faz, de tanto tempo que aqui passa.

Não consigo compreender, escreve, escreve, .... passa os dias a escrever, e o que publica, aqueles poemas, que raramente aparecem para apanhar a luz do dia, parece que nem sentido têm, são completamente indecifráveis. Que é feito dos escritores românticos que lia quando ainda era catraia? Que é feito dos livros onde o amor proibido estava constantemente presente? Onde estão os livros onde vários homens disputavam pela mesma mulher? Isso sim, eram coisas que valiam a pena ler, cativavam-me.

Pelo que dizem, este maluquinho guarda todos os pedacinhos de papel onde gatafunha aquela caligrafia horrorosa. Decerto que passando tanto tempo aqui, não deve haver espaço em sua casa para viver, no meio de tanta papelada.

Mas não é só ele, ele é um dos inconscientes que decidiram introduzir, no nosso país, esta nova corrente artística, a que chamam Modernismo.

Até os pintores, escultores e arquitetos aderiram, feitos macaquinhos de imitação, não bastavam os escritores, tiveram todos de ir atrás, em filinha indiana.

Os pintores, abandonaram o naturalismo e realismo, a que estava tão habituada. Trocaram as belas pinturas que retratavam a natureza (e que me transmitiam felicidade), os incríveis detalhes e a fidelidade ao real (tanto nos retratos, paisagens e cenas do quotidiano, ... tudo o que escolhiam transmitir nas suas telas) por críticas e denúncias sociais, políticas e do clero, que são representadas através de formas demasiado geométricas, não livres, que por vezes até me parecem forçadas, mas que aos entendidos transmitem movimento. No que toca ao seu preenchimento predominam as cores vibrantes, berrantes, ... cores que nem pensava que os pintores se atreveriam a utilizar. Mas, segundo eles, mudar é bom, e quando o decidem fazer viram tudo de patas para o ar e não querem saber do que as pessoas pensam.

Isto é vergonhoso, escandaloso até. Talvez começar este movimento tenha sido o maior erro que alguém já cometeu. Como é que há pessoas que apreciam este novo tipo de rabiscos retos, que se parecem com os gatafunhos de Pessoa? A continuar assim, nem quero imaginar como será a pintura, literatura e todas as formas de arte no tempo dos meus bisnetos, trinetos e por aí fora...

É um despautério, absurdo, saber que estes tipos de obras andam por aí a circular, mas ainda pior, é ter de vir trabalhar todos os dias ver estes quadros a preencher todos os recantos do café.

 Lisboa,

Rosângela Benevides

(e não sou nenhum heterónimo da Diana Amarante do 12ºB
mas sim uma simples empregada de mesa!)




A LUSITANIA , publicação de 12 de novembro de 1922
edição de Miguel Almeida 








Miguel Almeida (12ºB)