Fernando Pessoa tem estado presente nas aulas de Português do 12ºC.
E tem sido bem recebido.
Aqui ficam algumas provas...
As pessoas de Fernando Pessoa
Neste cartoon estão apresentadas cinco figuras masculinas, de chapéu. No
centro, está ilustrado um homem de fato, maior que os outros, a segurar uma
mala por onde estão a sair as outras quatro figuras por fios. No lado
esquerdo, está desenhado um homem de fato, sentado a escrever um livro de
título “Livro do Desassossego” e um homem de jardineiras, com algo na boca e a
segurar um báculo. No lado direito, observo o único homem sem bigode e outro
sem óculos, mas com um monóculo e a escrever “Ode triunfal”.
Na minha opinião, este cartoon relaciona-se perfeitamente com Fernando
Pessoa, na medida em que apresenta quatro dos seus heterónimos. A meu ver, o
homem no centro deve representar o próprio Fernando Pessoa, uma vez que num
documentário visto em aula aprendi que o autor ia para todos os lugares com uma
arca cheia de folhas escritas por ele; logo, faz sentido que os seus
heterónimos saiam de lá. O primeiro homem poderá simbolizar Bernardo Soares, um
semi-heterónimo que escreveu o “Livro do Desassossego”. A segunda personagem
poderá representar o poeta bucólico Alberto Caeiro, que terá nascido em 1889 e
falecido em 1915, que viveu quase toda a sua vida no campo e redigiu os livros
“O Guardador de Rebanhos”, “O Pastor Amoroso” e “Os Poemas Inconjuntos” e que
foi considerado pelo próprio Pessoa como sendo o seu mestre. O primeiro homem
do lado direito deverá retratar o poeta clássico Ricardo Reis, que nasceu em 1887,
faleceu em 1936, foi discípulo de Alberto Caeiro, aparecia quando Fernando
Pessoa estava cansado ou sonolento e que foi caracterizado por ele como “um
pouco mais baixo, mais forte e seco que Caeiro e usando a cara rapada”. Por
fim, a última figura poderá retratar Álvaro de Campos, que nasceu em 15 de
outubro de 1890 às 13:30h, usava um monóculo, escreveu “Opiário” e “Ode
triunfal” (como está representado no desenho) e foi o heterónimo que mostrou
mais evolução nas correntes literárias, visto que passou por três fases: a
decadência, a luz e a tristeza.
Portanto, todos eles podem ser identificados e reconhecidos no cartoon
através de objetos e/ou elementos caracterizadores das suas personagens:
Bernardo Soares pelo livro “Livro do desassossego”; Alberto Caeiro pela
vestimenta de pastor e o báculo; Fernando Pessoa pela sua arca (ou mala);
Ricardo Reis pela ausência de bigode e Álvaro de Campos pelo seu monóculo e o
livro “Ode triunfal”.
Fernando Pessoa, poeta muito
conhecido na literatura portuguesa, mas, tal como Cesário Verde, também
não foi devidamente reconhecido no seu tempo.
No dia 13 de junho de 1888, dia
de S. António, por volta das 15 horas, Fernando Pessoa nasce na cidade de
Lisboa. Por ter nascido neste dia, teve como segundo nome António, sendo
registado como, Fernando António de Nogueira Pessoa.
Durante anos, a vida do poeta foi
uma constante mudança, mas o que não mudava era a sua obsessão pelas letras e a
compulsividade de escrever. Podemos dizer que Fernando Pessoa tinha várias personalidades
e para cada uma elas criava uma identidade dando-lhes vida. Porém, como a sua
poesia não era admirada pelo público, Pessoa teve vários empregos: tradutor - a língua
inglesa era praticamente a sua língua materna -, publicitário -criando, inclusive, o 1.º slogan publicitário para a venda da Coca-cola em Portugal: “Primeiro estranha-se,
depois entranha-se”.
Fernando Pessoa morre a 30 de
novembro de 1935, no hospital de São Luís dos Franceses, em Lisboa, com o
diagnóstico de Cirrose Hepática, mas, após a sua morte, o povo português
apercebeu-se do tesouro que os seus poemas eram e, hoje, damos o devido valor e o devido respeito à sua obra literária.
Fernando Pessoa – a minha
autobiografia
Foi no dia 13 de junho de 1888 que eu, Fernando
António Nogueira Pessoa, nasci. E não houve melhor dia do que esse, o de Santo
António, padroeiro de Lisboa, o meu lar, a cidade que amei mais do que tudo.
Modéstia à parte, acho que todos vós sabeis quem sou: Fernando Pessoa, sim, aquele
escritor, aquele que inventou muitos escritores. Chega a ser irónico o meu
apelido ser “Pessoa”: eu não sou só eu, eu sou muitos eus, muitas pessoas
diferentes, bem diferentes, mas igualmente importantes. Afinal, quem seria eu
sem os meus eus?
A “minha querida mamã”, Maria Madalena, nasceu nos
Açores. Como foi ela quem me ensinou a escrever, nada mais justo do que lhe ter
dedicado os meus primeiros versos, que redigi aos sete anos. O meu pai, Joaquim
Pessoa, nasceu em Lisboa, mas não o conheci bem – a tuberculose levou-o quando
eu tinha apenas cinco anos. Em 1896, a minha mãe e eu fomos para Durban, para o
pé do meu padrasto, João Rosa, mas, nove anos depois, regressei a Lisboa, para
não mais de lá sair. Era Lisboa que me inspirava, era Lisboa que me acolhia, no
seu seio materno e caloroso. Aí, tentei abrir a empresa Íbis, que não durou
mais de um ano, com a herança da minha falecida avó Dionísia (que sempre me
assustou, com a sua mente conturbada).
O emprego com que fiquei foi o de correspondente
estrangeiro em casas comerciais, vulgo, tradutor. E que rico emprego, que me
dava tempo para escrever, escrever muito, escrever sobre a tragédia da
existência, sobre a ilusão, sobre a vida, sobre a morte, enfim, escrever sobre o
que me ia na alma. Escusado será dizer que escrever sempre foi a minha paixão. Por
falar em paixões, namoradas só tive uma, Ofélia Queiroz. Era boa menina a
Ofélinha, mas eu vim ao mundo para “ser sozinho”, como já dizia Álvaro de
Campos num dos seus (ou dos meus) poemas.
Sozinho é como quem diz, só o era quando queria.
Mudava muitas vezes de casa, sem esquecer a minha arca com os papéis onde
escrevia, e tanto vivia sozinho como acompanhado. Amigos tinha muitos, gostava
de trocar correspondência com eles, de ir aos cafés, ou, cá para nós, de lhes
pedir algum dinheiro, quando o que tinha não chegava para as minhas coleções de
roupa e de livros. Por muito que eu gostasse da minha própria companhia,
custava-me vê-los partir, como foi o caso de Mário de Sá-Carneiro, que me
deixou cedo demais.
Enfim, fui um homem pacato, modesto e sereno, mas bom
humor não me faltava, nem mesmo durante as minhas crises depressivas. Morri em
1935, da forma como me sentia bem: sozinho, em Lisboa, vítima do álcool, que me
acompanhou durante toda a minha vida. Deixei--vos muitas recordações, muitas
folhas, muitas obras, muitas pessoas, que, em vida, não me deram o
reconhecimento com o qual sempre sonhei. De mim, resta apenas a minha alma, que
vos fala agora. A finitude humana não nos deixa ser nada se não isso mesmo:
nada. O que importa é viver cada momento e não perder tempo com questões
existenciais, que apenas nos trazem angústia, revolta e nada mais. Celebrai a
vida: a felicidade está onde não a vemos.
Fontes: Casa Fernando Pessoa; reportagem Grandes Portugueses – Fernando Pessoa
Autobiografia de Fernando Pessoa
Nasci a 13 de junho de 1888, no
dia de Santo António, padroeiro de Lisboa, do qual advém o meu nome, Fernando
António Nogueira Pessoa.
Passei a minha infância com minha
mãe, Maria Madalena Pinheiro Nogueira, que sabia falar francês, inglês e tocar
vários instrumentos musicais. Meu pai, Joaquim de Seabra Pessoa, que escrevia
críticas musicais, morreu numa madrugada de 1893, quando eu tinha apenas 5
anos, devido à fatal doença dos pulmões, também conhecida como tuberculose.
Pouco tempo depois, minha mãe
volta a casar com o comandante João Miguel Rosa que posteriormente foi
destacado na África do Sul como cônsul português em Durban. Foi por essa altura
que nasceu o meu primeiro “eu”, Chevalier de Pas, que viria a fazer parte de
“uma múltipla rede de muitos eus”.
Em 1896, a minha família e eu
partimos para a nossa nova vida desconhecida em África.
Acredito que suplantei as expectativas
que as pessoas tinham em relação à minha presença na escola, tendo atingido um
alto nível de prestígio no meu percurso enquanto aluno. Sempre me inspirei nos mestres da literatura inglesa como Shakespeare, Edgar Allan Poe e John
Milton. Durante a minha adolescência, estes grandes nomes proporcionaram-me um
refúgio muito apreciado e estimado.
Quando chegou a altura de entrar
para uma faculdade, decidi candidatar-me a Oxford ou Cambridge. Embora tivesse a
nota de admissão mais alta, não obtive uma bolsa académica, porque não cumpria o
mísero requisito de ter frequentado uma escola inglesa.
Depois deste acontecimento, decidi
regressar definitivamente a Portugal com apenas 17 anos.
Ingressei no Curso Superior de
Letras da Universidade de Lisboa, mas rapidamente desisti devido à falta de
interesse que despertava em mim. Não era algo que me desafiava e, por essa
mesma razão, não encontrei motivos para continuar.
Para mim, ser escritor não é uma
profissão, é a minha forma de estar na vida. Enquanto dedicava parte do meu
tempo a escrever poemas, decidi, também, começar a trabalhar como tradutor de
correspondência comercial, ou como muitos chamam, "correspondente
estrangeiro". Esta é uma ocupação magnífica uma vez que considero o inglês
uma das minhas línguas principais.
Agora, que reflito sobre o meu
passado, verifico que o meu lar é, na verdade, a cidade de Lisboa. Durante toda
a minha vida, vivi em quartos e casas alugadas, sem assentar em lado algum.
Para ser franco, apenas necessitava do meu baú e dos meus escritos.
O isolamento era imprescindível
para a minha escrita, contudo não suportava quando este isolamento era imposto
por outros - cabia à minha pessoa decidir quando seriam os meus momentos de
solidão.
Enamorei-me por Ofélia Queiroz, mas, devido à minha personalidade tumultuosa e temperamental, não nos
mantivemos juntos por muito tempo.
Ao longo dos anos, fui publicando
alguns textos em revistas e jornais portugueses ou estrangeiros e comecei a
idealizar os meus outros “eus”. Cuido que os mais emblemáticos tenham sido um
trio: Alberto Caeiro, o poeta bucólico, Ricardo Reis, o poeta clássico, e Álvaro
de Campos, o poeta da Modernidade.
Sempre que tinha oportunidade
escrevia o que me vinha à cabeça, mas verifico que o momento predileto era a noite, enquanto redigia de pé.
Ao examinar a minha vida,
constato que tive bons amigos que me acompanharam, tal como, Mário de
Sá-Carneiro e Almada Negreiros, com os quais também, em tempos, trabalhei.
Muitos podem não saber, mas desenvolvi
um grande interesse pela astrologia, sendo que dediquei algum do meu tempo à
criação de horóscopos e cartas astrológicas.
Sei que é um mau hábito, porém desfruto
regularmente de um bom tabaco e absinto para me ajudar a escrever e a
ultrapassar os dias mais difíceis.
É com grande pesar que me
despeço, nestes momentos finais da minha existência, da pátria que me amparou
durante toda a minha vida. Hoje, dia 30 de novembro de 1935, parto com uma
mensagem final: "I know not what tomorrow will bring".
Matilde Carvalho (12ºC)