Amigo
Maior que o pensamento…
Afonso não respondeste à minha última
mensagem, não era teu costume, e fiquei desapontado. Sempre foste rápido e
habilidoso na resposta. Desta vez a resposta tardou...e eu temi. Fiquei agora a
saber, pelo Zé, que não mais vais responder às minhas mensagens. Deixas-me só neste exercício inútil de
escrever mensagens sem resposta. Não perdi, apenas, uma mensagem perdi um amigo
insubstituível como insubstituíveis são os grandes amigos. Não basta, para me
confortar, o exercício de memória que faz com que os amigos se perpetuem maior
ou menor seja o seu reinado. Há, na brasileira, uma mesa que não partilho mais
e quando lá voltar vou pedir dois cafés um para mim outro para ti. Precisava de
mais, de muito mais. Queria mais uma vez ver os teus projetos, esboços, que me
confundiam, que me aturdiam, que tentavas em vão explicar-me, mas que
invariavelmente davam certos. Nunca foste fácil se o teu caminho te mandatava “é
por aqui”. Nunca cedeste à tentação
do caminho fácil, ou do atalho próximo. Poder-te-ia dizer que a tua aposentação
roubou à escola um grande pedaço de inspiração que nunca mais foi preenchido.
Poder-te-ia dizer que lá deixaste um vazio e grande grupo de amigos que nunca
te esquecerão. Mas tu, isso, já sabes.
Fernando Castro
In memoriam Afonso