segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

 Amigo

Maior que o pensamento…

 

Afonso não respondeste à minha última mensagem, não era teu costume, e fiquei desapontado. Sempre foste rápido e habilidoso na resposta. Desta vez a resposta tardou...e eu temi. Fiquei agora a saber, pelo Zé, que não mais vais responder às minhas mensagens.  Deixas-me só neste exercício inútil de escrever mensagens sem resposta. Não perdi, apenas, uma mensagem perdi um amigo insubstituível como insubstituíveis são os grandes amigos. Não basta, para me confortar, o exercício de memória que faz com que os amigos se perpetuem maior ou menor seja o seu reinado. Há, na brasileira, uma mesa que não partilho mais e quando lá voltar vou pedir dois cafés um para mim outro para ti. Precisava de mais, de muito mais. Queria mais uma vez ver os teus projetos, esboços, que me confundiam, que me aturdiam, que tentavas em vão explicar-me, mas que invariavelmente davam certos. Nunca foste fácil se o teu caminho te mandatava “é por aqui”. Nunca cedeste à tentação do caminho fácil, ou do atalho próximo. Poder-te-ia dizer que a tua aposentação roubou à escola um grande pedaço de inspiração que nunca mais foi preenchido. Poder-te-ia dizer que lá deixaste um vazio e grande grupo de amigos que nunca te esquecerão. Mas tu, isso, já sabes.

 Fernando Castro



In memoriam Afonso



Rosa Sousa