Como já foi aqui divulgado em trabalhos anteriores,
várias obras foram mote para algumas reflexões
acerca da evolução do papel da Mulher na sociedade.
Sob que prisma nos irão colher estes alunos dos 11º e 12º anos?
Só surge uma resposta possível: vendo, ouvindo e lendo!
Por Maria Silva do 11ºD para ver e ouvir aqui.
Por João Vale do 11ºD aqui.
A mulher na lírica trovadoresca e na Farsa de Inês
Pereira, de Gil Vicente
O conceito de mulher “ideal” tem vindo a alterar -se.
Na literatura é bastante notória a evolução do conceito de Mulher Ideal.
Verdadeiramente não existe uma definição precisa para este assunto, dado que os
gostos, as virtudes de cada um são diferentes.
Na época medieval, as mulheres estavam “destinadas”
ao meio doméstico quase sem liberdade e deveriam ser submissas. Eram, de certa
forma, obrigadas a casar, a constituir família e a cuidar a tempo inteiro dos
filhos. Na poesia trovadoresca e, principalmente nas cantigas de amor
retrata-se a mulher ideal, “a senhor”.
A mulher era verdadeiramente bela e única (aos olhos do trovador). Nas
cantigas de amigo, de origem galaico-portuguesa, o trovador assume o papel de
voz feminina que canta o seu amor. A mulher nestas cantigas é mais real.
No século XVI,
podemos encontrar uma outra visão da mulher nas obras de Gil Vicente. Na
escrita vicentina a mulher é diferente. Tomemos como exemplo a Farsa de Inês
Pereira, Gil Vicente torna a mulher na personagem principal para criticar a
sociedade, onde domina o oportunismo. Inês não tem a vida que queria, queixa-se
por ter de fazer os trabalhos domésticos e também pela falta de liberdade,
portanto queria casar com um homem à sua escolha para garantir a sua
“liberdade” – como se enganou!
As outras personagens femininas como a mãe de Inês,
que representa todas as mães da época que só queriam o melhor para os seus
filhos, e Lianor Vaz, a típica alcoviteira, demonstram como Gil Vicente
perceciona a mulher da sua época.
Em suma, a
partir da Lírica trovadoresca e da Farsa
de Inês Pereira, que já estudamos,
pudemos analisar duas visões diferentes, em tempos diferentes, mas cada mulher
tem características muito próprias.
Como é do conhecimento geral, a
forma como é olhada/vista a mulher foi sofrendo uma grande alteração ao longo
dos tempos.
Inicialmente, a mulher era vista
como um objeto, algo a possuir, uma pessoa que não tinha liberdade nem opção de
escolha. Mas, felizmente, com o decorrer dos séculos, esta realidade foi-se
alterando e existe cada vez mais igualdade de género.
Na literatura, ocorreram também
grandes mudanças no que diz respeito à representação da mulher.
Na Idade Média, através da lírica
trovadoresca, a mulher era encarada com uma certa pureza e ingenuidade. Em
última instância, a figura feminina servia apenas para ser amada e dar conforto
aos que estavam à sua volta.
Na obra de Gil Vicente “Farsa de Inês Pereira”, a mulher
demonstra ter desejos e ambições para a futuro. Contudo, ainda está dependente
dos homens para ter o mínimo de liberdade, ou seja, o casamento é algo
indispensável para uma mulher daquela altura. Esta obra aborda também o lado
mais astuto da mulher, pois, através da personagem principal – Inês Pereira –
somos confrontados com a perícia desta mulher para cometer adultério e
contrariar o que eram as normas da época para a figura feminina.
Com a poesia de Luís de Camões, a
mulher alcança um estatuto quase divino, mas é inalcançável, pois representa a
perfeição física e espiritual. A mulher é elevada a um patamar não terreno,
contudo, trata-se apenas de uma idealização da mulher que não corresponde à
realidade. É novamente ligada às noções de integridade e inocência.
Em “Frei Luís de Sousa”, “Amor
de Perdição” e “Os Maias”, a
mulher é multifacetada, marcada por diversos tipos de sentimentos e ideais.
Obviamente ainda é assolada pelos modelos sociais adotados, mas é possível
distinguir as personagens típicas da época daquelas mais vanguardistas, que
impulsionam uma nova visão da mulher e que pretendem quebrar os padrões
culturais.
Na poesia de Cesário Verde,
conhecida pelo seu realismo, a figura feminina apresenta fragilidades, é
humana. Vemos tanto a mulher trabalhadora com a mulher fatal.
Com a constante aproximação ao
século XXI, na literatura, a mulher vai sendo uma figura inspiradora, capaz de
nos causar reflexões introspetivas e nos assegurar que um futuro melhor é
possível, se lutarmos por ele.
O conto “George” de Maria Judite de Carvalho,
dá-nos a conhecer uma personagem tripartida, ou seja, três fases da vida da
mulher que se assemelham com a realidade. A fase jovem, marcada pela incerteza
e pelos sonhos grandiosos, a fase adulta em que conseguimos realizar, se nos
esforçarmos, os nossos sonhos e ambições e, por fim, a última fase que é um
momento de reflexão e arrependimentos. Através deste conto, a figura feminina
revela-se equivalente à do homem, pois tem liberdade total e permissão para
desejar, ambicionar e conquistar tudo o que pretende. Por exemplo, conseguir
uma carreira (antigamente nem a possibilidade de sonhar com ela…).
A literatura tem registado a evolução da figura
feminina ao longo da história, para que nunca nos esqueçamos das dificuldades
que inúmeras mulheres tiveram de enfrentar para que nós, hoje, sejamos capazes
de usufruir da nossa liberdade e dos nossos direitos!