“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”
No passado dia 28 de abril tive a oportunidade de participar na fase intermunicipal do Concurso Nacional de Leitura, em Guimarães. Foram comigo professores e colegas povoenses cuja companhia tornou o meu dia mais animado.
Os
professores, querendo aliviar o peso e responsabilidade que nós (alunos)
sentíamos, levaram-nos a conhecer um pouco mais de Guimarães através de uma
viajem de teleférico. Foi para mim uma experiência inédita, mas que abracei com
muita vontade e que não esquecerei, de tão extraordinária que foi. Em menos de
uma hora todo o nervosismo se dissipou e ficou nítido que apenas a participação
e o facto de que estávamos dispostos a dar o nosso melhor neste evento já nos
tornaria vencedores.
Chegar
ao Teatro Jordão, onde seria o concurso, foi um momento especial porque pela
primeira vez senti que realmente seria peça de um evento tão bonito e que
enaltece aquilo que mais amo fazer: ler. Senti-me acolhida pelos colaboradores,
contagiada pela energia daquele ambiente e confortada pelo olhar amigo dos
colegas e professores, incentivando-nos uns aos outros. Fiquei encantada pela
quantidade de alunos com livros pousados nos seus colos ou segurados em suas
mãos e pelo eloquente apresentador que prendia a atenção de todos nós apenas
com as suas palavras cobertas de humor. Surpreendi-me por ver a atriz e
encenadora Sara Barros Leitão no painel de jurados, pois desde cedo acompanhava
o seu trabalho na televisão e existe algo de fascinante em ver a vivo e a cores
uma cara conhecida originalmente através da televisão. Foi um programa muito
bom que me cativou e inquietou por uma tarde inteira.
Falando
do desafio em si, a concretização deste requeria a leitura de um dos mais
célebres livros de José Saramago, “Ensaio sobre a cegueira”.
Para
além do desafio que era o concurso, também a leitura do livro foi instigante.
“Ensaio sobre a cegueira” é, na minha opinião,
como um ramo de silvas. A escrita extremamente gráfica e crua alia-se a uma
premissa tenebrosa capaz de perturbar qualquer leitor. Rapidamente o leitor mergulha
num mundo afogado em ódio, desespero e violência causados por pessoas que
subitamente cegam. Cada página é um grão de sal na ferida. Ainda assim, ao ler
este livro, somos agraciados pelas reflexões geniais do autor que nesta obra
nos incentiva a VER, ver além da nossa cegueira, ver além das ondas de
ignorância que nos afogam e abrir os olhos perante a maldade do mundo.
A minha participação neste concurso terminou. Todavia, as boas memórias deste dia permanecem vívidas e as lições do livro que li, tal como os ensinamentos de todos os outros que passam pelas minhas mãos, são agora uma continuação daquilo que eu sou e vivem através de mim. Disse Saramago: “Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.”. Essa coisa constrói-se por aquilo que vemos e se há algo capaz de abrir os nossos olhos, esse algo é a leitura.
Joana
Faria