Querido diário,
Hoje lembrei-me de toda a minha
família. Será que estão bem? Contudo, estou especialmente preocupada com a
minha avó que está num estado bastante debilitado. Mas tenho que me manter
positiva e, no meio destes pensamentos, surgiu uma memória muitíssimo boa de
uma conversa sobre “Família” que tive com ela… nem por acaso:
O conceito de família tem vindo a
modificar-se, acompanhando as mudanças de mentalidade e comportamentos.
Existirá, no entanto, uma definição
universal de família?
Eu digo que não e tu, com a
experiência de muitos anos e vivências de dois séculos diferentes, apoias a
minha perspetiva.
“É o pilar da casa” afirmas com
muita certeza e, com isso, imaginas aqueles tempos em que eras jovem e toda a
família, avós, pais, tios, filhos, primos, netos e bisnetos, se reuniam naquela
mesa comprida da velha casa onde todos eram felizes. Infelizmente não pude
experienciar isso.
Todavia, este pilar está a
degradar-se e com remendos, dado que as famílias são cada vez mais pequenas, mais
separadas e reestruturadas com novos casamentos e uniões.
A tua face entristece, porque
também sabes disso e suspiras, deixando escapar um desabafo – “Agora está
destruída!”. Não posso deixar de concordar, uma vez que atualmente todos vivem
melhor e têm uma maior liberdade, mas há um maior desrespeito.
Alegras-te. Os teus olhos brilham,
recuas décadas e explicas-me que, embora as famílias tivessem menos
possibilidades e trabalhassem de sol a sol para se sustentarem, eram todos mais
humildes, com mais fé e muito unidos, reinando o respeito e a confiança.
“Agora… são todos um bando de
egoístas!!” – revoltas-te como se criticasses os teus – “É uma pena os filhos
não respeitarem os pais e os avós depois de tudo o que passaram, esquecendo-se
de que eles já foram novos. São experientes na vida, sabias!?” Pois, é verdade,
penso eu. Nunca a imaginei tão sábia. Contudo, tenho algo a dizer. É que,
apesar destas contrariedades, os laços de parentesco e afetos que ligam todos
os membros fazem com que a família nos dê conforto, tranquilidade, apoio,
alegria e que seja um porto de abrigo.
Estás a olhar para mim enquanto
escrevo. Espero não te estar a aborrecer – pondero – mas tens um sorriso entre
essas lindas rugas.
Porém, será a família apenas
composta por pessoas ligadas por laços de sangue?
Pensas. Buscas as memórias certas
e, de modo tranquilo e firme, revelas – “Não. Sabes… aqueles amigos mesmo
amigos, os do coração” – levas a mão trémula ao peito – “esses também são
familiares”. Ora nem mais, não podia estar mais de acordo. Os amigos
verdadeiros, os que estão sempre ao nosso lado, os que nos apoiam, os que têm
sempre um ombro e uma palavra certa; esses, por vezes, são mais família do que
os de sangue, que nem sempre acreditam em nós, abandonam-nos e desprezam-nos.
Estamos as duas satisfeitas com
esta partilha e abraçamo-nos, porque eu amo-te e porque somos família.
Marina Peixoto (11ºD)
Sábado, 18 de abril de
2020
Querido diário,
Estamos, hoje, no
trigésimo quarto dia de quarentena e vi uma notícia que referia que países
governados por mulheres estão a ter uma maior eficácia no combate ao
coronavírus.
As mulheres têm sido
cada vez mais valorizadas nos últimos tempos, porém, ainda não podemos falar
numa igualdade total de géneros. Há países em que as mulheres são totalmente
rebaixadas, não sendo o nosso, de todo, um desses casos. Ainda assim,
permanecem vários ideais nas nossas mentalidades que, sem nos darmos conta, são
machistas; penso que, até se remover totalmente o machismo da sociedade, terão
de se renovar gerações e gerações.
Considero que esta
notícia possa ter um maior impacto em pessoas que não vêem as mulheres como
pessoas adequadas para exercer cargos relacionados com o governo. A vocação de
alguém para exercer uma determinada profissão é independente do género: está
relacionada com o dom que cada um tem. Por isso, mulheres e homens devem ser vistos
como igualmente capazes de governar um país, como pudemos ver pela notícia; mas
é de relembrar que mulheres também não são superiores aos homens – várias
pessoas tentam rebaixar o sexo masculino para enaltecer o sexo feminino o que
não é, de todo, uma atitude que vá de encontro aos ideais de igualdade que o
feminismo pressupõe.
Maria João Fontão (11ºC)
Este tempo… dia 36
18.Abril.2020
Há alguns dias, tinham-me pedido
para contar, escrevendo, a história do início dos Gambozinos – é verdade:
existem mesmo! Os Gambozinos são um movimento ligado aos jesuítas que nasceu em
1993. O sonho de um mundo mais justo e solidário onde se esbatem fronteiras e
preconceitos, onde se cruzam mundos sócio-económico-culturais opostos e onde
cada um pode encontrar o seu lugar e a sua missão no mundo e na vida [nas
palavras do padre Pedro Arrupe sj: a justiça social não se satisfaz com
esmolas, mas facultando a todos o desenvolvimento da personalidade] torna-se
vida nos Gambozinos.
Hoje, contei essa história. Abri
armários e gavetas. Álbuns de fotografias e envelopes amarelecidos pelo tempo.
Cartas e dedicatórias à mamã. Diários de campo e cadernos de músicas. Abri
memórias. Abri o coração. Visitei as casas de sempre. Ouvi os risos e as
discussões. Voltei aos nossos pontos de encontro. Tantos e tantos rostos me
fizeram sorrir. Encontro, hoje, tantos deles aqui, a viverem a vida de uma
forma diferente daquela que era esperada. Os Gambozinos nascem do sonho da
construção de um mundo mais justo no qual cada um coloca tudo o que é. E esse
sonho cresce até hoje. A certeza de que Deus está presente, que acompanha cada
dia dos Gambozinos e que tudo dá é o que faz continuar a acreditar que vale a
pena entregarmo-nos, fazendo parte da vida uns dos outros. Permitindo que o
mundo avance connosco.
Neste tempo em que as memórias
têm permissão para ocupar algum do nosso espaço, foi bom voltar a este início
que permitiu que tantas vidas – à partida condenadas à violência e à
criminalidade - acertassem agulhas e mudassem de rumo. Gosto sempre de voltar à
liberdade que cada início permite. E, hoje, é um novo início. Cada hoje o é.
Livre.