Terça-feira, 26 de maio
de 2020
Querido diário,
Estamos, hoje, no
septuagésimo segundo dia de quarentena. Há uns dias, vi um vídeo que falava
sobre racismo. Esse vídeo fez-me refletir bastante sobre o assunto: é frequente
ver pessoas que dizem que não há racismo contra a raça branca, pois nada supera
o racismo que vitimizou, desde sempre, a raça negra.
De facto, a história (e
o presente) prova-nos que a raça negra foi a que mais sofreu com o racismo,
porém, racismo é qualquer atitude que discrimine / ofenda / exclua alguém, por
ter características diferentes das do ofensor – portanto, ainda que seja
inegável que a raça negra é, e sempre foi, vítima de um grande preconceito, não
podemos desculpabilizar atitudes racistas contra qualquer outra raça, apenas
porque não toma as mesmas dimensões.
É importante que se reconheça que
toda a atitude que faça alguém sentir-se excluído / atacado (quer física, quer
psicologicamente), devido à sua etnia, região ou cultura (entre outros fatores)
é racista, sendo que só reconhecendo as atitudes racistas se pode combater este
problema tão grave para a sociedade.
Maria João Fontão (11ºC)
Querido diário,
Neste tempo de
pandemia os nossos heróis vestem capa branca, e mais uns acessórios que lhes
salvam a vida, como máscara, luvas, viseira, touca, batas descartáveis… Eles
são os enfermeiros e os médicos que dia após dia lidam com os doentes, quer
sejam eles infetados ou não pelo coronavírus. Todos eles estão na linha da
frente, dando o corpo às balas, lutando por cada um de nós, lidando com os seus
sentimentos e vezes sem conta com os dos outros, sobrevivendo a este monstro
invisível.
No entanto, não
consigo perceber como é que um casal de enfermeiros, que ficou contaminado
porque estava a trabalhar, a cumprir a sua função, a ajudar aqueles que mais
necessitavam nos hospitais, e que teve que ficar em casa em isolamento, recebe
somente pouco mais de 60€ no final do mês quando, segundo a lei e se não me
engano, teria direito a cerca de 70% do salário. Chega até a ser vergonhoso
isto acontecer, principalmente por serem o que são e pela função indispensável
que prestam ao país.
É uma enorme desconsideração
para todos os profissionais de saúde algo assim ocorrer. Eu sinto como se esta
injustiça, este incumprimento, esta desvalorização, afetasse todos os
profissionais que se depararam no meio deste furacão. Acho inaceitável e
revoltante.
“A injustiça que se faz a um é uma ameaça que se
faz a todos!”
Marina Peixoto (11ºD)
Esta fase veio surpreender toda
a gente, principalmente aqueles que davam a liberdade como um bem
garantido/adquirido. Eu, pessoalmente, sempre tive bastantes dificuldades em
lidar com o facto de estar fechada em casa sem poder sair ou fazer alguma coisa
que me fizesse sentir útil. Lembro-me de ter uma necessidade enorme de
interagir com pessoas fora das minhas quatro paredes até quando ainda só estava
em casa há dois ou três dias.
Por essa razão, esta época tem-se
tornado muito difícil para quase todos. Para mim tem sido um momento de
superação e de aprendizagem. Aprendi a vencer um medo que tinha e entendi que
somos nós que criamos os nossos próprios limites, podendo quebrá-los sempre que
possível e evoluindo, assim, como pessoas.
Para combater a dificuldade de
aceitar que temos e devemos seguir as recomendações que nos foram dadas, ocupo
o meu tempo a estudar e a fazer exercício, essencialmente. Estes são, muito
provavelmente, os únicos momentos do meu dia em que não me sinto a viver um
estado de emergência que nunca pensei viver e que me consigo abster deste
período menos bom.
Lara Marques, nº18, 12ºC
Isto é tão estranho, olho à minha
volta vejo um filme. Reparo, como nunca antes o fizera, no toque entre as
personagens, estão próximos e abraçam-se. Que estranho tudo me parece nestes
dias, querer abraçar e não poder, querer estar com os meus amigos e não poder,
querer… Pediram-nos para ficar em casa (com o tempo, a irritação floresce, a
cabeça entra em distúrbio permanente, o estado melancólico torna-se normal. Há
toda uma vida parada, com rumo incerto, o que nos deixa preocupados com o
futuro). Sabemos que é altura para ficar, todos nós, e assim sermos também um
pouco como os heróis que lutam para salvar vidas, que foram amarrados por este
vírus em forma de bola que tanto ansiamos chutar para longe daqui.
A vida é “vela”, “ontem”
estávamos com a vida a mil, com sonhos e desejos com uma vida planeada, com a
chama bem acesa, e hoje a chama quase se apaga, na vela que vai acabando porque
o tempo a consome…. também nós, em casa sem um futuro definido, sem ânimo e sem
vontade num tempo que também nos corrói por dentro.
Leandro Gonçalves, 12.ºC