Segunda-feira, 4 de
maio de 2020
Querido diário,
Estamos, hoje, no
quinquagésimo dia de quarentena. Cinquenta dias de quarentena! – são estes
números “redondos” que, por norma, nos chamam mais a atenção.
Sei que é um pouco
estranho retirar disto uma característica do ser humano, porém, parece-me que
está, aqui, presente um pouco da forma como tendemos a ser precipitados. Por
exemplo, no contexto que tem vindo a ser mais atual para nós – o coronavírus:
sempre que se atinge, em qualquer que seja o país, marcos de contaminados como
1 000 / 10 000 / 50 000, tendemos a ficar mais abalados, mesmo
que a percentagem de novos infetados seja baixa, e haja outros sinais de
positividade. E em que é que isto se relaciona com a nossa personalidade (mais
ou menos) precipitada? Precipitamo-nos ao dramatizar, focando-nos apenas num
número e ignorando a restante informação que o nos esclareça sobre o mesmo; e,
é claro, a comunicação social faz com que dramatizemos ainda mais, ao usar
esses números como títulos apelativos para as suas notícias.
A nossa precipitação (e
consequente dramatismo, em alguns casos), presente em várias outras situações
do quotidiano, faz-nos, por conseguinte, pensar e realizar ações desinformadas.
Maria João Fontão
(11ºC)
Querido diário,
Hoje foi o dia tão esperado.
Algumas restrições foram removidas e várias lojas abriram. É o início do
desconfinamento social e o regresso progressivo à dita normalidade. Tudo
começou com o pequeno comércio. Daqui a quinze dias abrem outras lojas e as
escolas para os 11º e 12º anos. No início de junho abrem outros comércios mais
exigentes e complicados em termos do cumprimento de normas de segurança, como
os restaurantes.
Todos os cidadãos são obrigados a
usar máscara nos transportes públicos e locais fechados para reduzir a
possibilidade de contágio do coronavírus.
É assim que muitos países estão a
agir, abrindo a economia faseadamente e com regras de segurança individual e
coletiva, sem esquecer que todos têm o dever de recolhimento caso não tenham
“nada de especial” para fazer na rua, como ir às compras, ir trabalhar, ajudar
um familiar ou fazer desporto individual, por exemplo. Ninguém pode esquecer
que esta pandemia ainda não passou e, por isso, é importante ter sempre em
atenção a forma como agimos na sociedade para não colocar ninguém em perigo.
Espero mesmo que esta abertura corra bem e que não tenhamos que "dar um passo atrás".
Marina Peixoto (11ºD)
Este tempo… dia 52
4.Maio.2020
Hoje, recebi, pelo correio, uma compra que fiz há
uns dias. No embrulho, vinha a famosa frase: vai ficar tudo bem! Pois… não gosto desta frase. Pela falta de
verdade que encontro nela. Percebo qual é o seu objectivo. Mas, vai ficar tudo
bem? O que significa isto? Há tanta gente para quem já não está bem. Gente que
perdeu familiares ou amigos e não se pôde despedir deles ou dar um abraço – que,
sabendo a pouco a quem dá, sabe a muito a quem recebe – àqueles que ficam cá.
Gente que perdeu o emprego. Gente que tem de ir pedir ajuda para pôr comida na
mesa para os seus filhos. Gente que tem pais ou filhos no hospital e não pode
estar lá. Gente que, de repente, viu a sua solidão ser real. Pois… Se há coisas
a que será possível dar a volta, haverá outras que não têm volta possível.
E, se calhar, também não gosto desta frase por
causa desta mania tão actual de que tem de estar sempre tudo bem. Não tem! Há
dias em que estamos melhor e outros pior. Há momentos em que o nosso trabalho
viu bons frutos e outros em que correu tudo mal, apesar de todo o nosso esforço.
Será bom que este tempo também nos ajude a perceber isto: não tem de estar
sempre tudo bem. Não quero, com isto, dizer que é bom não estar bem – não é,
mas faz parte da vida.
Que possamos aprender a viver com a nossa
contingência de humanos. Com a nossa vulnerabilidade. Mas sem nunca perder a
esperança. E essa será a palavra. Com tudo o que nos é dado viver, agora ou
noutro momento qualquer, saber que individual e/ou comunitariamente poderemos sempre
fazer e viver melhor.
Margarida Corsino