quinta-feira, 8 de outubro de 2020


Comigo, só…

Só, entre sete bilhões de pessoas,   

Eufóricas, sociais, vivas;                             

Que amam calorosamente os seus               

E andam estressadas e alheias.


Só, mesmo cheia de família,                       

Quer de sangue, quer de coração.              

Ela é próxima, atenta, solidária,                    

É o alicerce e é o chão.


Só, entre uma sociedade                           

Vasta, um mundo barulhento                        

E andante, do qual eu,                                 

Ser sentimental, estou afastado.


Só, desintegrado, isolado,                               

Quase esquecido… mas…                       

Lembrado interesseiramente.                   

Quem me dera ter asas…!


Só, quero existir, viver…                              

(Será pedir muito ser alguém?)                        

…e participar reconhecidamente.               

Deixar de ser um simples ninguém.                                 


Comigo, só, cheio de gente;                    

Silêncio, só, imenso fragor;                     

Desintegrado, só, numa estrutura;                       

Desgostoso, só, apenas brota amor.

                                        Marina Peixoto (12ºD)



Porque a pintura pode ser vista à lupa da literatura...

                 “O Castelo nos Pirenéus” 

                                 René Magritte


Esta pintura, que podemos observar na parte superior do texto, foi elaborada por René Magritte e é apelidada como “O Castelo nos Pirenéus”

A parte intrigante nesta obra de arte, é o facto de poder ser interpretada de diversas maneiras dependendo da visão e perceção da realidade de cada individuo. Para exemplificar, esta pintura pode ser facilmente conectada a Antero de Quental e a certos temas dos seus poemas, sendo eles a angústia existencial e a configuração do ideal, onde a última surge como uma atenuante e um refúgio da primeira.

Teixeira Pascoaes afirma que “O ideal da nuvem é o rochedo”. Com esta firmação e tentando estabelecer uma conexão com Antero de Quental, podemos assumir que, a uma determinada angústia existencial, neste caso da nuvem, corresponderá uma configuração do ideal, ou por outras palavras, um desejo inalcançável.

O Castelo referido encontra-se num rochedo, suspenso por cima de um mar revolto/agitado. Rochedo este que pode ser interpretado como a dura, concreta e pesada adversidade da realidade que surge como um dos opostos do castelo, entendido como o imaginário/sonho, no qual se verifica um conjunto de características plenas e ideais, moldadas por uma determinada angústia existencial. A adversidade na vida pode ou não ser ultrapassada, logo, a meu ver, este rochedo (a adversidade na realidade) pode ser macerado (ultrapassado) até se atingir o sonho (o castelo), isto é, o ideal ou a plenitude.

Para além deste rochedo, o mar agitado também pode ser tido como uma oposição ao castelo (Imaginário/sonho/desejo). Revertendo esta linha de pensamento para uma linguagem Anteriana, o castelo simboliza uma configuração do ideal, criada para suprimir a luta, a angústia e a agonia do mar revolto, ou seja, a triste e frustrante realidade.

Luis Ferreira (12ºB)


“O Castelo nos Pirenéus” (1959), de René Magritte, ilustra um grande rochedo com um castelo no topo, que levita sobre o mar.

No plano de fundo, visualizamos um céu de cor clara coberto de nuvens, calmo e pacífico, que transmite a ideia de paz na altitude, de sonho, leveza e liberdade. Por outro lado, Magritte demonstra-nos, na parte inferior da sua pintura, um mar tenebroso de águas negras, transmissor de negatividade, medo, perigo… Encaminhando-nos, talvez, para um destino fatal!

Entre estas duas realidades contrastantes, não só pela simbologia que transmitem, mas também pelas suas cores e formas, encontra-se o tal rochedo, carregando o castelo para os céus. Possuindo uma estrutura grosseira, baça e angulosa, a rocha de grandes dimensões, é facilmente associada ao mar, a uma realidade pessimista, que se pode contrapor a um otimismo (o céu), à semelhança do dualismo presente em Antero de Quental. Contudo, o pedregulho tenta chegar às nuvens, experienciar a sua realidade, obter aquilo que não tem: ser leve, ser livre, desapegar-se de todos os males da superfície e alcançar o Ideal, assim como o poeta anteriormente referido, o rochedo concebe um Ideal que o libertará do Mal e das angústias terrenas. Pois sim, ser nuvem é o sonho, mas sendo que os sonhos representam sempre algo que não temos, quiçá também as nuvens se queiram transformar em rochedos, ganhar peso e cair à superfície.

Porém, como é tudo isto possível? Tanto a ideia do rochedo se tornar uma nuvem como a da nuvem se tornar rochedo desafiam todas as leis da física, tornando o Ideal uma realidade inalcançável, inconcebível. Resta apenas recorrer às crenças. Será a fé suficiente?

                                                           Rodrigo Gomes (12ºB)