quinta-feira, 17 de dezembro de 2020


Desta vez, deixemo-nos visitar por Alberto Caeiro:

uma perspetiva do quotidiano sob o olhar de Caeiro.



Visão de Alberto Caeiro da atualidade

Meus caros amigos, vendo o Portugal que agora nos rodeia assim como o resto do mundo, fico com saudades do século passado.

Onde estão as florestas de árvores sem fim, os campos verdejantes, o gado e até os animais selvagens que encontrávamos no belo território português?

Que é feito da nossa natureza e da harmonia e calma que lhe estavam adjacentes?

Quando olho ao meu redor, apenas me deparo com esses pedaços de metal aos quais chamam telemóveis e que aparentemente são interessantes o suficiente para as pessoas perderem horas a interagir com esses pequenos ecrãs mágicos.

Na minha altura, as pessoas gastavam o seu tempo uns com os outros em contacto com a natureza. Desta forma, a gente era feliz e deixava que a serenidade que provinha de tudo que era natural nos invadisse e nos proporcionasse uma vida agradável.

Dizei-me vós agora como é que o mundo vive neste turbilhão?

Já ninguém passeia pelas ruas, tudo corre. Já ninguém conversa quando passa por alguém, não entendi muito bem, mas parece que agora se fala sozinho para um objeto misterioso que se coloca nas orelhas. Já ninguém apanha fruta fresca das árvores, preferem ir antes a grandes edifícios onde já está tudo embalado e sem qualquer sabor autêntico. Como é possível a população viver assim?

Pelo que constato, já ninguém sabe apreciar as simples coisas da vida.

Sem pequenos momentos como a degustação de uma maçã acabada de apanhar do pomar, uma caminhada pelo bosque, o sentir da chuva a cair levemente nas faces e o ouvir encantador dos pássaros a chilrear alegremente, como é que alguém consegue dizer o que é a realidade?

Só nestas ocasiões, quando nos deixamos invadir pelos sentidos, é que podemos compreender o que nos rodeia.

Infelizmente, penso que estas gerações de agora não dão a devida atenção à visão, ao paladar, à audição, ao tato e ao olfato. Elas preferem usar o pensamento e, para tal, são constantemente influenciadas pelo mar de informação que lhes é fornecida pelos novos dispositivos digitais. A meu ver, toda a gente está formatada para pensar da mesma maneira e para avaliar os acontecimentos através do pensamento e não da forma certa, que é ao utilizar as sensações.

O que mais me desconsola é ver a forma como tratam a natureza. Será que elas compreendem verdadeiramente a importância que esta tem nas nossas vidas? Vejamos o exemplo da poluição. Para qualquer lado que me vire, encontro este material tão nocivo para o meio ambiente. Aquele ao qual chamam “plástico” e utilizam para fabricar quase todos os objetos que existem, mas que, “ao fim e ao cabo”, não se sabem livrar dele, pois está todo no chão ou nos oceanos.

O meu desejo é que as pessoas encontrem o sentido para as suas vidas e que se apaixonem pela simplicidade dos momentos mais pequenos que, à primeira vista, podem parecer insignificantes, mas que fazem toda a diferença.

Temos de nos recordar que o facto de existirmos já é algo maravilhoso e tudo o que interessa é vivenciarmos o mundo através das sensações.

 Matilde Carvalho (12ºC)




Domingo, 15 de novembro de 2020

 

Em pleno século XXI, mais de cem anos depois da minha morte, cá estou eu, de volta a Lisboa. E não podia encontrar na Terra maior desgosto que este...

Achava eu que, com todas as geringonças deste Mundo moderno, me iria deparar com tanta coisa nova.... Imaginava os meus olhos sorrir, num momento de histeria e felicidade, numa explosão de sensações vívidas, enfim, que falta sentia eu da linda realidade! Mas qual não foi o meu espanto quando me deparei com uma cidade sem movimento, sem uma única alma deambulante. Tentei perceber o que se passava e encontrei meia dúzia de pessoas, todas com uns tapulhos estranhos na cara, o que me deixou ainda mais confuso – como haveria eu de apreender a realidade sem ver os rostos das pessoas, sem ver os seus sorrisos e sem sequer os conseguir ouvir, com aquelas coisas que lhes abafavam a voz? Andei mais algum tempo e vi, dentro de uma loja qualquer, um objeto retangular, onde passavam algumas imagens e se podia ler (passo a citar) “Notícias sobre o vírus”; logo percebi que há doença por aí à solta.

Bem, não podia ter escolhido pior altura para o meu regresso, mas, doenças à parte, já não reconheço a cidade onde vivi. Tudo parece cinzento, nada capta a minha atenção... No meu tempo, não havia melhor coisa do que deitar-me na relva, contemplar o Sol, as montanhas, as flores, enfim, sentir a realidade – nos dias de hoje, quase nem relva há! Só se vê carros, prédios, estradas, tudo a preto e branco (podiam, pelo menos, usar cores mais vivas, para enriquecer a paisagem), tudo igual, tudo sem vida. Como pode esta gente viver sem sentir a espontaneidade da Natureza?

Ah, estes dias de hoje... Mas pronto, lá me vou, que todo este pensamento me traz um maior desgosto ainda. Pode ser que, um dia destes, tudo mude e encontre a minha Lisboa mais parecida com aquela que deixei quando parti.

 

Caeiro

Maria Fontão (12ºC)



Cores

 

Este azul incolor

Que pinta um quadro no meu olhar

Acolhe a terra que eu sou,

Serpenteia o som das gotículas,

Fim do seu próprio fim.

 

Descanso inundado pelo verde,

O verde da paisagem,

Este verde que tinge uns cordões

Que atam um cérebro livre,

Vermelho do pensamento.

 

Mas dói a chama viva.

Ela surge, cresce, alastra, domina

A floresta dos que se deixam queimar

Por um mundo que não é o meu.

 

                                                      Fernão Veloso (12ºC)