Regressámos a casa. Ontem, de um modo diferente.
Para nela permanecer. Porque nos é pedido.
Porque sabemos que faz sentido.
Numa distância que procura fazer-se presença.
A Marina Peixoto, deixando-se tocar por este momento,
deixa-nos uma "nova desabitação",
na continuação da que havia escrito no ano passado.
Aqui ficam.
“Nova Desabitação”
Foram e com medo voltaram
Para ti, livre amparo
Aprisionador e confuso.
Pensavas que já tinhas
Sofrido tudo, mas sabendo
Desconhecidamente, forte
E veloz, ele tem vencido.
Temes o futuro e o tempo
E a paz e a vida e o mundo.
Cegamente permaneces, e,
Com raiva dos inconscientes,
Vês a desgraça e a tristeza.
Desta vez vai ser diferente…
Os que acolhes, miserável,
Cresceram, mudaram, sentiram
Na alma cada fatalidade,
Revoltaram-se… evoluíram!
Isolado e desarmado, luta
Com toda a responsabilidade!
[Abaixo, podemos recordar a primeira parte:]
“Desabitação”
Lar confortável, nosso abrigo
Caloroso, acolhedor, são,
Agora aborrecido, tens
Como nunca outrora tiveste
Companhia frágil e confusa.
Estás com medo, sem saber,
Deste mortífero fantasma,
Receias que te vença, impotente!
O mundo paralisou e tu vês,
Cansado, o peso sufocante
Do tempo eternamente lento.
Já o antigo esplendor colorido
Nasce, brilha e esperançoso
Morre na janela da rua.
“Vai ficar tudo bem!” – desejas,
Exausto desta prisão imunda
Em que inimaginavelmente
Te tornaste, livre amparo
Da agitada vida humana!
Marina Peixoto (12ºD)