segunda-feira, 1 de março de 2021

 

Cada homem é uma ilha1 à procura das suas ilhas afortunadas2

1O Conto da Ilha Desconhecida, de José Saramago

2 Mensagem, de Fernando Pessoa


Uma definição das Ilhas Afortunadas

As Ilhas Afortunadas representam um lugar místico onde D. Sebastião aguarda pacientemente o seu momento para regressar a Portugal. Estas ilhas mágicas encerram o destino dos portugueses e todas as suas preces, pois é este rei que os irá salvar das suas vidas infelizes, da sua acomodação a uma vida terrena normal.

Estas Ilhas simbolizam a esperança personificada de um povo que necessita de sonhar com o regresso do seu salvador para ter um sentido na sua vida, porque, de outra forma, apercebe-se que tudo não passa de uma mera ilusão e ninguém o irá salvar da sua existência acostumada com uma simples felicidade aparente.

 

 

Ilhas Afortunadas da Atualidade

Nos dias que correm, as Ilhas Afortunadas seriam um local onde estivessem presentes, por exemplo, todos os líderes mundiais. Desta forma, poderiam ver o mundo de uma outra perspetiva e iriam, finalmente, compreender o que está de errado na nossa sociedade. Assim, seriam capazes de tomar decisões pelo bem da humanidade e não apenas tendo em conta uma parte específica da mesma. Estes líderes não teriam pressões externas que influenciariam as suas escolhas.

Mas, obviamente, estas Ilhas, tal como as do poema de Fernando Pessoa, não passam de uma mera ilusão para o “povo” se sentir melhor com ele próprio.

É verdade que estes líderes possuem muito poder que pode influenciar o mundo, mas se as pessoas deixarem de lado a sua acomodação e passividade, conseguem trazer grandes mudanças ao planeta.

Não precisamos de um novo rei D. Sebastião que nos salve, pois cada um de nós tem um D. Sebastião dentro de si que pode fazer a diferença na nossa sociedade.

 Matilde Carvalho 12.ºC

 

 

As “Ilhas Afortunadas”... em 2021

 

Em Mensagem, Fernando Pessoa transmitiu-nos a sua ideia das ilhas ‘ideais’, no poema “As Ilhas Afortunadas”. Embora, entretanto, já tenhamos mudado de século, acredito que esta noção de “Ilhas Afortunadas” não esteja totalmente descontextualizada.

Ora, segundo Pessoa, estas misteriosas ilhas, sem existência física, constituem a esperança no regresso de D. Sebastião. E não, não se trata daquele velho mito sebastianista que nos diz que D. Sebastião aparecerá, num dia de nevoeiro, e salvará a Pátria – é uma versão um pouco mais atualizada. Com o passar dos anos, começava a tornar-se impossível que este Rei ainda estivesse vivo, portanto, o mito sebastianista deixou de ter o mesmo significado que o original – continuou de facto, a representar a esperança no regresso de D. Sebastião, mas não enquanto figura física. Assim, os defensores desta versão 2.0 do mito acreditavam que ‘O Desejado’ voltaria, enquanto figura mítica, para reerguer a glória da Pátria anteriormente conquistada através dos Descobrimentos. Edificar-se-ia, deste modo, o Quinto Império, ou seja, o império da verdade e dos bons valores, personificados pela personagem de D. Sebastião.

Tantos anos depois, não considero que esse Quinto Império tenha sido criado – continuamos a viver numa sociedade decadente, formada por pessoas (no geral, é claro) egoístas e materialistas. Assim sendo, a primeira ilha que juntaria ao meu arquipélago das Ilhas Afortunadas seria, precisamente, ‘Quinto Império’. Não seria, também, má ideia incluir neste arquipélago a ilha ‘Anti epidemia’ – acho que esta dispensa explicações. Por último, juntaria a ilha ‘Felicidade’; Pessoa ficaria, certamente, incomodado com esta ilha (porque, segundo o autor, a felicidade humana é passageira e superficial), mas, opiniões pessoanas à parte, a felicidade é um bem essencial – como haveríamos nós de edificar todo um (Quinto) Império se nos sentíssemos tristes e desmotivados?

Mirabolantes ou não, cada um possui desejos e ambições, na base dos quais se constrói um percurso de vida. As Ilhas Afortunadas não são, pois, uma criação da mente de Pessoa. Cada um tem os seus sonhos, o seu… arquipélago privado.

Maria João Fontão, 12.ºC

 

 

...e agora as ilhas numa perspetiva mais intimista…

 

As ilhas Afortunadas para cada um de nós…

 

Segundo o poema “As Ilhas Afortunadas” de Fernando Pessoa, as ilhas representam ao longo de todo o poema um lugar espiritual onde D. Sebastião se encontra e de onde o povo português retira todas as forças necessárias, na esperança de um futuro melhor.

                Tal como no poema, D. Sebastião é um herói para Portugal, assim é o meu avô, o herói para a família. É surpreendente a semelhança entre dois homens de épocas tão distintas, ambos são imortais, pois jamais deixaremos que sejam esquecidos, é sabido que nenhum dos dois vai regressar, no entanto, existe sempre aquele bocadinho de esperança lá no fundo que..., enfim, provavelmente são os homens mais desejados à face da Terra.

                Assim sendo, gostava, se um dia tivesse a oportunidade de visitar as ilhas afortunadas, trazer o meu avô de volta para junto de mim, junto do local a que pertence, para reinar junto à minha avó, uma grande líder, deveras, mas que nunca mais foi a mesma depois da sua ida.

                Um dia nas ilhas afortunadas seria o meu desejo tornado realidade, para poder juntar novamente toda a minha família no mesmo espaço. Parece tão real quando sou uma “criança dormente” e vou a caminho dessa ilha, ... mas perco-me sempre no caminho e acabo por acordar.

                Miss you....

Beatriz Afonso, 12.ºC


 

Vivemos na grande incerteza. Não como aquela que Fernando Pessoa retrata em “Nevoeiro”, mas a incerteza de quando estaremos finalmente livres, livres deste maldito bicho que nos tem enfiado dentro de nossas casas, agarrados a meras tecnologias ao invés de abraçados àqueles que mais amamos. Ah! Quanta saudade tenho do toque dos meus amigos, dos convívios com eles, das saídas, dos jantares de aniversário, de tudo…

Por vezes dou por mim a imaginar o quão diferente seria a minha vida se esta pandemia não tivesse acontecido. Vejo as minhas ilhas afortunadas. Imagino-me em sítios idílicos, rodeada dos meus amigos, de volta de uma grande mesa, às gargalhadas, a viver a melhor fase das nossas vidas. À noite, regresso a casa, cheia de família, todos no jardim a contar histórias já vividas por todos…. Bons sonhos!

Toda esta imaginação devia deixar-me mais contente, pelo menos consigo imaginar momentos onde a pandemia não é a protagonista. Mas não! Foi em 2020 que conheci uma das melhores pessoas que está comigo. Apesar de longe fisicamente, fomo-nos aproximando cada vez mais e mais, e hoje não consigo imaginar a minha vida sem ele. Contudo, se este vírus não tivesse existido, provavelmente não teríamos falado tanto, nem nos teríamos tornado tão próximos. Não quero agradecer à pandemia (não me parece que mereça muito por nos ter feito “reféns”), mas que me trouxe algo de bom, isso trouxe.

Com tudo isto e pensando bem, penso que a minha vida seja a minha verdadeira “Ilha Afortunada”. Sou tão feliz e tão grata pela vida que tenho, pelas pessoas que caminham comigo, por aqueles que estão sempre lá… não tenho nada que me queixar, sou FELIZ! E nesta ilha, ao contrário das de Mensagem, sou livre de tudo, até mesmo de pensar.

Bárbara Silva, 12.ºA