A história contemporânea é marcada por uma forte tensão entre rutura e
continuidade. Ao longo dos últimos cem anos, o mundo assistiu a crises globais,
confrontos ideológicos, à formação e queda de impérios, a experiências
autoritárias e à construção de novos modelos de cooperação e cidadania.
Comparar os diferentes contextos históricos, da primeira metade do
século XX ao mundo atual, permite perceber que as mudanças não ocorreram todas
ao mesmo tempo nem foram, necessariamente, para melhor. Ao mesmo tempo, muitas
estruturas e problemas permaneceram mesmo em épocas de progresso.
Esta reflexão analisa essas mudanças e permanências desde a primeira
metade do século XX, o período da Segunda Guerra Mundial ao início da década de
1980 e o mundo contemporâneo, desde 1990 até à atualidade.
No início do século XX, os impérios europeus dominavam grande parte do
planeta. A Primeira Guerra Mundial destruiu esse equilíbrio, gerando novos
Estados e promovendo a criação da Sociedade das Nações (SDN) que pretendia garantir
a paz.
Nos anos de 1920, os EUA
emergiram como potência económica e tecnológica e vivenciou-se a apreciação da
vida através dos “Roaring Twenties”
que moldaram novas conceções e aproximaram a emancipação feminina. No entanto,
a crise de 1929 (“O crash de Wall Street”) abalou a economia mundial e, apesar
da resistência da democracia, abriu caminho a regimes autoritários como o
Fascismo, o Nazismo e o Estado Novo, em Portugal.
Em 1917, as Revoluções Russas criaram a
primeira alternativa ao capitalismo liberal com a implementação de um regime
comunista de economia planificada. Nos anos seguintes, a URSS (União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas) expandiu a sua influência, tornando-se uma
superpotência no decorrer da Segunda Guerra Mundial. A guerra, devastadora e
“abre-olhos” para a capacidade dos seres humanos em fazer os outros sofrer,
terminou com a criação da ONU, uma estrutura mais eficaz e ambiciosa do que a
SDN, fundada para garantir a paz, a cooperação e os Direitos Humanos.
Após o conflito, o mundo
dividiu-se em dois blocos antagónicos, dando origem à Guerra Fria. Os EUA
lideraram o bloco capitalista, apoiados por alianças como a OTAN e pelo seu
poder económico, científico e militar.
A sua hegemonia baseou-se na força do dólar, utilizado como referência
para ajudar os países afetados pelas guerras mundiais e pelas crises
económicas, desde o Plano Marshall e a OECE, passando pela influência cultural
até ao papel de “polícias do mundo” em conflitos como a Guerra do Vietname e do
Golfo. A URSS liderava o bloco socialista comunista, com regimes alinhados no
Leste da Europa, organizados e aprisionados em torno do Pacto de Varsóvia e do
COMECON. Durante esse período, o mundo ocidental viveu os “Trinta Gloriosos”
(1945-1973), um tempo de crescimento económico, melhoria do bem-estar e
construção do Estado Providência (“Welfare State”). Portugal, contudo,
permaneceu sob a ditadura e mergulhado na Guerra Colonial. Só com o 25 de Abril
de 1974 é que o país iniciou o processo de democratização e descolonização e
uma reaproximação ao mundo, depois de tanto tempo isolado, encetando também o
caminho do desenvolvimento.
Entre os anos 1950 e 1970,
verificou-se a descolonização não só de África como, também e anteriormente, da
Ásia, impulsionando a emergência do Terceiro Mundo. Muitos dos novos Estados,
apesar da independência, mantiveram-se dependentes das grandes potências, o que
deu origem ao Neocolonialismo. A instabilidade política, a pobreza e a fraca
industrialização permaneceram em vários destes países, refletindo uma mudança
incompleta para a democracia plena.
Nos anos 1980, a URSS entrou em
crise. A partir de 1985, Mikhail Gorbatchev implementou reformas como a
Perestroika (reestruturação económica) e a Glasnost (abertura/ transparência
política), na tentativa de salvar o regime. No entanto, as reformas levaram ao
colapso da URSS, à queda do Muro de Berlim e, para alguns, ao fim da Guerra
Fria. A desagregação do bloco soviético revelou desigualdades profundas,
tensões étnicas e falhas no processo de transição para o capitalismo, sobretudo
nos países do leste europeu. Com o fim do bipolarismo, os EUA afirmaram-se como
a única superpotência, surgindo um novo quadro geopolítico unipolar. No
entanto, esta hegemonia começou a ser desafiada por outros países e outros polos
então emergentes.
A partir da década de 1990, presenciou-se o crescimento da União
Europeia, que passou de uma comunidade económica (CEE, Comunidade Económica
Europeia) para um projeto político ambicioso. A cidadania europeia, a livre
circulação e o euro tornaram-se símbolos de unidade na diversidade, embora
tenham surgido dificuldades como: o euroceticismo, desigualdades internas e
tensões entre países membros. Portugal integrou-se neste projeto em 1986, beneficiando
de fundos, modernizações e de uma maior projeção internacional, consolidando
assim o caminho do desenvolvimento.
Ao mesmo tempo, a região da Ásia destacou-se como novo centro de poder
económico. O crescimento dos “Quatro Dragões Asiáticos”, inspirados pelo
“Milagre japonês” desde 1945, e o surgimento da China como potência global,
mudaram o equilíbrio mundial. A abertura económica da China, a integração de
Hong Kong e Macau e a aposta em tecnologia e exportações consolidaram a sua
posição como rival dos EUA. O modelo de “um país, dois sistemas” permitiu
combinar o controlo político do Partido Comunista Chinês a nível interno, com uma economia de mercado, o “socialismo de
mercado”, a nível externo, que
impulsionou o seu desenvolvimento e a sua afirmação.
Após a Guerra Fria, eclodiram
conflitos nos Balcãs, no Médio Oriente e em várias regiões de África. Muitos
destes conflitos tinham raízes históricas, divisões étnicas e interesses
económicos por detrás, revelando que a paz não foi garantida com o fim do
conflito Leste-Oeste.
O início do século XXI trouxe
uma nova fase de globalização, dominada por lógicas neoliberais. As trocas
comerciais aumentaram, as tecnologias de comunicação aproximaram as sociedades
e as economias tornaram-se interdependentes. Porém, este processo gerou novas
desigualdades, precariedade laboral, desafios ambientais, migrações em massa e
fragilidades nas democracias. Portugal, integrado neste sistema global,
beneficiou de investimentos mas também sentiu os efeitos das crises económicas
e da austeridade.
Em suma, as mudanças não
aconteceram todas ao mesmo tempo, nem tiveram os mesmos efeitos em todos os
contextos. A história recente mostra avanços significativos na ciência, nos
direitos, na cooperação internacional, mas também resistências, exclusões e
desequilíbrios que se mantém. Portugal é exemplo disso: passou de império
autoritário a democracia europeia mas enfrenta convulsões, crises e
desigualdades que não desapareceram com a mudança política.
A perspetiva crítica sobre os últimos cem anos obriga-nos a reconhecer
que o progresso não é automático nem linear. Compreender o que mudou e o que
permaneceu ajuda a olhar para o presente com maior responsabilidade e
consciência histórica. A história é feita de escolhas e cabe-nos a nós,
conscientes dos efeitos das mesmas, fazer opções mais justas do que as que, por
vezes, marcaram o passado ou aproveitando os exemplos positivos, para continuar
em frente com maior segurança.
Filipa Silva (12.ºD, CCHLH).