Viver-se é viver, dizer-se é sobreviver.
Assim organizar a nossa vida que ela seja
para os outros o mistério que quem melhor nos conheça apenas nos desconheça de
mais perto que os outros.
Já não trabalhamos recriamo-nos com o
assunto a que estamos condenados.
Vivo mais porque vivo maior.
Vivo sempre no
presente. O futuro, não o conheço. O passado, já o não
tenho.
A única atitude digna de um homem superior é o persistir
tenaz de uma atividade que se reconhece inútil.
A verdade é, portanto, uma ideia com
sensação nossa, sem significado, portanto sem valor, como qualquer outra
sensação nossa.
E tudo o que alegra não sinto.
Ser puro, não para ser nobre, ou para ser
forte, mas para ser si próprio. Quem dá amor perde amor.
Não sei o que quero ou que não quero. Deixei
de saber querer, saber como se quer, de saber as emoções ou pensamentos com que
ordinariamente se conhece que estamos querendo, ou querendo querer.
Ocorrem com um brilho de farol distante
todas as soluções com a imaginação é melhor – o suicídio, a fuga, a renúncia,
os grandes gestos da aristocracia da individualidade, o capa e espada das
existências sem balcão.
Ópio tenho-o eu na alma.
Tudo me cansa, mesmo o que não me cansa. A
minha alegria é tão dolorosa como a minha dor.
Ninguém me quis acreditar, nem por
mentiroso, e não tinha lado com que provasse a minha verdade.
Sê a noite total, torna-te a noite única e
que tudo eu me perca e me esqueça em ti e que os meus sonhos brilhem, estrelas,
no teu corpo de distância e negação.
Mais terrível do que qualquer muro, pus
grades altíssimas a demarcar o jardim do meu ser, de modo que, vendo
perfeitamente os outros, perfeitissimamente eu os excluo e mantenho outros.
A vitalidade recupera e me anima. Os mortos
ficam enterrados. As perdas ficam perdidas.
A ladeira leva ao moinho, mas o esforço não
leva a nada.
O amor farta ou desilude.
Quem outro seria eu se me tivessem dado
carinho do que vem desde o ventre até aos beijos na cara pequena?
Se escrevo o que sinto é porque assim
diminuo a febre que senti.
As coisas sonhadas só têm o lado de cá... Não se lhes pode
ver o outro lado... Não se pode andar à roda delas... O mal das coisas da
vida é que as podemos ir olhando por todos os lados.
As coisas de sonho só têm o lado que vemos...
No fundo o que acontece é que faço dos
outros o meu sonho.